O Retrato do Bob: Paulo Cruz, um ator em constante experimentação

Por Miguel Arcanjo Prado
Foto de Bob Sousa

Quase três décadas antes de ser a estrela da peça Bichado, o menino Paulo Cruz era espoleta. Na terceira série primária, escrevia, dirigia e atuava nas peças infantis de sua escola, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, sua terra natal.

Na adolescência, descobriu outra vocação: cantar. Criou uma banda de rock e, em paralelo, entrou para o coral cênico da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Foi aí que a paixão da velha infância voltou.

— Foi no coral que relembrei como era bom estar no palco.

Logo se enfiou em todos os workshops de teatro possíveis. Mas, na hora do vestibular, acabou optando por jornalismo. Fez só até o terceiro ano na Faculdade Cásper Líbero. Hora em que resolveu encarar a vocação e se matriculou na escola de teatro Indac, em São Paulo.

Sua primeira peça profissional foi em 2005, Sete Contra Tebas, dirigida por Inês Aranha. Dois anos depois, fez a websérie Zona Incerta, sucesso da revista Superinteressante. Interpretava o cientista Miro Bittencourt. Seu trabalho foi tão convincente que, na época, o senador Arthur Virgílio fez discurso em Brasília contra seu personagem fictício, achando que tudo era real. Ponto para o ator.

Paulo também dá seus primeiros passos no cinema. Fez o curta Amor Caliente, de Rodrigo Diaz Diaz. E agora, ao lado de Elton Takii, fez a preparação de atores do filme Corações Sujos, dirigido Vicente Amorim, que estreia neste segundo semestre.

Com Núcleo Teatro XPTO, viajou boa parte do Brasil com a peça Na Ponta da Língua. Foi em uma dessas viagens que descobriu que o Núcleo Experimental estava selecionando atores para a peça Bichado, sucesso do primeiro semestre nos palcos paulistanos que encerra temporada nesta segunda (6).

—Estava apresentando espetáculo em Bataguaçu, no Mato Grosso do Sul, e viajei 14 horas de ônibus até São Paulo só para fazer o teste.

Foi escolhido pelo diretor Zé Henrique de Paula para viver o perturbado desertor da Guerra do Golfo Peter Evans, que acaba provocando uma revolução na vida da garçonete Agnes (Einat Falbel), no texto do norte-americano Tracy Letts.

— Adoro teoria da conspiração e o personagem traz um monte de dados reais em sua fala. Isso até me assustou um pouco, mas depois ele me abriu para um monte de coisas interessantes.

Assim como o personagem, há dois anos, Paulo Cruz está sem endereço certo. Vai vivendo o que o teatro lhe proporciona, sempre com a ajuda dos fieis amigos.

— Sou muito solitário. Gosto de ter momentos sozinho. Só espero não ser tão louco quanto o Peter [risos].

Mesmo com as adversidades da profissão, desistir do teatro jamais foi uma possibilidade.

— Não conseguiria viver tudo que vivi se não fosse atuando. O que mais me emociona é poder viver outra pessoa durante um tempo. Posso experimentar minhas máscaras.

Sobre o futuro, espera coisas boas, diante da maturidade alcançada aos 35 anos.

— Estou começando agora a fazer TV e cinema. Sempre tive vontade de trabalhar com esses dois veículos, além do teatro. Quero experimentar daqui para a frente…

Sobre ter sido eleito muso do teatro pelos internautas do R7, aqui no Atores & Bastores, ele se diverte.

— Foi engraçado. Isso me pegou de surpresa, estava no metrô quando um amigo me avisou. Claro que muitos colegas me “zoaram”. Fiquei pensando: “eu, muso?”. Faço um louco sangrento na peça! Bom, mas todo reconhecimento é gostoso. Pelo menos isso me mostrou que eu não sou tão horrível [risos].

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1 Resultado

  1. 13/10/2020

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