Ícone homoerótico, fotógrafo Alair Gomes inspira novas gerações em seu centenário
Por MOISÉS BORGES*
@moiborges
Alair Gomes é desses seres múltiplos que transitam por diversas áreas do conhecimento, criando diálogos entre elas, e é difícil sintetizar uma pessoa como ele. Reconhecido por seu trabalho com a fotografia homoerótica de corpos masculinos nas décadas de 1970 e 1980, antes trabalhou como crítico literário, professor de física e matemática, e também foi autodidata em filosofia, estética e história da arte, biologia e psicologia. Se ainda estivesse por aqui, completaria centenário em 21 de dezembro de 2021. A efeméride merece uma análise de seu legado e também a apresentação de alguns trabalhos contemporâneos que seguem seus passos, como FLSH MAG, Higor Nery Fotografia, Projeto Individual, The Lonely Project by Ricardo Rico e André Medeiros Martins.
*Colaboração para o Blog do Arcanjo
Alair Gomes foi um amálgama de conhecimento e sensibilidade
Nascido em dezembro de 1921 na cidade de Valença, mudou ainda cedo para a capital, Rio de Janeiro. Formou-se em engenharia civil e eletrônica em 1944, abandonando a profissão em 1948 para se dedicar aos seus estudos autônomos e suas produções artísticas, chegando a lecionar Filosofia na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e participar de outros eventos acadêmicos. Em 1946, Alair criou juntamente com o poeta Marcos Konder Reis a revista literária Magog que, segundo Antônio Cândido, um dos maiores críticos literários do Brasil, era uma das melhores revistas da época.
Aos 33 anos Alair Gomes deu início à escrita dos seus Journals, posteriormente compilados como Intimate Writings, um diário escrito majoritariamente em inglês, desbravando literariamente em detalhes os encontros íntimos com seus amantes e seus amores.
Na década de 1970 e 1980 Alair tinha, de seu apartamento, uma vista privilegiada da praia de Ipanema, em que conseguia facilmente avistar o concorrido espaço entre os postos 8 e 9, em uma época na qual Leila Diniz exibir sua barriga de grávida, ou Fernando Gabeira, na volta do exílio, usar uma sunga de crochê eram tabus enormes.
E foi dos fundos desse apartamento, à distância, como bom voyeur, que Alair começou a fotografar as nuances dos corpos masculinos, que ali transitavam e interagiam, que se exercitavam e se exibiam naquele paraíso tropical, para então partir para ensaios mais íntimos e pessoais, com modelos profissionais ou não, e sem o lado indiscreto do voyeurismo, mas sempre com teor homoerótico. E não podemos esquecer que durante esses anos a ditadura militar era ferrenha com este tipo de conteúdo.
Certamente, seus anos de estudos e de dedicação em vários campos do conhecimento e um certo prazer no voyeurismo o fizeram se tornar um dos maiores ícones do nu masculino na fotografia e inspirar toda uma nova geração de fotógrafos, sendo referência para qualquer um que se aventure nestas veredas.
Alair Gomes inspira novas gerações de fotógrafos do corpo masculino
Com uma obra tão pungente, Alair Gomes é referência a qualquer fotógrafo que trate da sensualidade do corpo masculino no Brasil. Não custa lembrar uma entrevista ao Blog do Arcanjo sobre a revista digital FLSH MAG, criada pelos fotógrafos João Maciel e Rafael Medina, e que tem a influência de Alair Gomes em seus trabalhos. A trajetória do fotógrafo também foi visitada na peça Alair, com o ator Edwin Luisi como protagonista. Conheça trabalhos da nova geração inspirados pelo voyeur de Ipanema, como a FLSH MAG, Higor Nery Fotografia, Projeto Individual, The Lonely Project by Ricardo Rico e André Medeiros Martins.
Moisés Borges é licenciado em Inglês pela Faculdade de Letras da UFMG e além de educador e amante de línguas, trabalha como freelancer com escritas, revisões, traduções, transcrições e todo o leque de possibilidades que um beletrista possa atuar. Colabora com o Blog do Arcanjo desde 2021.
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Foi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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