Viva Zélia Gattai!

Por Miguel Arcanjo Prado

O dia 2 de julho sempre teve um significado forte para mim: durante toda minha adolescência e começo da juventude, foi dia de celebrar o aniversário de minha madrinha do coração, Zélia Gattai.

Zélia Gattai – Foto: Fund. Casa de Jorge Amado/Divulgação

Além de telefonar, sempre mandava carta com meus parabéns. E ela sempre respondia com todo carinho do mundo.

Lembro-me que, menino, exibia orgulhoso na escola as respostas vindas da famosa casa no alto da colina no bairro Rio Vermelho, em Salvador, onde ela viveu por décadas ao lado de seu marido querido, Jorge Amado.

Jamais vou me esquecer do dia em que, no palco do Palácio das Artes, em BH, li uma poesia que havia feito para ela.

E o melhor, com minha amada madrinha à minha frente, ali no tablado. Coração tremendo de orgulho e de felicidade. Paloma Jorge Amado, Gabriel Prado e Marcelo Gonçalves, outro aniversariante neste 2 de julho, se lembram bem deste dia que ficou na memória.

Se não tivesse nos deixado para ficar com seu amor em 2008, dona Zélia completaria hoje 96 anos.

A menina atrevida, filha do casal de imigrantes italianos dona Angelina e seu Ernesto, teimou em viver. Sempre linda e incrivelmente jovem. Ela manteve a mesma carinha de menina caçula durante toda a longa vida.

Sofri um bocado quando ela foi embora. Até porque, na condição de jornalista da Ilustrada da versão on-line da Folha, tive de cobrir cada etapa de sua internação. Lembro que escrevi com lágrimas nos olhos seu obituário.

Mas, hoje não é dia de tristeza. E sim de alegria. Dia de celebrar Zélia Gattai. Afinal, minha madrinha tão querida me deixou algo (e para todo mundo, em seus fabulosos livros) que ninguém vai me tirar jamais: saber que todo mundo é apenas gente. Com ela, aprendi que a beleza da vida mora na simplicidade e na falta de deslumbre.

Ela praticou isso até o último dia de sua vida. Logo ela, amiga de gente como Neruda, Sartre e Picasso, só para ficar em três exemplos, foi a pessoa que menos se importou com título, com pompa. Por isso foi e é tão querida.

Viva Zélia.

PS. Minha amiga Paloma Jorge Amado, que é a cara da mãe, compartilhou hoje uma linda foto de Dona Zélia com ela bebê, no colo. Aí está:

Se você não sabe direito quem é Zélia Gattai, você pode começar a descobrir, lendo o livro Anarquistas, Graças a Deus, que você encontra fácil em qualquer boa biblioteca pública deste Brasil.

 

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