Morre ator Sandro Martyns, o Belém, aos 29 anos em São Paulo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Ele carregava o nome de sua terra no apelido que recebeu na Pauliceia Desvairada, para onde veio tentar seu sonho de ser artista: Belém. Quem conhecia Sandro Martyns logo se encantava com sua simpatia e o gostoso sotaque do Pará que ele fazia questão de não perder na correria da metrópole. O jovem ator que gostava de teatro musical e sonhava em um dia fazer um personagem na TV morreu de forma repentina, aos 29 anos, vítima de complicações de meningite e tuberculose, após internação na Santa Casa de Misericórdia. O corpo será trasladado para Belém do Pará, sua cidade e onde se encontram os familiares.
Formado pela Universidade da Amazônia, Sandro Martyns ainda integrou a Cia. de Teatro Os Satyros, chegando a trabalhar no bar do Espaço dos Satyros 1 na Praça Roosevelt, centro de São Paulo, em 2019. No mesmo ano, foi aprovado para estudar Atuação na SP Escola de Teatro.
Este jornalista guardará com carinho o tempo em que conviveu semanalmente com Sandro, toda segunda-feira, época de frio inverno, durante a temporada de Entrevista com Phedra, peça que escrevi e foi encenada no Espaço dos Satyros 1 pelos diretores Robson Catalunha e Juan Manuel Tellategui com os atores Márcia Dailyn e Raphael Garcia.
Muito cuidadoso, ele fez questão de criar uma playlist para tocar no bar a quem aguardava o começo do espetáculo. Pinçou verdadeiras pérolas da música cubana e latino-americana em sua conta no Spotify. Sempre que eu chegava por lá, horas antes de a peça começar, a trilha do Sandro já pairava no ar, casando-se perfeitamente com a trilha do espetáculo, criada pelo diretor Juan Manuel Tellategui. E no dia em que não pode ir, deixou para sua colega, Irlane Galvão, a tarefa de reproduzir certinho as músicas.
Dizia para o Sandro que a peça que escrevi começava já neste preâmbulo. Enquanto aguardávamos o público chegar, conversávamos muito sobre sermos forasteiros em São Paulo, a efervescência do Carnaval de rua, o teatro musical — que era sua paixão e eu lhe conseguia ingressos para ver algumas obras mais caras na cidade — e ríamos um pouco da loucura dessa vida.
E na primeira vez em que o vi e perguntei como ele se chamava, ele me disse: “Belém”, e explicou que todo mundo o chamava assim, por conta do apelido dado pelo amigo ator Gustavo Ferreira. E eu respondi: “Mas eu quero saber seu nome de verdade”. Aí ele sorriu e falou: “Sandro Martyns”. No que respondi: “Pois prefiro te chamar assim, de Sandro Martyns, seu nome de artista”. E ele me ensinou para eu nunca mais esquecer: “Martyns com y”.
Decanse em paz, Sandro Martyns. Ou Belém. Independentemente do nome ou do apelido carinhoso, você deixou sua marca em todos nós.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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