Marcio Aquiles une Iemanjá a Zeus em livro de poesias que ganha sarau virtual com artistas

Mais de 30 artistas interpretam trechos de A Odisseia da Linguagem no Reino dos Mitos Semióticos neste sábado (9) às 16h

O escritor e poeta Marcio Aquiles – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

O escritor, jornalista, crítico e poeta Marcio Aquiles resolveu aprisionar em seu novo livro conceitual de poesia, A Odisseia da Linguagem no Reino dos Mitos Semióticos, figuras mitológicas das mais diversas, passando por Zeus e Antígona e chegando a Macunaíma e Iemanjá.

Segundo o autor, os 158 sonetos do livro publicado em 176 páginas pela Editora Primata atravessam as mitologias grega, egípcia, chinesa, hindu, tupi-guarani, asteca e iorubá, entre outras.

Aquiles faz o lançamento em sua página no Facebook neste sábado (9), às 16h, com um Sarau Virtual do qual participam artistas como Ivam Cabral, Débora Duboc, Helena Ignez, Juan Tellategui, Nicole Puzzi, Marcelo Coelho, Raul Barretto e Robson Catalunha performam na rede textos da obra.

O autor conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre seu novo trabalho. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Sobre o que é o seu livro? O que pretende provocar em seus leitores?
Marcio Aquiles –
É uma narrativa mitológica em forma de epopeia cibernética, em que deuses e demônios, heróis e anti-heróis, semideuses e oráculos, de todos os tempos e origens, estão presos dentro do objeto físico e semântico do livro. Existe uma subdivisão por sonetos, meramente didática, para facilitar a leitura. Pode-se, dessa maneira, ler cada poema individualmente, embora o ideal, caso o leitor tenha interesse, seja seguir do começo ao fim, como num romance. O efeito final é sempre uma incógnita, dada nossa recepção cognitiva singular, porém, naturalmente, eu escrevo qualquer livro pensando em um espectro de possibilidades de interpretação e apreensão sobre cada perfil de público. Nesta obra, eu busco, em primeiro lugar, estimular raciocínio do leitor, na medida que a epopeia se delineia na forma de um enigma, com camadas cifradas, referências cruzadas e bastante intertextualidade. Esse aspecto mais complexo, no entanto, talvez seja interessante apenas aos iniciados no universo literário, assim, existe também a perspectiva do devaneio, que permite uma leitura mais livre e sensorial, uma vez que os poemas trabalham com aliterações e rimas internas, sonoridades inusitadas e neologismos.

Miguel Arcanjo Prado – Como é lançar o livro neste contexto de quarentena?
Marcio Aquiles –
Estranho, mas importante. Há séculos ciência e arte são as bases, em qualquer civilização, para o crescimento intelectual, econômico e social sustentável. É fato notório, não é opinião. Somente alguém com uma visão muito pobre da realidade pode achar que vamos prosperar, no sentido do bem-estar da população, sendo somente mais um país exportador de commodities; cortando verbas de pesquisa e destruindo universidades; apoiando, por interesse político e/ou por estupidez, agricultura, pecuária e mineração na região de maior biodiversidade do planeta. Não precisamos nem entrar no mérito ético e ambiental, ou a questão necropolítica, podemos ficar apenas no econômico mesmo. Um metro quadrado de Amazônia, com seu infinito potencial biotecnológico, vale trilhões de vezes mais do que o que pode ser alcançado com soja, gado ou minério. A preguiça intelectual resulta nisso, devastação e subdesenvolvimento. A arte, por sua vez, assim como o conhecimento científico, tem o poder de nos emancipar em termos de cognição, raciocínio e perspicácia, habilidades necessárias para a sobrevivência, especialmente em pleno século 21. O mercado editorial, como um todo, está prestes a entrar em colapso. Assim como toda a indústria cultural, ele gera empregos e movimenta economias no mundo todo, portanto é relevante, sim! Desse modo, lançar um livro em plena quarentena é estranho, pela situação de caos social, mas ao mesmo tempo, muito importante, creio eu, dada a importância do conhecimento, seja ele científico ou artístico.

Miguel Arcanjo Prado – Como você definiria sua relação com o teatro e as palavras?
Marcio Aquiles –
Comecei a trabalhar com artes há 20 anos, e foi inicialmente com dramaturgia. Somente depois de um tempo eu comecei a produzir proza e poesia, então tenho essa relação muito íntima como o teatro. Quanto à minha relação com as palavras, bem, os próprios títulos dos meus livros já deixam claro: “Delírios Metapoéticos Neodadaístas”, “Tipologias Ficcionais e Linguísticas”, “O Amor e outras Figuras de Linguagem”, entre outros. A natureza da ficção e a própria linguagem são temas constantes da minha obra: quando os personagens estão presos dentro de um poema do Mallarmé; ou quando eu personifico Arte, Filosofia e Matemática vivendo como refugiadas no planeta Terra; ou quando crio um personagem que está perdido nas entrelinhas do romance; e por aí vai.

Miguel Arcanjo Prado – O que deseja ao mundo neste momento?
Marcio Aquiles –
Olha, pode parecer um clichê, mas neste mundo doente em que vivemos, a única coisa que consigo desejar é equilíbrio. Equilíbrio social, ambiental, intelectual. Não dá para aceitar que 47 milhões de pessoas milionárias vivam no paraíso do luxo graças, principalmente, à exploração exaustiva de outros cidadãos e do meio ambiente, enquanto metade da população mundial vive abaixo da linha de pobreza. Em relação ao Brasil, bem, a situação é desesperadora, com o pior governo da história republicana. O presidente é desqualificado e incompetente, como qualquer pessoa razoável pode facilmente perceber. É isso o que eu espero que, algum dia, o séquito de 30% que ainda o segue e sustenta sua permanência no poder compreenda. Porque essas pessoas não ligam de ele ser genocida, misógino, racista e idiota. Infelizmente, muita gente tem fetiche pela morte e anseio latente de destruição. Chamar o apedeuta de fascista é um elogio, para eles. O mesmo para corrupto, miliciano… Esses 30% que o apoiam e talvez o reelejam só vão mudar de opinião quando entenderem que o presidente é preguiçoso e incapaz de administrar até mesmo um forno elétrico, o que dirá um país como o Brasil. E aqui quem fala é alguém com pensamento autônomo, não acredito em partido puro ou líderes messiânicos incorruptíveis. Obviamente, não tenho soluções para o país. Mas com certeza o Bolsonaro não é uma delas. O cara desrespeita diariamente a Constituição, as leis da lógica e a vida humana. Cospe na cara do Supremo e do Congresso (da parte que ele não vai comprar com emendas), feitos de patetas, permitindo o tirano fazer o que quiser. Como qualquer criança de quinta série deve saber, ser eleito presidente não lhe dá poderes infinitos e ilimitados.

Miguel Arcanjo Prado – Como será esse lançamento em um Sarau Virtual?
Marcio Aquiles –
A proposta inicial era um lançamento normal, mas com a pandemia ficou impossível. Daí pensei neste sarau virtual, convidando colegas, atrizes e atores. Serão mais de 30 artistas, interpretando sonetos que os próprios escolheram, em leituras, performances, poemas musicados e vídeos. O livro já está à venda no site da editora (editoraprimata.com). O lançamento online será feito pelo Facebook, neste sábado (9/5), às 16:00. Lá e na bio do meu Instagram vou divulgar o link do Youtube, onde estará alojado o sarau virtual.

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