Volta Belchior sacode CineOP com obra atemporal do compositor cearense

Bloco Volta Belchior agita 17ª CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto – Foto: Jackson Romanelli/Universo Produção/Divulgação – Blog do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO – O Bloco Volta Belchior, tinha uma missão árdua pela frente, esquentar o público na noite mais fria da 17ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, no último sábado, 25, quando os termômetros caíam em ritmo vertiginoso nas montanhas mineiras.

Com uma temperatura de 13° graus, o bloco belo-horizontino subiu ao palco no Sesc Cine Lounge Show – Centro de Convenções, atacando, de cara na abertura, sua versão para Sujeito de Sorte.

Diante do impacto da canção, era perceptível que o público não conseguiria ficar parado. Com sua voz potente recheada de graves, a vocalista Manu Dias cantou acompanhada dosmúsicos Everton Corné, na guitarra e vocal, Bruno Malagute, nos teclados, Tiago Araújo, no baixo, Cyrano Almeida, na bateria, e Digão Nargel, na percussão.

Eles conduziram o público ouro-pretano a uma bela visita à obra do grande mestre Antonio Carlos Belchior (1946-2017), passando pelas diferentes fases sonoras do músico cearense.

Óbvio que não faltaram no repertório clássicos como Apenas um Rapaz Latino-Americano, Horas do Almoço, Divina Comédia e Como Nossos Pais, eternizada por Elis Regina. No bis, Sujeito de Sorte, cantada à capela de forma fervorosa junto do público.

Com o estandarte do bloco Volta Belchior, Karison Lopes aplaude o filme Belchior Apenas Um Coração Selvagem no Cine Praça da 17ª CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto – Foto: Leo Lara/Universo Produção/Divulgação – Blog do Arcanjo

‘Obra de Belchior reflete Brasil de hoje’, diz Kerison Lopes, fundador do bloco Volta Belchior

O fundador Volta Belchior, o jornalista Kerison Lopes, conversou com o Blog do Arcanjo sobre o bloco carnavalesco que completou seis anos e a importância da obra do músico homenageado, pouco antes de assistir ao filme Belchior – Apenas Um Coração Selvagem, de Natália Dias e Camilo Cavalcanti, no Cine Praça, na 17ª CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto.

Blog do Arcanjo – O Volta Belchior foi criado com ele ainda vivo. Você acha que o bloco abriu caminhos para que sua obra fosse revisitada, como por artistas como Emicida e Ana Cañas?
Kerison Lopes –
É isso mesmo. O bloco, como o próprio nome já diz, foi fundado quando o Belchior fez opção de se afastar da vida pública e da carreira para dar esse tempo, o que a gente chama de cumprir o direito de desaparecer. Então, era meio que um clamor dos fãs sua volta. Eu como fã empedernido do Belchior fiz esse movimento, como homenagem, porque muita gente que gostava dele queria que ele retornasse aos palcos. Contudo, infelizmente, com um ano de bloco, logo depois do nosso primeiro desfile, o Belchior faleceu. O que fizemos foi uma primeira homenagem, quando ainda não estava tão popular essa volta da música dele. Então, acho que abriu um pouco de portas, sobretudo por ter sido no Carnaval de Belo Horizonte, que ganhou um dimensão muito grande. Ser regravado por nomes como Emicida foi muito importante para para popularização de Belchior entre os jovens. Infelizmente, ele deixou a vida artística justamente em função de que já não estava fazendo tanto sucesso, e agora ele volta com tanta força! Eu acho que a gente contribuiu nisso, sim. Mas o que mais prezo é que fizemos a homenagem em vida, antes da morte dele. Então, a gente já tinha uma credibilidade, uma experiência de ter começado um pouco antes de ele morrer.

Público assiste ao documentário Belchior – Apenas um Coração Selvagem na 17ª CineOP Mostra de Cinema de Ouro Preto – Foto: Leo Lara/Universo Produção/Divulgação – Blog do Arcanjo

Blog do Arcanjo – Qual o lugar do Belchior na música brasileira?
Kerison Lopes –
A gente fala que o Belchior é o filósofo da música popular brasileira, o principal letrista ponto de vista de letras reflexivas com conteúdo. É um poeta. Biografias mostram o que o objetivo dele era muito mais ser poeta, mas ele achava que a música poderia popularizar suas poesias. Por isso, você pega uma letra de Belchior e todas as frases são incríveis. Ele tem um lugar de ser um grande pensador na música popular brasileira, sempre com grandes reflexões, com compromisso social. Ele sempre teve compromisso com a música, com a arte como instrumento de transformação. Então, na minha visão, Belchior é o principal pensador da música popular brasileira

Belchior

Blog do Arcanjo – Qual a importância de manter um legado de um artista como Belchior?
Kerison Lopes –
Acho que o mais importante é quando você vê a juventude curtindo Belchior, das novas gerações que vem aí, que é a garantia que a gente tem que ele vai perpetuar por muito tempo. Acho que essa é a importância de cada vez mais jovens conhecerem e refletirem sobre a obra dele, que mostra ser atemporal, infelizmente, já que ele compôs na época da ditadura e hoje tem muita coisa parecida. Por isso suas letras têm tanto a ver com o momento que a gente vive. Várias você traz para hoje e encaixam. Então, Belchior mostrou que é um pouco atemporal, porque suas letras são muito reflexivas, são muito mais profundas. E, ao mesmo tempo, o momento que a gente vive hoje é muito parecido com aquele no qual ele produziu sua obra. Incrivelmente, a obra de Belchior reflete o Brasil de hoje.

*O Blog do Arcanjo viajou a convite da CineOP. Colaborou David Godoi.

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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