Peça Macacos impacta público com discurso antirracista no Teatro Vivo em Casa
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos Edson Lopes Jr.
A fria noite paulistana de despedida do outono foi aquecida pela força do discurso antirracista do espetáculo Macacos, do ator Clayton Nascimento. Em sessão única, a obra apresentada em oito Estados e ganhadora de 15 prêmios abriu a segunda temporada do Teatro Vivo em Casa, no último sábado (19). A peça impactou o público com seu discurso antirracista. Leia a crítica.
“Já fiz a peça com censores na plateia, quando nos apresentamos na Caixa Cultural de Brasília. Depois de sermos perseguidos, fomos convidados para participarmos da primeira edição do Festival Verão Sem Censura, aqui em São Paulo, que reuniu trabalhos que foram censurados”, lembra o artista em conversa com o Blog do Arcanjo no camarim, meia hora antes de a peça começar. “Estar aqui hoje é mais uma vitória”, celebra.
Apenas com a equipe técnica presente na sala de 274 lugares no Morumbi, na zona sul de São Paulo, o solo foi apresentado para praticamente o mesmo número de espectadores conectados de casa na sessão digital gratuita — até 10 de julho, sempre aos sábados, às 21h, serão apresentados quatro solos, todos dedicados à temática negra: Preta Rainha, com Aysha Nascimento, no dia 27 de junho; Anja, Quando me Fiz Inteira, de Angela Peres, no dia 3 de julho, e Carlota’s Jazz, com Guilherme Sant’anna, no dia 10 de julho.
Teatro Vivo em Casa
“O teatro digital é uma nova forma de o teatro se conectar. Nem todo mundo vive em grandes cidades com acesso presencial ao teatro. Então, o Teatro Vivo em Casa cumpre esse papel de formação de público. Trazer uma programação preta nesta temporada é um desejo de reverberar esse grito de ordem, esta horizontalidade e equidade tão necessárias na sociedade brasileira”, pontua André Acioli, curador artístico e de patrocínios e gestor do Teatro Vivo.
Leia a crítica da peça Macacos
Homenagem
Além da equipe do Blog do Arcanjo, apenas a produção estava presente no teatro, seguindo todos os protocolos de segurança sanitária vigentes. Pouco antes de a peça começar, Clayton Nascimento brindou com vinho o momento especial ao lado da equipe.
“Perdi minha mãe, Maria do Carmo, há seis meses para Covid-19”, conta ator, antes de oferecer a noite à memória de sua mãe, entre as mais de 500 mil pessoas que o Brasil perdeu nesta pandemia. Ele ainda ressaltou a importância de encenar a peça em um palco de tanto prestígio na cidade de São Paulo.
Giro da vida
“Trabalhei no projeto social do Teatro Vivo, o Conexões, quando eu tinha 16 anos. Agora, 16 anos depois, com 32, eu volto para este palco como artista convidado. Olha o giro que a vida faz”, comemora Clayton Nascimento. “De onde eu venho, de família pobre, vinda do sertão e da periferia, estar aqui, hoje, me coloca em um novo lugar na sociedade”, avalia, lembrando a importância de criar novos imaginários para negros e negras no Brasil como forma de combate efetivo ao racismo.
Ao lado da produtora Barbara Arakaki, o iluminador Vinicius Bogas reforçou a importância da retomada do ofício ao realizar a apresentação ao vivo. “Isso nos mostra que não estamos enferrujados. O teatro está aí, nunca morreu nem vai morrer”, conclui.
Leia a crítica da peça Macacos
Macacos abre segunda temporada do Teatro Vivo em Casa
Leia a crítica da peça Macacos
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. Mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Ganhou o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Governo do Estado de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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[…] Por Miguel Arcanjo PradoFotos Edson Lopes Jr. “Moça, a bicicleta é minha”, diz o personagem jovem e negro no palco, na abertura da peça Macacos, atuada, escrita e dirigida por Clayton Nascimento e que abriu a segunda temporada do Teatro Vivo em Casa no último sábado (19). A frase, que reverberou na última semana, quando um jovem negro precisou justificar ser o dono da própria bicicleta ao ser interpelado por um casal branco que sugeriu que esta seria roubada, é comum neste triste Brasil. Na história que inspirou a cena, acontecida no Leblon, zona sul do Rio, depois, a polícia descobriu que foi um ladrão branco quem roubou a tal bicicleta, o que deixou ainda mais evidente o pensamento racista estrutural do casal.Desvendar tal tipo de pensamento perverso parece ser uma das premissas do espetáculo Macacos, que se apropria no título do terrível xingamento historicamente utilizado para ferir pessoas negras. Para isso, a obra revê a história do Brasil a partir de uma nova perspectiva, que só reforça que a história é forjada pelos vencedores e, quase nunca, contada pelos oprimidos. Imerso na narratividade, o ator vai desconstruindo pensamentos racistas e mostrando, de forma didática, sua origem histórica, como forma de fazer o público refletir sobre o tema.Veja como foi estreia de Macacos no Teatro Vivo em Casa […]