Caramelo é olhar doce e reflexivo sobre mulheres no Oriente Médio | Por Átila Moreno

Nadine Labaki, diretora do filme libanês Caramelo, primeiro longa dirigido por mulher árabe indicado ao Oscar - Foto: Divulgação - Blog do Arcanjo
Nadine Labaki, diretora do filme libanês Caramelo, primeiro longa dirigido por mulher árabe indicado ao Oscar – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo

Por ÁTILA MORENO
@atilaouno

“Se eu sobreviver a isso e tiver a chance de fazer filmes novamente, meu cinema terá mudado para sempre.” A frase é da cineasta afegã Shahrbanoo Sadat, em entrevista à revista The Hollywood Reporter.

A reflexão da diretora, que é a primeira mulher a ter um PhD em cinema no Afeganistão e ocupar cargo de direção da Afghan Film Organisation, chama atenção para a situação das mulheres e da sétima arte no país.

Shahrbanoo Sadat, cineasta afegã - Foto: Divulgação - Blog do Arcanjo
Shahrbanoo Sadat, cineasta afegã – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo

Um cenário que é constantemente abordado por muitas profissionais que se aventuram pelo cinema no Oriente Médio, entre elas a saudita Haifaa al-Mansour, a palestina Annemarie Jacir, as iranianas Samira Makhmalbaf e Marjane Satrapi e Nujoom Al-Ghanem, dos Emirados Árabes.

Primeira diretora árabe no Oscar

Dentre tantas expoentes, vale destacar o trabalho de Nadine Labaki que se tornou a primeira mulher árabe a ser indicada ao Oscar em 2019 pelo filme Cafarnaum na categoria filme estrangeiro. Mas vamos falar do filme que a revelou ao mundo: o longa-metragem Caramelo (2007), em que ela também atua e que no Brasil foi distribuído pela Imovision. Nadine ainda dirigiu um episódio do filme Rio, Eu Te Amo (2014) e o longa Agora Onde Vamos? (2011).

Um Sex and the City com viés do Oriente?

A história se passa em um salão de beleza em Beirute, capital do Líbano. Por ser um ambiente tão convencional para o público feminino, mesmo assim, não espere clichês habituais do senso comum: mulheres fofoqueiras, vingativas e superficiais.

Caramelo traz, justamente, cinco mulheres que se encontram regularmente, e vão refazendo suas vidas, da mesma forma como tentam reconstruir suas imagens.

Layale (Nadine Labaki) é amante de um homem casado, e espera que um dia, ele troque a esposa para ficar com ela. Nisrine é muçulmana e vai se casar, só que não é mais virgem e não sabe como contar isso ao noivo. Rima sente atração por mulheres. Jamale não quer envelhecer. Rose abdicou de sua vida para cuidar da irmã mais velha.

Com uma delicadeza tocante e uma profundidade de tirar o fôlego, Nadine convida o espectador a entrar por portas que, muitas vezes, parecem difíceis e receosas de se abrir.

Caramelo é ambientado em um salão de beleza de Beirute, capital do Líbano, revelando conflitos das mulheres árabes - Foto: Divulgação - Blog do Arcanjo
Caramelo é ambientado em um salão de beleza de Beirute, capital do Líbano, revelando conflitos das mulheres árabes – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo

Mundo masculino visto por elas

Nadine traz também uma visão interessante sobre os homens. Um deles, o personagem do policial, que apesar de expressar um pouco o ideal romântico, vem com uma sutileza singular e apaixonante.

Vemos nele a imagem do homem viril, mas que se desfragmenta quando encontra com Layale. É marcante a cena em que o policial, sentado tomando café, em frente ao salão, fica admirando Layale conversar com aquele outro homem que a faz sofrer. Vendo o seu amor platônico, ele trava um diálogo como se estivesse no telefone conversando com ela. Dizendo tudo que a cabeleireira esperava ouvir do outro.

Por outro lado, não há como não destacar a irmã de Rose, que nos remete a um dos momentos mais cômicos e, ao mesmo tempo, misturado a uma tristeza singular. Uma personagem forte que transita perfeitamente nesta dicotomia. É de apertar o peito ver a velha “louca” andando pelas ruas de Beirute, catando papéis achando que fossem cartas do seu antigo amor.

A trama, apesar de alguns momentos previsíveis, não perde o charme. Caramelo, realmente, é aquele doce deleite de se assistir com alma levemente aberta, sem deixar de ser reflexivo.

Caramelo
(Líbano, 2007, 95 min)
Direção: Nadine Labaki
Roteiro: Nadine Labaki e Rodney El Haddad
Elenco: Nadine Labaki, Adel Karam, Yasmine Elmasri, Joanna Moukarzel, Gisèle Aouad e Sihame Haddad.
Direção: Nadine Labaki
Disponível na Reserva Imovision

*Átila Moreno é jornalista e apaixonado por cultura, filmes, séries e teatro. É diretor do site atilaouno.com.br e cofundador do canal Mooveola. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pelo UNI-BH, é pós-graduado em Produção e Crítica Cultural pela PUC-Minas. Colabora com o Blog do Arcanjo desde 2012.
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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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