★★★★★ Crítica: O Bem Amado Musicado valoriza texto magnífico de Dias Gomes em diálogo com Brasil atual no Festival de Curitiba
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
ENVIADO ESPECIAL AO FESTIVAL DE CURITIBA*
João Schelbauer é um jovem futuro jornalista, estudante da Universidade Positivo, em Curitiba, no Paraná. Acompanhado de sua mãe, que foi ao teatro pela primeira vez, ele assistiu à O Bem Amado Musicado, com Cassio Scapin e grande elenco sob direção de Ricardo Grasson no Teatro Guaíra, o Guairão, completamente lotado. Cobrindo o Festival de Curitiba pelo segundo ano consecutivo como estagiário e repórter convidado pelo Blog do Arcanjo, ele escreveu uma pertinente análise sobre a montagem do texto icônico do grande dramaturgo baiano Dias Gomes. Leia com toda a calma do mundo.
O Bem Amado Musicado
Por JOÃO SCHELBAUER
Especial para o Blog do Arcanjo
★★★★★
O Bem Amado Musicado
Avaliação: Ótimo
A magnífica peça O Bem Amado Musicado não poderia deixar o Festival de Curitiba passar vontade. Assim, lotou duas sessões no Teatro Guaíra, o Guairão, encantando mais de 4.000 pessoas.
A crítica política proposta pela peça demonstra o quão importante é a política e o quão letal ela pode se tornar, se utilizada única e exclusivamente para o bem próprio.
O maior festival de artes cênicas da América Latina não poderia deixar de prestigiar a única montagem de um texto de Dias Gomes no centenário de um dos maiores dramaturgos do Brasil, com O Bem Amado, escrito em 1962.
Quem conhece as obras do autor sabe que a obra fantástica de Dias Gomes que já foi adaptada para telenovela pela Globo em 1973 com Paulo Gracindo no papel-título, e depois virou seriado e até mesmo filme.
A obra relata a vida típica da corrupção brasileira, com pitadas de humor, mas tratando de assunto sério.
Cassio Scapin protagoniza a peça na pele de Odorico Paraguaçu, que no decorrer da montagem torna-se prefeito com a promessa de construir um cemitério na pequena cidade de Sucupira, a cidade fictícia da peça, mas que é igual a muitas tantas Brasil afora.
Demonstrando constantemente a crítica que o autor faz ao modelo de aplicação da política do Brasil, a obra aborda o falso moralismo, traição e machismo, que são alguns dos aspectos mais perceptíveis na peça.
Além, é claro, da corrupção no poder público, fato que move a peça do inicio ao fim.
Visto que o cemitério erguido por Odorico não era tão útil quanto parecia, e ele precisava fazer com que sua obra fosse vista como uma obra indispensável para “o populismo”.
A belíssima peça, a pesar de escrita no século passado, é tão atual que poderia ter sido escrita no ano passado, sem nenhuma percepção temporal, o que mostra que trata-se de um texto clássico e universal.
A irreverência e a ironia proposta pelo musical eram perceptíveis pelo público, que seguidamente interrompia os artistas para expressar a legitimidade do que estavam vendo: isso se dava por meio das calorosas palmas.
Outra crítica aclamada pelo público é quando o padre (autoridade religiosa do musical) é subornado a fazer o desejo do prefeito Odorico, para sua satisfação.
O padre, porém, se nega, e enfatiza que quando se trata de tomar partido em uma disputa, qualquer que seja, para o bem do povo, a Igreja deve rezar e não tomar partido nenhum.
Se você assistir à peça hoje, certamente pensará que ela teve adaptações para ser apresentada nos dias atuais, para criticar um formato de política e discurso bem recente, mas não.
Quem deixa isso claro ao final da peça é Cassio Scapin, que interrompeu os aplausos enérgicos da plateia para explicar que as únicas alterações feitas na peça foram as magnificas músicas de Zeca Baleiro e Newton Moreno, para abrilhantar ainda mais a obra de Dias Gomes.
Faço somente uma ressalva: se Dias Gomes estivesse aqui para escrever, teria muito conteúdo para uma continuação do “O Bem Amado”, com frases e atitudes que já estão até prontas, vivências dos últimos anos e inclusive televisionadas, contendo conteúdos machistas, corruptos e com a interferência da Igreja, assemelhando-se mesmo a uma de suas peças de teatro.
Oxalá pudéssemos dizer que essa história é mais uma obra dele e que ao final se acendessem as luzes e todos aplaudissem a crítica que viram, mas desse peça da vida somos apenas marionetes.
João Schelbauer é estudante do curso de Jornalismo pela Universidade Positivo-UP. Nascido em 2000 em Mafra, Santa Catarina, e criado em Rio Negro, no Paraná, mora em Curitiba desde 2020. No jornalismo, desenvolve e participa de projetos acadêmicos ligados principalmente à cultura, política e causas sociais. Atualmente, atua também como bancário no Banco Bradesco. Tendo em vista a multidisciplinaridade exigida pelo mercado de trabalho, busca sempre estar inserido em cenários diversificados de atuação. Atua na Rede Teia e UP no Festival, sob supervisão da jornalista Katia Brembatti. @joaoschelbauer4
O BEM AMADO MUSICADO
FICHA TÉCNICA
Velloni Produções Artísticas @obemamadomusicado e @velloni.producoes
Elenco: Cassio Scapin, Marco França, Eduardo Semerjian, Rebeca Jamir, Luciana Ramanzini, Kátia Daher, Ando Camargo, Heitor Garcia, Magno Argolo e Roquildes Júnior. Músicos: Marco França (piano, clarinete, violões, lira e percussão), Bruno Menegatti (violões e rabeca), Daniel Warschauer (sanfona), Roquildes Júnior (percussão). Autor: Dias Gomes. Direção: Ricardo Grasson. Produção: Rodrigo Velloni. Letras e Músicas: Zeca Baleiro e Newton Moreno. Arranjos: Zeca Baleiro e Marco França. Direção Musical e Música Original (Instrumental): Marco França. Cenário: Chris Aizner. Desenho de Luz: Cesar Pivetti. Figurino: Fábio Namatame. Direção de Movimento e Coreografia: Katia Barros e Tutu Morasi. Designer Gráfico e ilustrações: Ricardo Cammarota. Fotografia: Ronaldo Gutierrez. Preparação Vocal: Marco França. Visagismo: Alisson Rodrigues. Adereços: Kleber Montanheiro. Diretor Assistente: Pedro Arrais. Assistente de. Direção: Heitor Garcia. Designer de Som: Fernando Wada. Operador de Som: Lucas Onodera. Direção de Palco: Jones de Souza. Camareira: Consuelo Campos. Contrarregra: Eduardo Portella. Assistente de Luz e Operador: Rodrigo Pivetti. Microfonista: Ana Mendes. Cenotécnico: Alicio Silva. Produção Executiva: Swan Prado. Assistente de Produção: Adriana Souza. Redes Sociais e Assistente de Designer Gráfico: Daniela Souza. Assessoria de Imprensa: Pombo Correio. Assessoria Jurídica: Martha Macruz de Sá e Vinícius Precioso. Gestão Financeira: Vanessa Velloni. Idealização: Ricardo Grasson e Cassio Scapin. Administração: Velloni Produções Artisticas. Realização: Sesc SP
*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Foi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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