Crítica: Supla e João Suplicy mostram que o rock’n’roll anda bem vivo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
O ano já está no fim. E todos estamos exaustos, isso é fato. Mas, também é fato que ainda há tempos para constatações que são um verdadeiro alento, como a que este jornalista e crítico chegou na última sexta (17), na casa de shows Audio, em São Paulo, ao apreciar o show dos irmãos Supla e João Suplicy, os Brothers of Brazil, e o posterior show de Supla com sua virtuosa banda: o rock’n’roll ainda está bem vivo. E isso acontece a despeito da predominância de outros estilos musicais mais algoritmados para as atuais paradas digitais de sucesso.
O que Supla e João Suplicy provam é que ainda há espaço para a resistência do velho rock e seu encontro com um público que ainda faz questão de expor seus ouvidos a notas e decibéis não tão programados previamente assim. E a rebeldia com sua constante contestação ao sistema sempre foi o lugar de excelência do rock, e de sua eterna fonte de juventude, como o novo disco Suplaego deixa evidente. Os irmãos visitam o rock com propriedade, bebendo da exuberante fonte chamada música britânica entre 1960 e 1990. E boas referências não faltam aos dois rapazes.
Ao navegarem com tamanha naturalidade pelas águas roqueiras, Supla e João fazem o rock conversar com a brasilidade que lhes é intríseca, recriando o estilo à brasileira, dialogando com nossos temas e ritmos e até mesmo com seu progenitor — a participação do pai dos artistas, o político Eduardo Suplicy, foi ponto alto e enternecedor do show.
E é preciso aqui dizer que ambos são exímios músicos, tanto João no violão/guitarra quanto Supla em sua bateria implacável e bem ritmada. Eles também seguram com propriedade interessantes arranjos vocais, que mostram que o rock também é terreno de ensaio e compenetrada dedicação.
Se João é uma espécie de roqueiro bom moço bossa nova, o que lhe confere charme especial, Supla é uma intensa explosão. No palco, Supla não duvida em momento algum. É só uma plena certeza que faz levantar até a mais apática das plateias de jovens contemporâneos que precisam aprender a se mexer diante de um rock garage.
Ao renovar seu público, Supla dá um tapa na cara dos maldosos que insistem em tratá-lo como uma caricatura. Afinal, Supla é um rock star que se mantém no tempo eternamente jovem, daqueles que sabem muito bem o que significa ser rock’n’roll, no palco e na vida, baby.
Supla em Suplaego, e Brothers of Brazil, com Supla e João Suplicy
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Foi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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