Sérgio Cardoso ganha biografia por Jamil Dias pelas Edições Sesc que recupera sua importância no teatro e na TV

O ator Sérgio Cardoso ganha biografia por Jamil Dias pelas Edições Sesc: Sérgio Cardoso: Ser e Não Ser © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Em um mergulho investigativo que demandou anos de meticulosa garimpagem na imprensa de todo o país e a sensibilidade de depoimentos de contemporâneos e críticos, o professor e pesquisador teatral Jamil Dias resgata a trajetória do ator Sérgio Cardoso no O livro “Sérgio Cardoso: Ser e Não Ser”, recém-lançado pelas Edições Sesc.

O artista dá nome à principal sala pública teatral do Governo do Estado de São Paulo, o Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, na capital paulista, onde antes funcionou o Teatro Bela Vista, de Cardoso e sua então mulher, Nydia Licia.

No livro, o autor retoma pesquisa iniciada em seu mestrado de 1990 sobre o artista na USP, com o incentivo da filha de Sérgio Cardoso e Nydia Licia, Silvia Cardoso Leão.

“Contar a história de Sérgio Cardoso não foi uma tarefa simples; no entando foi sempre fascinante e desafiadora […] Espero ter sido fiel, ainda que muitas vezes crítico, à figura gigantesca de Sérgio Cardoso e à sua história”, diz Dias na introdução do livro.

Marco Nanini e Sérgio Cardoso em O Primeiro Amor, novela da Globo de 1972 © Memória Globo Blog do Arcanjo 2025

A obra dissipa a névoa do tempo, iluminando a importância de um dos maiores talentos que pisaram os palcos brasileiros, um nome ironicamente desconhecido para a vasta maioria da nação e, sobretudo, pelas novas gerações. Sérgio Cardoso morreu de forma prematura, aos 47 anos, em 18 de agosto de 1972, durante o auge de sua popularidade televisiva como protagonista da novela O Primeiro Amor, na Globo, e 15 mil pessoas acompanharam seu funeral.

Pilar do teatro

Mais do que biografar tal figura, Jamil Dias reapresenta em seu livro Sérgio Cardoso ao Brasil e o aponta como um dos pilares do icônico Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), celeiro de talentos que moldaram a cena nacional, mas que Cardoso muitas vezes fica à margem da história. A consistente pesquisa revela um artista de estilo singular, com uma propensão para a exuberância poética do teatro clássico, destoando da estética realista que predominava em seus pares do TBC. A biografia delicada e apaixonada de Jamil Dias finalmente oferece a Sérgio Cardoso o palco que a sua memória tanto merecia, contrapondo boatos e reafirmando o brilho eterno de um talento inesquecível e que merece respeito no panteão do teatro nacional.

Dias aponta que, sua voz plástica, a elegância de seus movimentos e a capacidade de hipnotizar a plateia eram qualidades que, ao mesmo tempo em que suscitavam admiração, também despertavam inveja, como atesta a minuciosa reconstituição do boicote sofrido na estreia da Cia. Nydia Licia-Sérgio Cardoso.

Polêmicas

Ruth de Souza e Sérgio Cardoso em A Cabana do Pai Tomás, novela da Globo na qual o ator branco fazia blackface para interpretar um escravizado © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

O livro vai além das polêmicas comumente associadas à figura de Sérgio Cardoso, como o fato de ele ter sido pintado de preto, usado peruca crespa e colocado rolhas no nariz para viver o escravizado Tomás, protagonista de A Cabana do Pai Tomás, novela de 1969 na Globo, na qual contracenava com Ruth de Souza, o que gerou polêmica à época por conta do blackface, incluindo ataques públicos do dramaturgo Plínio Marcos, que não concordava com a escalação de um ator branco para viver um personagem negro.

Outra polêmica que virou uma das maiores lendas do teatro brasileiro é que o ator teria sido enterrado vivo, por supostamente sofrer de catalepsia, quando o corpo fica rígido como morto, mas com a pessoa podendo voltar à vida. Familiares e médicos desmentiram a informação, mas, mesmo assim, o boato maldoso correu o Brasil.”

Sérgio Cardoso viveu uma vinda curta e intensa, repleta de glórias e também de dissabores, que agora está registrada para a posteridade por Jamil Dias. “Uma jornada comparável à de um herói mítico”, define, muito bem, o autor.

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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