A Origem do Mundo tem fortes aplausos para Luisa Micheletti e Julia Tavares no Sesc Ipiranga
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Comédia tem direção de Maria Helena Chira e desmistifica o órgão genital da mulher da visão do patriarcado
Luisa Micheletti e Julia Tavares foram fortemente aplaudidas no Teatro Mínimo do Sesc Ipiranga na sessão para convidados da peça A Origem do Mundo, que estreia para o público nesta sexta, 14 de abril. Sob direção de Maria Helena Chira, a peça conta com dramaturgia das duas atrizes a partir do livro A Origem do Mundo – Uma História Cultural da Vagina ou a Vulva vs. o Patriarcado, lançado pela sueca Liv Strömquist em 2014 e editado no Brasil em 2018 pela Companhia das Letras — fartamente ilustrada, a obra já foi editada em mais de 25 países e teve 100 mil exemplares vendidos em todo o mundo.
Da livraria para o palco
Foi Luisa, conhecida do grande público por apresentar programas na MTV Brasil e Multishow, quem teve a ideia de montar a peça. Tudo começou quando, de férias, em 2019, viu o tal livro em destaque em uma livraria. Não teve dúvidas: comprou na hora. Entretanto, só conseguiu ler com calma o livro durante o confinamento da pandemia, e ficou fascinada.
“De cara eu já pensei que precisava conseguir os direitos para adaptar ao teatro”, conta a atriz ao Blog do Arcanjo.
Luisa correu atrás para concretizar o sonho de transformar o livro em peça e conseguiu os direitos. “Não queria um solo”, revela, ao explicar por que convocou a amiga Julia Tavares para ser sua dupla em cena. Ambas encontraram no texto coisas que queriam dizer ao mundo.
Quebrando mitos
Assim como agora faz a peça, o livro desmistifica o órgão genital feminino, mostrando a perseguição que o mesmo sofreu ao longo da história e que resultou na opressão da mulher na sociedade patriarcal.
Por que não falamos de vulva ou vagina? Por que o órgão da mulher não pode ser representado? Por que a ciência demorou tanto tempo para estudá-lo? A quem interessa que a mulher tenha vergonha ou ignore uma parte de seu próprio corpo?
As perguntas pairam no espetáculo, que aborda a temática feminista sem qualquer tipo de “textão”, mas com leveza e, principalmente, bom teatro, com duas atrizes jogando em cena dirigidas por uma mulher atenta ao casamento perfeito entre forma e conteúdo.
Ironia aguçada
Julia, atriz com forte talento cômico que a levou a ser roteirista do Porta dos Fundos, adorou o texto logo de cara. “O livro tem uma ironia muito grande”, conta. Durante muito tempo, Luisa e Julia se debruçaram sobre a obra, para encontrar o tom certo dessa dramaturgia.
Olhar feminista
E quem veio dar a condução no caminho mais interessante para essa história ser contada nos palcos foi Maria Helena Chira, que assina sua primeira direção profissional nesta peça. “Eu já conhecia o livro e adorei o convite, pois eu queria falar sobre isso como mulher feminista que sou”, diz.
“A peça tem jogo, brincadeira, forjarmos nós mesmas, as duas atrizes, numa situação”, adianta Luisa, lembrando que Chira construiu uma mistura de estilos teatrais, quebrando a quarta parede e fazendo as atrizes muitas vezes falarem diretamente ao público, mas sem deixar de jogarem entre elas o tempo todo.
Atmosfera pop
A leveza com que o livro aborda a temática se repete no palco, com fartas referências, que vão do HQ ao teatro musical, trazendo uma atmosfera pop à montagem.
O público de A Origem do Mundo vê duas mulheres livres em cena.
“Quando eu era criança, gostava de contar piada e fazer graça, mas isso não era bem visto. Porque ser engraçado é ser livre, e ser livre é visto como coisa de menino. Essa peça está aí para mostrar justamente que não dá mais para pensar assim”, avisa Julia.
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O livro traz algo muito novo. É como um ‘upload’ de consciência histórica feito em nível social por meio da arte, que sempre aponta caminhos. Como artistas, também estamos aqui para falar do nosso tempo e poder abrir novas trilhas de pensamento e de existência. Queremos furar bolhas, falar não só para as mulheres, porque isso é algo urgente. No Brasil e no mundo, precisamos criar essas pontes de diálogo, e o humor é a melhor forma de fazer isso, porque podemos dizer coisas duríssimas e divertir ao mesmo tempo. Ninguém quer sair de casa só para apanhar”
Luisa Micheletti
atriz e dramaturga de A Origem do Mundo
Claro que um homem pode rir disso, mesmo que não tenha como se identificar. Mas ser representada nesse lugar é muito mais importante para a mulher, porque deixamos de ser representadas durante muito tempo. Veja a dificuldade de se achar dados sobre a vulva e o tempo em que o clitóris ficou perdido no mundo.”
Julia Tavares
atriz e dramaturga de A Origem do Mundo
Quando entrei no processo, o texto delas já estava bem adaptado, mas mexemos em muitas coisas. Esse é o tipo de dramaturgia que não se encerra nunca. A lógica é essa, porque se trata de algo novo contar uma história como essa. O texto é muito vivo, se ajusta ao discurso conforme tudo acontece. O livro tem essa estrutura de informar, de dar os dados em meio à coisa sarcástica, em meio a momentos de porrada. O misto das duas coisas será pontual pra que as pessoas voltem para casa e pensem mais profundamente sobre o que viram.”
Maria Helena Chira
diretora de A Origem do Mundo
A Origem do Mundo no Sesc Ipiranga: Blog do Arcanjo mostra quem já aplaudiu a comédia inteligente sobre o órgão feminino
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A Origem do Mundo
FICHA TÉCNICA:
A Origem do Mundo – Espetáculo baseado na HQ de Liv Strömquist
Dramaturgia e Atuação: Julia Tavares e Luisa Micheletti
Direção: Maria Helena Chira
Cenário e Figurinos: Cássio Brasil
Iluminação: Gabriele Souza
Trilha sonora: Nana Rizinni
Letras das paródias: Julia Tavares e Luisa Micheletti
Provocadoras do processo: Eme Barbassa e Thaís Medeiros
Direção de Produção: Maria Helena Chira
Produção Executiva: Claus Lehmann
Assessoria de Imprensa: Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo
Idealização: Luisa Micheletti
Serviço:
A Origem do Mundo
SESC Ipiranga – Teatro Mínimo
Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga, São Paulo – SP
Classificação indicativa: 16 anos
Lotação: 30 lugares
Período: 14 de abril a 21 de maio de 2023
Sessões às sextas-feiras, sábados e domingos, com horários variáveis, de 18h30 às 21h30. Para confirmar a grade de dias e horários, acesse: sescsp.org.br/programacao/a-origem-do-mundo/
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Foi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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