★★★ Crítica: Hello, Édipo da Cia. Veneno do Teatro convida à reflexão sobre poder, castigo e destino

Cia Veneno do Teatro em Hello, Édipo: poder, vigilância e castigo a partir da tragédia grega © Jonatas Marques Divulgação Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Hello, Édipo
★★★

A tragédia de Édipo Rei, criada pelo gênio grego Sófocles (496-406 a.C.), é uma das bases mais profundas do teatro. Vira e mexe, a mesma é revisitada por novas companhias teatrais, que buscam dialogar o texto clássico com o mundo, o tempo e as questões que as rodeiam.

Isso acontece mais uma vez em Hello, Édipo, espetáculo da Cia. Veneno do Teatro, que faz a tragédia grega conversar com o pensamento sobre poder e punição do francês Michel Foucault (1926-1984) e também com a apocalíptica São Paulo contemporânea.

Em Hello, Édipo, a Cia. Veneno do Teatro, sob direção e adaptação dramatúrgica de Bartholomeu de Haro, aborda o texto grego de forma provocativa e une Sófocles a Foucault para explorar temas como poder, castigo, sexualidade e identidade, além de tecer críticas sociais e políticas.

Quem neste mundo e, sobretudo, em uma grande cidade como São Paulo, está livre de algum tipo de controle e castigo constantes? Afinal, o poder parece ter como aliado uma transa com um sistema que se sustenta na constante necessidade de subjugar o outro, no fundo, algo fruto de uma insegurança covarde de quem persiste, diariamente, no erro.

Afinal, o homem é mesmo dotado do livre arbítrio, ou não? O destino de alguns seria inevitavelmente a tragédia, como propõe Sófocles? São questões aterradoras que este espetáculo deixa para o público tentar buscar respostas. Se é que elas existem. Mais filosófico, impossível.

O elenco diverso está entregue e enérgico em cena. José Sampaio, Elen Londero, Silvio Restiffe, Jéssica Marcele, Pedro Henrique Moutinho, Paula Souza Lopez, Tayla Fernandes, Ted O’Rey e Bartholomeu de Haro abraçam a intelectual narrativa com seus corpos vivos, tornando-a mais palatável ao público menos versado em tragédias gregas.

A história é velha conhecida de quem é amante do teatro, mas também é novidade a muitos deste pouco versado mundo atual.

[O parágrafo seguir contém spoiler] Édipo, filho de Laio, rei de Tebas, e da rainha Jocasta, é amaldiçoado pelo oráculo e predestinado a matar seu próprio pai e a casar-se com sua mãe. Para tentar burlar seu destino, foge de casa. No entanto, na estrada, se envolve em uma briga e acaba matando um estranho. Depois, chega a Tebas e resolve o enigma da Esfinge, o que o faz ser reconhecido como herói e casar com a rainha Jocasta. Após anos de prosperidade e aparente paz, uma praga assola a cidade e ele, infortunadamente, descobre a verdade que ignorou: mesmo contra sua vontade, cumpriu a profecia, assassinando seu pai e desposando sua mãe. Ao saber sua real identidade, Édipo cega-se e Jocasta se suicida. Banido de Tebas, ele será até o fim um homem brutalmente marcado pela tragédia.

Um alento em tanta desolação é sonoplastia do espetáculo, assinada por André Omote, Felipe Silotto e Bartholomeu de Haro, que faz a montagem reluzir ao som de Hello, Goodbye dos Beatles e sua magnífica releitura por Milton Nascimento em falsete, enquanto os atores caminham em câmera lenta como guerreiros, na cena que é o momento mais sublime do espetáculo.

Ainda no time criativo J. C. Serroni assina a cenografia, que remete ao Mito da Caverna de Platão, Guilherme Seroni cria uma luz sutil de âmbares e contras azuis, e Telumi Hellen assina um figurino distópico com seus trapos recortados.

Hello, Édipo convida o espectador a refletir sobre a busca pela identidade e como podemos burlar certas estruturas de poder, sempre à espreita. Em uma sociedade que caminha para o mais absoluto controle tecnológico que nos torna reféns de pesadas e viciantes estruturas, criar espaço para a pequena rebelião que é fazer tais tipos de reflexões é um mérito desta arte artesanal crucial chamada teatro.

Hello, Édipo
★★★

Avaliação: Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

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Blog do Arcanjo mostra fotos da peça Hello, Édipo

Hello, Édipo

Ficha técnica

Direção e adaptação dramatúrgica: Bartholomeu de Haro

Atuantes:
José Sampaio
Elen Londero
Silvio Restiffe
Jéssica Marcele
Pedro Henrique Moutinho
Paula Sousa Lopez
Tayla Fernandes
Ted O’Rey
Bartholomeu de Haro

Cenário: J. C. Serroni
Iluminação: Guilherme Bonfanti
Figurinos: Telumi Hellen
Sonoplastia: André Omote, Felipe Silotto e Bartholomeu de Haro

Cenotécnico: Alício Silva
Assistente de Figurino: Natália Munck
Aderecistas: Douglas Vendramini, Mirela Macedo
Operador de Luz: Emerson Fernandes
Operador de Som: Felipe Silotto
Preparação Corporal: Christiane Lopes
Desenho “Death of Oedipus”: Ian de Haro
Fotografia: Jonatas Marques
Design Gráfico, Edição de Imagens e Vídeo: Henrique Mello
Assessoria de Imprensa: Arte Plural

Produtor Executivo: Wemerson Nunes
Assistente de Produção: Marcelo Luis
Apoio Operacional: Fabricio Braghini
Coordenação de Projeto: Elen Londero
Realização: Cia Veneno do Teatro @ciavenenodoteatro

Este projeto foi contemplado pelo EDITAL DE APOIO A PROJETOS DE MÚLTIPLAS LINGUAGENS – 2ª Edição, para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

Serviço

Apresentações:
Duração: 90 minutos

Centro Cultural da Penha – Largo do Rosário, 20 – Penha de França
Dia 25/11 às 17h e 20h
Dia 26/11 às 19h
Gratuito
Teatro Flávio Império – Rua Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaíba
Dias, 28, 29, 30/11, 01/12 às 20h
Dia 03/12 às 19h
Gratuito
SP Escola de Teatro – Praça Franklin Roosevelt, 210 – Centro (Sala Alberto Guzik)
Dia 14/12 às 21h
Dias 15 e 16/12 às 21h e 00h
Dias 17, 18, 19, 20 e 21/12 às 21h

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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