★★★★★ Crítica: Tiradentes em Cena abre com impacto do ótimo drama Tom na Fazenda sob fortes aplausos
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial a Tiradentes, Minas Gerais*
★★★★★
TOM NA FAZENDA
Avaliação: Ótimo
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
O ótimo drama Tom na Fazenda, idealizado por Armando Babaioff e dirigido por Rodrigo Portella, foi ovacionado na abertura do Tiradentes em Cena, em apresentação única e lotada no Teatro Municipal de São João del Rei, em Minas Gerais, na noite desta quarta, 21 de maio de 2025. A obra tece importante recado sobre a hipocrisia e a aceitação das diferenças, sobretudo no tocante à homossexualidade. Em discurso emocionado ao fim, Babaioff chamou o evento de “o festival mais charmoso do Brasil”, e agradeceu sua diretora, Aline Garcia, pela garra em produzi-lo há 12 edições, bem como os hotéis, pousadas, restaurantes e patrocionadores que apoiam tal manifestação artística tão importante para a sociedade. Na plateia, estiveram personalidades como o prefeito de Ouro Preto e ex-secretário de Cultura de Minas Gerais, Angelo Oswaldo, e o secretário de Cultura e Turismo de São João del Rei, Caio Andrade, que se comprometeu a criar o São João del Rei em Cena. O drama protagonizado por Armando Babaioff coleciona oito anos de sucesso pelo Brasil e teve um “namoro” de três anos com a diretora, idealizadora e curadora do Tiradentes em Cena, Aline Garcia, para que a apresentação fosse concretizada. Isso se dá pelo êxito da montagem, que coleciona temporadas e viagens consagradoras por todos os cantos do país – depois de Tiradentes, a obra prossegue para Belém do Pará. O espetáculo tem excelentes atores em cena, além de Armando Babaioff, também estão no palco Denise Del Vecchio, em atuação magistral, Iano Salomão e Camila Nhary. O texto do canadense Michel Marc Bouchard é realmente excelente ao abordar uma família interiorana disfuncional, formada por mãe e filho, em um explosivo encontro com o viúvo do outro filho, que saiu de casa há anos e morreu em um acidente de trânsito na cidade grande. Em grande entrega, Armando Babaioff interpreta o viúvo, o frágil e desamparado Tom, designer publicitário que viaja para o funeral do amado, em uma cidade na qual se chega após muitas horas de ônibus, tal qual Tiradentes ou São João del Rei. Contudo, a sogra, em construção soberana de Denise Del Vecchio, uma das maiores atrizes de sua geração, desconhece a homossexualidade do filho, que é acobertada pelo irmão, o homenzarrão bruto do campo típico, repleto de uma homofobia que camufla sua real tensão sexual, interpretado com verdade e vilania por Iano Salomão. A partir de uma rede de mentiras, ameaças e violências física se psicológicas, tocando na psicopatia, Tom vai se enroscando àquela doentia rede formada por aquela família, se sujando e se ferindo cada vez mais. A encenação de Portella é inteligente e perspicaz, criando com poucos recursos elementos repletos de simbolismo, tal qual a lama ou a nata de leite que sujam os personagens. A peça faz aposta arriscada na reta final, com a entrada de Camila Nhary em cena, ótima atriz de excelente tempo de comédia, mas cuja entrada cria uma ruputa na crescente tensão estabelecida até então. Contudo, após tal respiro cômico, talvez necessário para um público menos acostumado à intensidade dramática, a peça consegue, com engenhosidade e, sobretudo, talento de seu elenco, retomar o dramático. Entretanto, é perceptível que o drama teria ainda mais força se fosse sustentado sem tal interferência. Mesmo com tal observação, é preciso dizer: trata-se de um excelente espetáculo, que constrói o teatro de forma sublime. Tom na Fazenda ganha ainda mais peso ao ser apresentado no Tiradentes em Cena, entre as montanhas do interior das Minas Gerais, onde a típica família tradicional mineira costuma acobertar segredos e verdades. Ver tal público diante de tal espelho cênico é um encontro potente e transformador que só o bom teatro proporciona.
*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Tiradentes em Cena.
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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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