Tiradentes em Cena deixa legado de transformação em 10 edições, diz idealizadora Aline Garcia | Entrevista do Arcanjo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial a Tiradentes*
Aline Garcia se emocionou de forma profunda nos últimos dias. A idealizadora e diretora geral do Tiradentes em Cena, mostra de artes cênicas na histórica cidade mineira que realizou 10ª edição entre os dias 25 e 28 de maio de 2022, pôde, finalmente, rever os espectadores cara a cara.
Afinal, em quatro dias de farta programação, com 34 diferentes atrações, ela viu o público retomar o encontro com artistas, depois de dois anos de versão digital, realizando uma pungente 10ª edição, que celebrou uma década de vida deste que já figura entre os principais e mais charmosos festivais do país.
Nesta exclusiva Entrevista do Arcanjo, a jornalista e produtora cultural faz um balanço da 10ª edição do Tiradentes em Cena. Aline Garcia revela desafios dos bastidores, rememora momentos emblemáticos, como quando levou Bibi Ferreira (1922-2019) ao evento em 2014, atriz icônica que, se estivessa viva, completaria 100 anos nesta quarta. “Bibi Ferreira é um nome fundamental na história do Tiradentes em Cena”, emociona-se. Inquieta e corajosa, Aline Garcia ainda projeta novidades para o futuro do evento.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Qual o balanço você faz da 10ª edição do Tiradentes em Cena?
Aline Garcia – Foi um ano muito difícil financeiramente e que contamos com a ajuda de inúmeros parceiros, tanto artísticos quanto do quadro técnico. Ainda assim, conseguimos presentear o público com apresentações diversas. Foram 34 ações culturais: entre espetáculos de teatro, dança, oficinas, roda de conversa, intervenções, projeções pela cidade, artes visuais, bate papo, exposições e outros.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi o desafio de fazer esta curadoria?
Aline Garcia – Outro grande desafio é realizar a curadoria, porque ser diverso como somos gera uma dificuldade, onde e como encaixar tudo em uma cidade que tem apenas um teatro de 120 lugares, quais peças e artistas se dispõem a transformar junto ao espaço urbano, quem topa ir para a praça com toda as suas interferências de se fazer teatro na rua.
Miguel Arcanjo Prado – Você lida com muitos profissionais?
Aline Garcia – Sim, e de inúmeras áreas. Cenógrafos, cenotécnicos, iluminador, sonoplasta, diretores de cena, produtores, serralheiros, pintores, construtores, costureiras, maquiador, figurinista, segurança, motoristas, camareiras são alguns dos profissionais que passaram pelo Tiradentes em Cena, movimentando a cadeia produtiva da economia criativa da cidade e do país. Fora toda a minha equipe do Tiradentes em Cena, todos profissionais dedicados a quem só tenho a agradecer.
Miguel Arcanjo Prado – O que mais lhe emocionou nesta 10ª edição e faz dela especial para você?
Aline Garcia – A presença. Depois de dois fazendo pela tela ver de perto o que uma experiência gera para o público é comovente, faz os olhos brilharem. Rir, chorar ou simplesmente emocionar com outras pessoas é diferente do rir solitário em casa, não tem nem comparação!
Miguel Arcanjo Prado – Na abertura do evento, a Maria Lídia de Moraes afirmou que Tiradentes sabe fazer cultura e lhe citou como exemplo. Como se sentiu? Concorda com ela que a cidade tem uma forte vocação cultural?
Aline Garcia – Tiradentes é uma mistura do passado com o presente, do simples com o sofisticado. Do antigo com o novo. Isso se deve aos festivais que oxigenam a cidade o ano todo. Além de referência arquitetônica e gastronômica, que também integram o escopo da cultura, o fazer cultural e artístico aqui é muito forte. Respiramos cultura. Maria Lídia é um exemplo para mim e ouvir esse elogio só me dá força para seguir. Precisamos ser conscientes do valor da cultura e memória do nosso povo e quando um festival como o meu consegue misturar quem vem e quem é daqui, promovendo troca e intercambio, é gratificante. O maior legado de um festival, seja onde for, é transformar. E o Tiradentes em Cena deixa um legado de transformação em suas dez edições.
Tiradentes é uma mistura do passado com o presente, do simples com o sofisticado […] O maior legado de um festival, seja onde for, é transformar. E o Tiradentes em Cena deixa um legado de transformação em suas dez edições.
Aline Garcia
idealizadora e diretora geral do Tiradentes em Cena
Miguel Arcanjo Prado – Na sua opinião, o Brasil precisa valorizar mais a cultura como crucial para movimentação de toda uma cadeia econômica e geração de renda e emprego?
Aline Garcia – Sem dúvida. A cultural tem grande impacto na sociedade. Não apenas na formação humanística. O conhecimento cultural é fundamental para a economia de um país. O potencial cultural de nosso País mostra que a participação desse setor na geração de renda e de emprego contribui significante para o desenvolvimento sociocultural e econômico
Miguel Arcanjo Prado – Se fosse para escolher três momentos da história do Tiradentes em Cena que mais lhe impactaram, quais seriam?
Aline Garcia – Bibi Ferreira de graça em praça pública foi um marco da Mostra. Aliás, Bibi Ferreira é um nome fundamental na história do Tiradentes em Cena. Devemos muitas homenagens a ela por tudo que ela fez e deixou como legado. Também preciso destacar Matheus Naschtergaele e Zezé Motta apresentando seus espetáculos dentro da tradicional Igreja Matriz de Santo Antônio, quebrando tabu e ressignificando o local. A convite do Tiradentes em Cena, Matheus Nachtergaele dirigiu pela primeira vez para o teatro o grupo local Entre & Vista, atuante há mais de 30 anos na cidade. O texto escolhido para a montagem foi O País do Desejo do Coração, do poeta irlandês William Butler Yeats.
Miguel Arcanjo Prado – Não é fácil produzir um festival de teatro no Brasil de hoje. De onde você tira forças para persistir com este grande encontro das artes cênicas que é o Tiradentes em Cena?
Aline Garcia – A arte transforma a maneira como a pessoa se veem em relação ao seu meio de convivência e ao mundo. E isso me comove. Também desejo profundamente que as empresas percebam o valor de apostar em eventos culturais e que esse setor pare de passar o pires na mão e cresça como valor real nesse nosso Brasil.
Desejo profundamente que as empresas percebam o valor de apostar em eventos culturais e que esse setor pare de passar o pires na mão e cresça como valor real nesse nosso Brasil.
Aline Garcia
idealizadora e diretora geral do Tiradentes em Cena
É gigante o que a arte cênica move.
Aline Garcia
idealizadora e diretora geral do Tiradentes em Cena
Miguel Arcanjo Prado – A quem lê esta entrevista e sonha em criar um festival cênico no Brasil, como você fez dez anos atrás, qual conselho você daria?
Aline Garcia – Eu nasci em Tiradentes e com 18 anos saí daqui para fazer jornalismo no Rio de Janeiro. Lá, convivi com pessoas inspiradoras como meu ex-sócio e eterno parceiro Fabio Amaral, que assim como eu tinha um sonho de realizar algo com propósito. Assim, nasceu unir minhas duas paixões: minhas cidade e as artes cênicas. Já tinha aqui todos os festivais e faltava esse que confesso ser o mais árduo de fazer. É gigante o que a arte cênica move.
Miguel Arcanjo Prado – Pensando nos próximos 10 anos, o que você ainda deseja fazer no Tiradentes em Cena? O que o público pode esperar no futuro?
Aline Garcia – Inquieta, curiosa e corajosa como sou. Quero construir a cidade do encontro das artes cênicas no Largo da Rodoviária, trazer ainda mais diversidade e criar um ponto de encontro para troca de experiências entre artistas de todo o país e representantes de coletivos de teatro, dança e circo, um local de convívio e sociabilização, trazer curadores de festivais nacionais e internacionais, espaço do empreendedorismo cultural e cases de sucesso e assim fortalecer ainda mais a cena cultural de Tiradentes, de Minas Gerais e do nosso Brasil.
*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Tiradentes em Cena.
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Foi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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