O Canto de Gregório coloca o homem em xeque
Por Miguel Arcanjo Prado
As reflexões acerca da índole natural do homem sempre atiçaram pensadores ao longo do tempo. E o cerne da obra O Canto de Gregório, que o Grupo Magiluth encena na Funarte de São Paulo, é exatamente este: o que é ser um homem bom?
O texto de Paulo Santoro, montado originalmente há oito anos por Antunes Filho e seu CPT (Centro de Pesquisa Teatral) ganha fôlego novo com os meninos de Pernambuco, sob direção de Pedro Vilela.
Sai Ariêta Correa, revelada como Gregório em 2004, e entra Pedro Wagner na pele do personagem atormentado pelo fato de ser acusado de ter assassinado um homem.
De ares que vêm de Kafka, a montagem mostra um homem que coloca seus princípios no divã. Pedro Wagner dá a seu Gregório um ar de desespero sem fim.
O cenário branco, assim como os figurinos na mesma cor do trio que faz embate a Gregório, este vestido em tom escuro, ajudam a dar à obra um ar inóspito e árido.
Afinal, quando os princípios norteadores se esvaem é mesmo difícil encontrar alguma certeza.
Vilela acerta ao fazer com que a plateia entre dentro dos devaneios e participe do julgamento do personagem, suspeito de ter cometido um assassinato.
Erivaldo Oliveira, Lucas Torres e Giordano Castro compõem o trio que ora afaga, ora atormenta Gregório, todos com entrega perceptível à obra. Estão intensos e presentes no palco, sobretudo nos fartos momentos de deboche.
Apesar da unidade do grupo, Giordano acaba por se destacar com sua presença cênica e charme. Um dos momentos em que chama a atenção sobre si é quando incorpora Buda, para deleite do público. Giordano dá leveza ao texto, servindo muitas vezes de alívio e respiro que a plateia busca diante do peso de tantos questionamentos.
Apesar de ainda se manter soturna e agonizante, os meninos do Magiluth trazem para a obra o frescor que só eles têm. Mesmo com questões existencialistas aterradoras, deixam tal agonia sob uma fresca brisa artística que vem do Recife.
O Canto de Gregório
Avaliação: Muito bom
Quando: sábado, às 21h. Até 28/7/2012
Onde: Funarte (al. Nothmann, 1.058, Campos Elíseos, Metrô Marechal, São Paulo, tel. 0/xx/3662-5177)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação: 18 anos
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