Dono da Imovision e do cinema Reserva Cultural diz que é preciso salvar a cultura

Em entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo, Jean-Thomas Bernardini comemora boa acolhida da loja online de DVDs da Imovision e analisa a situação crítica do cinema e da cultura na crise do coronavírus

Jean-Thomas Bernardini, da Imovision, no cinema Reserva Cultural: cinemas e cultura precisam ser salvos – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Jean-Thomas Bernardini é um dos principais nomes do cinema no Brasil. O francês radicado em São Paulo é proprietário da Imovision, distribuidora que celebrou no ano passado seus 30 anos no marcado brasileiro com a presença da atriz francesa vencedora do Oscar Juliette Binoche. Sempre focado em filmes de alta qualidade e no cinema autoral, ele ainda comanda o Reserva Cultural, um dos mais tradicionais e queridos complexos de salas de cinemas de rua de São Paulo, no coração da av. Paulista, número 900, e também com uma filial em Niterói, no Rio de Janeiro.

Mesmo diante da maior crise enfrentada, diante das salas fechadas por conta da pandemia do novo coronavírus, ele e sua equipe decidiram seguir adiante da forma possível. A Imovision abriu uma loja online de DVDs com os títulos de seu catálogo e já celebra uma boa acolhida do público.

Além disso, a distribuidora cinematográfica está promovendo lançamentos de longas inéditos nas plataformas digitais, como Dilili em Paris e Encontros, e até mesmo pré-estreias digitais, como a bem sucedida do filme Ema, de Pablo Larraín.

Jean Thomas Bernardini concedeu esta entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo, na qual analisou o momento atual. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido o retorno da loja virtual de DVDs que a Imovision lançou nesta quarentena?
Jean-Thomas Bernardini –
Tem sido bastante positivo pelo pouco tempo de funcionamento da loja. Ampliamos bastante o canal de comunicação com o publico cinéfilo e a resposta de satisfação foi bem além do esperado.

Miguel Arcanjo Prado – Os números de venda impressionaram você?
Jean-Thomas Bernardini –
Impressionaram sim, não somente porque tivemos bastante compras realizadas, mas principalmente pela rapidez destas já no primeiro dia. Vendas acompanhadas de mensagens de agradecimentos, algumas delas muito emocionantes.

Miguel Arcanjo Prado – Como foi a pré-estreia online de EMA, novo filme do chileno Pablo Larraín com Gabel García Bernal?
Jean-Thomas Bernardini –
Posso dizer que foi incrível poder oferecer uma experiência única, acho, para o público, a maioria trancada em casa e ansioso por novidade, podendo assistir a um filme importante como esse, sabendo que a maioria dos países estão vendo no mesmo tempo. Os números são de propriedade da plataforma de streaming Mubi, que abriu o sinal dela de forma graciosa, mas informou que o Brasil foi o primeiro em número de RSVP dos 70 países que participaram do evento.

Miguel Arcanjo Prado – A pré-estreia online de EMA pode indicar um novo caminho aos filmes que iriam estrear este ano?
Jean-Thomas Bernardini – Acredito que sim! Pode ser uma forma de realizar as pré-estreias durante todo esse período de confinamento e até o público não correr mais risco de contaminação por causa de acúmulo de pessoas… Uma forma também mais econômica de preparação do lançamento do filme.

Miguel Arcanjo Prado – Quais ideias você daria aos governantes para ajudar o setor cultural neste momento?
Jean-Thomas Bernardini –
Vou citar algumas, mas todas irão depender da percepção dos governantes da importância da valorização da cultura não apenas neste momento tão delicado, mas como um instrumento fundamental de educação e lazer, e um direito da população. Estabelecer com critérios claros como manter viva a diversidade cultural em todas as suas forma, com cotas para não permitir a exibição de um filme ocupando mais do que 50% das telas e, também, cotas para assegurar a exibição junto com os filmes brasileiros, os independentes ou cult estrangeiros, ambos lutando para a mesma causa. Isto em cinema e em plataformas de streaming. É necessário lutar para valer contra a pirataria de filmes, com leis duras e campanhas de informação. E disponibilizar recursos em conjunto com Ancine e promulgar leis para proteger os distribuidores, produtores e principalmente os exibidores, gravemente atingidos pelo fechamento, para que eles possam voltar às atividades em vez de encerar! Outra sugestão, essa para os cinemas de rua, seria que os governantes efetuassem compras de ingressos desses cinemas para que esses sejam distribuídos a certas categorias de cinéfilos ou interessados em serem, colaborando assim para formação de plateia. Enfim, dar a importância devida à produção de filmes nacionais e serem produzidos de forma democrática e, obviamente, sem censura.

Miguel Arcanjo Prado – A Imovison tem 30 anos de sucesso no mercado cinematográfico brasileiro. Este é o período mais crítico que já enfrentou? Por quê?
Jean-Thomas Bernardini –
Com certeza absoluta! Claro que enfrentamos varias crises, mas nenhuma delas nos obrigou a parar nossas atividades nem um dia sequer. Esse longo tempo sem atividade está nós causando muita preocupação, já que, dependendo do tempo de distanciamento social ainda a vir, podemos ter consequências gravíssimas para a saúde de nossa empresa.

Miguel Arcanjo Prado – Como estão agindo os festivais de cinema que você frequenta?
Jean-Thomas Bernardini –
Aqueles que deviam acontecer durante esses meses estão sendo adiados, feitos através de plataforma de streaming ou simplesmente foram cancelados. Aqueles com datas anuais a partir de setembro, com Veneza, Toronto, São Sebastian e aqui o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo estão sendo mantidos.

Miguel Arcanjo Prado – O que você deseja ao Brasil neste momento?
Jean-Thomas Bernardini –
O que sempre se deseja em datas especiais, aniversários e etc… SAÚDE em primeiro lugar e AMOR.

Conheça a loja de DVDs da Imovision

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