NostroMundo estreava há 50 anos com liberdade sexual e glamour na noite de SP
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Escuridão e algumas pingadas luzes estroboscópicas? Nada disso. Nela, todo mundo queria ver e ser visto. E direito a muito glamour e chegadas faraônicas. Com o título de boate LGBT+ que mais tempo ficou em atividade na América do Sul, por 43 anos entre 1971 e 2014, a NostroMondo teria completado 50 anos neste 30 de abril de 2021.
A lendária e efervescente pista noturna paulistana foi fundada em 30 de abril de 1971, no auge do período de repressão da ditadura militar, funcionando como um espaço de grito de liberdade em prol da liberdade sexual, sobretudo nos anos 1970, seu período de auge, e 1980, quando precisou enfrentar a crueza do vírus HIV, que levou boa parte de seus artistas e frequentadores no fim daquela década terrível.
Criada menos de dois anos após a icônica Revolta de Stonewall, em Nova York, na qual a então chamada comunidade gay deu um basta na repressão policial nova-iorquina, a NostroMundo era frequentada não só pela comunidade LGBT+ (que naquele tempo ainda não tinha esse nome), mas também pela elite artística e intelectual do Brasil, como revela o excelente documentário São Paulo em Hi-Fi, do cineasta Lufe Steffen.
Conduzida de forma impecável pela advogada mineira Condessa Mônica (1942-1989), ela mesma uma das vítimas da epidemia da Aids, a casa ficou famosa por shows requintados e números de dança perfeitamente coreografados, nos quais se destacavam nomes como a cubana Phedra D. Córdoba (1938-2016), com seu lendário número com as castanholas, e Miss Biá (1939-2020), uma das principais apresentadoras da casa noturna instalada na rua da Consolação, 2554, bem na esquina com av. Paulista.
A NostroMundo atravessou gerações de artistas da noite em seu quase meio século de atividades. Passaram ainda por seu palco nomes de gerações mais novas como Marcia Dailyn e Divina Núbia, ambas premiadas na última quarta (28) na 2ª edição do Prêmio Arcanjo de Cultura. Nos bastidores da NostroMundo, o estilista Walério Araújo chegou a trabalhar como figurinista das estrelas da casa.
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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. Mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Ganhou o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Governo do Estado de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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