Autor argentino celebra sucesso de peça com Fagundes: Baixa Terapia

O dramaturgo argentino Matías Del Federico, autor de “Baixa Terapia”, peça de sucesso em São Paulo com Antonio Fagundes – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

O dramaturgo argentino Matías Del Federico, 36 anos, está satisfeito com o sucesso de sua peça “Baixa Terapia” no Brasil, montada por Antonio Fagundes e família, com direção de Marco Antônio Pâmio.

Aliás, a comédia dramática sobre três casais que fazem uma forçada terapia em grupo tem êxito no mundo todo.

Sucesso de público e de crítica, a obra pode ser vista até 10 de dezembro no Tuca em São Paulo, de sexta a domingo [leia a crítica].

Direto da Argentina, o autor conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo do UOL.

Revelou como começou a escrever para teatro, contou como foi o contato com Fagundes e o que acha da montagem brasileira, falou sobre o sucesso internacional de seus textos e ainda adianta que mais uma peça sua já está em negociação para ser montada por aqui.

Leia com toda a calma do mundo.

Elenco afinado diverte e surpreende público com inteligência em “Baixa Terapia”, no Tuca – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

Miguel Arcanjo Prado — Como foi o contato para fazer “Baixa Terapia” no Brasil? Gosta do trabalho de Antonio Fagundes?
Matías Del Federico — Antonio fez contato comigo assim que viu “Baixa Terapia” em Buenos Aires. Rapidamente entramos em acordo. Conhecia toda a trajetória dele. Suas novelas passaram aqui na Argentina. Quando combinamos os direitos, viajei a São Paulo para vê-lo atuar em “Tribos”, uma peça que estava fazendo também no Teatro Tuca. Ele é um ator estupendo. Para um autor é um prazer que um ator como Antonio Fagundes represente seus textos. Fiquei muito feliz com a versão de “Baixa Terapia”. De fato, já fui duas vezes ao Tuca para vê-la e seguramente vou uma vez mais até o fim do ano. É de um nível muito alto a atuação e encenação.

Miguel Arcanjo Prado — O que você achou da mudança do nome original “Bajo Terapia”, algo que em português seria “Sob Terapia”, para “Baixa Terapia”, na tradução brasileira [assinada por Clarisse Abujamra]?
Matías Del Federico — Está ok. Na Itália, por exemplo, também vão mudar o nome, já que “Bajo Terapia” [Sob Terapia] não teria o mesmo impacto na Itália que na Argentina.

O dramaturgo argentino Matías Del Federico quer rodar o Brasil com “Baixa Terapia” – Foto: Divulgação

Miguel Arcanjo Prado — Como e por que você escolheu ser dramaturgo?
Matías Del Federico — Sou de uma pequena cidade, San José de la Esquina, na Província de Santa Fé, onde meu avô fundou uma grupo de teatro há quase 50 anos. Minha vida e da minha família sempre foi ligada ao teatro. Um teatro mais vocacional. Eu me integrei ao grupo quando tinha 16 anos. Fiz de tudo. Desde iluminador e sonoplasta, até chegar à atuação. Houve um momento que senti a necessidade de escrever.

Miguel Arcanjo Prado — Como começou?
Matías Del Federico — Comecei com contos literários, que é um gênero que me interessa até hoje. De feito, “Baixa Terapia”, minha primeira obra de teatro, surge de uns dos meus primeiros contos. A escritura teatral vicia. É um espaço onde se pode condensar muitas ideias e situações através dos diálogos. Quando se prova este gênero, é difícil sair dele. Em cada situação da vida cotidiana você começa a ver possibilidades de estrutura para uma peça de teatro. Ao terminar de escrever “Baixa Terapia”, soube que iria ficar fisgado à dramaturgia.

San José de la Esquina, na Província de Santa Fé, terra natal de Matías Del Federico na Argentina tem cerca de 7.000 habitantes – Foto: Divulgação

Miguel Arcanjo Prado – Você ainda mora no interior? Tem vontade de se mudar para Buenos Aires?
Matías Del Federico — Na verdade, me alterno entre os dois lugares. Há um ano estou mais tempo em Buenos Aires, mas vou sempre ao meu povoado. Buenos Aires me dá a possibilidade de estar mais conectado com meu trabalho e recorrer a ampla variedade de espetáculos teatrais que há na cidade. Sou muito obsessivo. Me interessa saber o que se está fazendo em cada teatro da cidade. Mas no meu povoado está minha família e amizades mais importantes. Por enquanto, é indispensável voltar nem que seja alguns dias por mês.

Miguel Arcanjo Prado – Par quantos países e línguas foram traduzidas suas peças?
Matías del Federico — Além da Argentina, “Baixa Terapia” teve versões na Espanha, em castelhano para Madri e em catação em Barcelona, Chile, Peru, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Brasil, Costa Rica, Republica Dominicana, Panamá, Porto Rico, México, Estados Unidos, Noruega e Itália. Minha segunda peça, “Casados sem Filhos” está sendo apresentada em Miami, Uruguai, México e Chile.

Miguel Arcanjo Prado — O que você diz a alguém que deseja escrever uma peça de teatro? O que é preciso?
Matías Del Federico — Eu lhe diria que em princípio trate de se divertir. De encontrar imagens e situações que o impulsionem a escrever. Não pensar de maneira grandiloquente nem escrever pensando no sucesso. Buscar pessoas para mostrar os trabalhos que for fazendo também é importante. A vezes, é necessário um olhar de fora.

Matías Del Federico em frente ao cartaz de “Bajo Terapia”, dirigida por Daniel Veronese em Buenos Aires: sucesso lançou seu nome como importante dramaturgo do teatro argentino contemporâneo – Foto: Divulgação

Miguel Arcanjo Prado — Quantas peças teatrais você já escreveu? Tem vontade de escrever pra cinema e televisão também?
Matías Del Federico — Escrevi três peças de teatro: “Baixa Terapia”, “Casados sem Filhos” e uma terceira que ainda não estreou. Também escrevo para microteatro, que es un formato de obras cortas. Apesar de ter possibilidade de que “Baixa Terapia” chegue ao cinema, ainda não escrevi roteiros para cinema ou televisão. É algo que em algum momento farei.

Miguel Arcanjo Prado — O que você conhece do Brasil? O que acha dos brasileiros?
Matías Del Federico — Conheço só Rio de Janeiro e São Paulo. É um assunto pendente conhecer mais cidades. De fato, está nos meus planos seguir o elenco quando façam turnê com “Baixa Terapia” pelo interior do Brasil. É um país que gostaria de conhecer mais. Além do teatro, sou amante da música, do futebol e do café. Tudo o que no Brasil é de muita qualidade.

A atriz Ilana Kaplan, no palco do Tuca, em SP, onde brilha no elenco de “Baixa Terapia” – Foto: Bob Sousa

Miguel Arcanjo Prado — Sua obra é muito elogiada pela crítica brasileira. A atriz Ilana Kaplan está indicada a prêmios aqui por sua atuação em “Baixa Terapia”. Você fica contente?
Matías Del Federico — Claro. Eu li a maioria das críticas que fizeram sobre minha peça nos distintos países. Me interessa conhecer as opiniões dos críticos e espectadores. O bom de ser autor é que, geralmente, sua cara não é conhecida, assim que posso estar na plateia sem ser reconhecido e escutar o que provoca o texto no espectador. Fico muito contente com o sucesso de Ilana. Ela faz um grande trabalho nesse personagem. Desfrutei muito da plateia vendo sua atuação. Não só a parte cômica que tem a personagem, senão também a quebra do fim. Todo o elenco é muito certeiro. Há uma cordialidade muito bem alcançada por todos os atores e isso faz que a obra funcione à perfeição. É uma das melhores versões que vi da minha peça.

Miguel Arcanjo Prado — Alguém no Brasil já comprou os direitos de “Casados sem Filhos”? Quer vê-la montada também no Brasil?
Matías Del Federico — Há conversas para que “Casados sem Filhos” seja montada aí. Tomara que se concretize. Será uma ótima desculpa para voltar ao Brasil.

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Antonio Fagundes à frente do elenco de “Baixa Terapia” – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

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