Anná atualiza Tico-Tico no Fubá: ‘Carmen estaria no TikTok e Caymmi no pagodão baiano’

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
De Mococa para o mundo, a cantora Anná é a mais nova Carmen Miranda da música nacional ao renovar Tico-Tico no Fubá, música de 1917 do compositor Zequinha de Abreu e que ganha nova roupagem e clipe coloridíssimo e envolvente. Essa nova baiana é versada no pagodão que vem de Salvador para sacodir o público do mundo todo ao sabor dos algoritmos. E é o ritmo febre no TikTok quem dá o tom no que ela define, rimando, como “hit chiclete desde 1917”. A artista mocoquense radicada em São Paulo conversou com exclusividade e em dose dupla com o Blog do Arcanjo e o Podcast do Arcanjo, em parceria com a OLA Podcasts e nas principais plataformas. Leia a seguir a entrevista e ouça o papo com toda a calma do mundo.

Ouça Anná no Podcast do Arcanjo!
Miguel Arcanjo Prado – Por que você decidiu gravar Tico-Tico no Fubá?
Anná – Primeiro, porque sou muito fã da Carmen Miranda. Ela é uma referência muito forte pra mim (e para toda cantora brasileira, conscientemente ou não rs). Mas, a escolha também se deu por causa da proposta do meu álbum novo que vem aí, chamado “Bra$ileyrah”, no qual eu vou homenagear os últimos 100 anos da história da nossa música. Cada faixa vai homenagear um período da nossa história musical, e escolhi Tico-Tico no Fubá como representante do início da indústria, nos anos 1920 e 1930, quando o chorinho e o maxixe eram o maior sucesso.
Meu álbum novo, Bra$ileyrah, vai homenagear os últimos 100 anos da história da nossa música.”
ANNÁ, cantora

Miguel Arcanjo Prado – Como foi o processo de escolha de sonoridades para a sua versão?
Anná – Este processo começou com a escolha do produtor musical. Chamei o Ubunto, que é baiano, jovem e passeia pelo universo eletrônico. Eu sabia que queria trazer uma cara atual para o faixa tão clássica, e resolvi trazer o pagodão baiano que é um ritmo muito atual e muito dançante. Como eu amo fazer colagens musicais, trouxe também o violão 7 cordas característico do choro misturados a sons eletrônicos.

Miguel Arcanjo Prado – O clipe tem figurinos exuberantes e uma coreografia que contagia. Por que a escolha dessa visão estética?
Anná – A Carmen era bem exagerada, eu sou bem exagerada, não tinha como ser diferente [risos]. Adaptei a coreografia dos braços da Carmen pra linguagem do TikTok, mais uma vez tentando juntar passado e presente. E isso é Brasil também, né? Essa nossa riqueza de cores, sabores e ritmos.
A Carmen Miranda era bem exagerada, eu sou bem exagerada, não tinha como ser diferente.”
ANNÁ, cantora

Miguel Arcanjo Prado – Você é herdeira de Carmen Miranda?
Anná – Toda artista brasileira é indiretamente herdeira de Carmen Miranda, pois ela abriu um caminho que não existia na indústria. Ela elevou o nível para todo mundo, desde a técnica vocal até essa noção cada vez mais imprescindível de identidade visual. E ela fez tudo isso há quase 100 anos, é muito admirável.

Miguel Arcanjo Prado – Lançar Colar, seu primeiro disco, no auge da quarentena de 2020 foi uma decisão de coragem?
Anná – Foi uma decisão de coragem e desespero, porque o álbum ia acabar apodrecendo dentro de mim. Sabe aquela lição: solta que volta? É exatamente isso, se eu não tivesse lançado Colar não teria caminhado até este novo lançamento. Um passo de cada vez e caminhando sempre. Mas o fato de lançar um álbum sem show e turnê deixa a sensação de que não terminou, sabe? Ainda quero cantar as músicas do Colar no palco, pra viver a transcendência da troca com o público, sentir como a música bate em cada um, e tenho fé que vai rolar em breve!

Hoje, Carmen Miranda estaria no TikTok, e Dorival Caymmi, no pagodão baiano.”
ANNÁ, cantora
Miguel Arcanjo Prado – Tico-Tico no Fubá abre novos caminhos para sua música?
Anná – Espero que sim! Começo a adentrar num universo de synths e midis, ainda misturado às sonoridades acústicas, o que é um universo infinito de possibilidades. Neste arranjo do Tico-Tico no Fubá misturei violão 7 cordas (super tradicional do chorinho) com sons eletrônicos, deu uma mistura boa. Eu era bastante fechada a essas sonoridades eletrônicas devido a uma herança conservadora do choro/samba, mas vejo que hoje o celular virou um instrumento musical – principalmente nas periferias – e estou me propondo a descobrir este universo tão gigante. Mais pontes, menos muros, sabe? Antropofagicamente engolindo o eletrônico temperado com dendê e orégano, um pouco de terra no plasma, trazendo o passado pro futuro ressignificado. Hoje, Carmen Miranda estaria no TikTok, e Dorival Caymmi, no pagodão baiano!
Colaborou Rodrigo Barros
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Foi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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