Crítica | Extraordinário, show Novas Pagus é joia rara na cultura

Por MARCIO TITO
@marciotitop
Especial para o Blog do Arcanjo
Novas Pagus, o extraordinário show das artistas Anná, Maíra Baldaia e Azzula, celebra os 100 anos de história, brasilidade, vanguarda e memória da Semana de Arte Moderna de 1922. Apresentando um trio de artistas altamente técnicas e singulares, com discursos refinados e afinados, canto, arte e política se conectam com o que há de mais urgente nessa hora.
Fez apresentação única, e há de voltar, assim esperamos, na SP Escola de Teatro (sede Roosevelt). Importante dizer que expressiva parte do mérito vai para Miguel Arcanjo Prado e Rodrigo Barros que, no contexto da escola, que já hospedou montagens premiadas, enxergaram também, com Ivam Cabral e Elba Kriss, um espaço acústico e animado para arejar o circuito comercial “tradicional” da capital.
A equipe entregou um trabalho que é a cara da Praça Roosevelt — mas que também seria bem-vindo (e necessário) em qualquer outro espaço de shows e arte da capital. Embora eu seja filho da casa, tendo circulado tanto pela SPET quanto pelo Satyros, acho sincero dizer que nunca havia enxergado ali essa possibilidade e fiquei feliz com o acabamento, a condução e a execução do trabalho.

Anná: carisma e camadas
Jovens e veteranos e veteranas têm nova casa nesse espaço que parece ganhar nova dimensão quando a música começa! Parte técnica, curadoria e público cocriador fizeram parte dos ápices da performance, mas cito com destaque a inusitada Anná, versátil, elegante e carismática. Sua voz, seu jeito, e sua garganta muito bem lapidada, com extensão ainda não apresentada por completo, não raro, puxa o freio e, sem medo, nos entrega uma deliciosa interpretação cheia de camadas. Essa complexidade, que é também uma das unidades de seu carisma, passa rasteira no virtuosismo que, embora esteja potencialmente colocado, não é o ponto de apoio da performance (que busca e conquista outros níveis de vínculo com o público).
Anná interrompe agudos e empresta força às entonações, caras e bocas e ritmos; e isto também transforma sua presença em um depoimento de consciência e raríssima segurança no palco. Assim, numa obstinada intenção de encontro e troca, tornando o palco também uma tribuna, o que está presente e defendido pelo trio é o contrato final entre artistas e público: um desejo de mudança e reforma e uma arte capaz de tocar com beleza e garra o que nos interessa reaver pelo amor.
Maíra Baldaia e Azulla, embora postumamente citadas nesse texto rápido e despretensioso, são também duas chamas capazes de tornar incêndio o coração de quem vê. Aplaudidas em cena aberta, claras em suas evocações e com radicalidades bastante singulares, sustentam com fôlego, do começo ao fim, a energia transcendental que resignificou o já significativo espaço da SP Escola de Teatro!
Idealizado por Ivam Cabral, dirigido por Miguel Arcanjo Prado e produzido por Elba Kriss e Rodrigos Barros, Novas Pagus é joia rara, rara, rara…
*Marcio Tito Pellegrini Trigo é ator, dramaturgo e crítico de arte. É editor da plataforma digital Deus Ateu.

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O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado é mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação Social pela UFMG e crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Dirige o Blog do Arcanjo e o Prêmio Arcanjo. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e faz o Podcast do Arcanjo. Está entre os melhores jornalistas de Cultura do Brasil pelo Prêmio Comunique-se e Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Contigo, Superinteressante, Band, Gazeta, UOL, Uma, Rede TV!, TV UFMG e O Pasquim 21. É jurado das premiações Prêmio Arcanjo de Cultura, Melhores do Ano Blog do Arcanjo, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Digital, Melhores do Ano Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. É vencedor dos Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã e Prêmio África Brasil. Foto: Edson Lopes Jr.
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