Tetembua Dandara cria peça-festa de família em Eu Tenho Uma História Que Se Parece com a Minha
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Por SANDOVAL MATHEUS
Da Agência de Notícias Festival de Curitiba
A performer e fotógrafa Tetembua Dandara – nome iorubá que significa “estrela da liberdade” – queria apenas registrar em imagens as histórias de quatro mulheres negras, de diferentes gerações: além dela mesma, a irmã, a mãe e a avó. Mas, tudo isso acabou virando uma peça-festa de família.
O que foi iniciado como um livro de fotos evoluiu para a instalação-performance “Eu tenho uma história que se parece com a minha”, que agora chega à Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba, com sessões nos dias 6 e 7 de abril, às 18 horas, na Casa Hoffmann.
No espetáculo, as quatro reproduzem o ambiente da casa em que viveram nos anos 90. O resto acontece meio que por si só: o público é convidado a entrar ali e participar de um tipo de festa, com comida, bebida, música e conversa – muita conversa.
“O que a gente fez foi construir um espaço para que o público desfrute de um tempo na presença dessas mulheres”, explicou Dandara, durante entrevista coletiva nesta quarta-feira, 5, na Sala Jô Soares. “Não tem a ver com personagens, mas com gerar um lugar de encontro. É muito mais sobre compartilhar o tempo do que sobre assistir a algo.”
A iluminadora Gabrielle Souza ilustrou a ideia. “Levei minha mãe pra ver a performance sem falar nada, disse só que a gente ia jantar num lugar. Como é que eu ia explicar? Quando chegou lá, ela percebeu que podia ser uma festa da nossa família.”
E como em qualquer festa, nunca se tem muita ideia de que rumo as conversas tomarão. “Eu só sei o que vai acontecer nos primeiros dez minutos e nos últimos quinze, porque preciso saber o momento de acabar. Fora isso, não tenho controle”, conta Dandara.
“Às vezes, minha mãe fala do período em que viveu em Angola. Às vezes, fala do MNU [Movimento Negro Unificado], do qual ela foi fundadora. Não significa que vá acontecer aqui”, avisa. “Teve um dia em que a minha avó simplesmente disse que não tinha convidado aquela gente toda e que não era obrigada a conversar”, ri.
Infelizmente, a avó, Dirce Poli, de 95 anos, não foi liberada pelos médicos para viajar até o Festival de Curitiba. Mas a mãe e a irmã de Dandara estarão nas duas sessões previstas na capital parananense.
Para Dandara, a instalação-performance é uma oportunidade de discutir histórias e narrativas negras para além dos estereótipos.
“A branquitude coloca os corpos negros em alguns lugares específicos. Às vezes eu apresento o meu projeto e me perguntam: é sobre samba, sobre candomblé? Minha avó não é do samba, não é do candomblé, não é da umbanda. Ela não é menos negra por causa disso.”
Antes de terminar a entrevista, a artista fez questão de destacar uma última coisa: em “Eu tenho uma história que se parece com a minha”, crianças são bem-vindas. Afinal, é uma festa em família.
Serviço:
O que: “Eu tenho Uma História que se parece com a minha”, no 31.º Festival de Curitiba
Quando: 06 e 07/04 às 18h
Onde: Casa Hoffmann (Rua Dr. Claudino dos Santos, 58)
Valores: R$ 50 e R$25 (mais taxas administrativas)
Classificação: Livre
Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria física exclusiva do Shopping Mueller (piso L3), de segunda-feira a sábado, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 14h às 20h
*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Foi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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