Claudia Raia estreia Cenas da Menopausa no Teatro Claro Mais São Paulo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Poucas artistas brasileiras dominam a arte de se reinventar e se expor com a mesma coragem e autenticidade de Claudia Raia. Aos 58 anos, a atriz, bailarina e ícone cultural sobe aos palcos com Cenas da Menopausa, um musical que, como o próprio nome sugere, desbrava as inquietações e transformações femininas em torno dos 50 anos. Dirigida por Jarbas Homem de Mello, seu parceiro na vida e na arte, a peça é um espelho da própria vivência de Raia, que aborda o tema com a leveza da comédia e a profundidade de quem o viveu na pele.
No Teatro Claro Mais a partir de 12 de junho, Claudia Raia dá vida a personagens como Teresa, uma corretora de imóveis que, casada há 18 anos e mãe de dois, se depara com os primeiros sintomas do climatério. Longe de ser um tratado didático, a montagem promete entretenimento e identificação. “Eu não queria fazer um negócio chato, professoral, queria entretenimento, comédia, leveza. O tema já é tão duro, né?”, comenta a atriz, que concebeu o espetáculo a partir de sua própria experiência com a menopausa aos 51 anos.
“A menopausa não é um fim, é um recomeço – e agora um espetáculo! Subo no palco para dar voz a essa revolução, com humor, verdade e emoção. Já falamos de tantos tabus, por que não esse? No palco, sou muitas; na plateia, somos milhões – e juntas, seguimos mais livres.”, diz a atriz Claudia Raia.
A peça já lotou teatros em Portugal, onde estreou, e é definida pela artista como “um ato político e um serviço público”. Sua capacidade de transformar um tema tabu em palco para a risada e a reflexão reforça sua trajetória singular, marcada por uma franqueza que desarma e uma energia inesgotável.
Da espevitada Tancinha da novela Sassaricando ao pequeno Luca, seu filho caçula nascido quando ela estava com 56 anos, Claudia Raia continua a desafiar expectativas, provando que, para ela, a vida é um palco onde cada cena merece ser vivida intensamente. Cenas da Menopausa fica em cartaz até 17 de agosto, com ingressos a partir de R$ 50.
Texto de Anna Toledo
Escrito pela dramaturga curitibana Anna Toledo, o texto explora mudanças corporais, questionamentos de vida e carreira, saúde, beleza, expectativas sociais, sexo e relacionamentos afetivos, propondo uma conversa divertida e honesta sobre esta fase transformadora que impacta não só as mulheres, mas todos à sua volta. O convite para escrever o espetáculo veio de Claudia Raia, fruto de uma colaboração de anos entre a atriz e a dramaturga curitibana.
“Tanto ela como eu estávamos passando por este processo desestruturador chamado ‘menopausa’, e senti que era uma oportunidade maravilhosa de transformar todo aquele caos em algo de que pudéssemos rir e fazer rir. O processo é avassalador e súbito, nos pega absolutamente desprevenidas justamente quando a gente está se sentindo no auge, entre os 40 e 50 anos, e dá uma desestabilizada geral na cabeça e no corpo. Então é absolutamente normal a gente primeiro não reconhecer o que está acontecendo e, quando finalmente a ficha cai, ficar revoltada com a ‘injustiça’ que é levar mais essa rasteira da vida”, conta Anna.
Pensando nos altos e baixos da menopausa, Anna estruturou a peça em cenas independentes, inspirada nas fases do luto. As personagens passam pela negação, revolta, depressão, até chegar na aceitação da nova realidade e no acolhimento da nova pessoa que emerge. Somos apresentados a Teresa, cujos sintomas do climatério geram uma crise no casamento; Laurinha, que está em negação e atravessando mudanças de humor; Gilda, que vive o clichê de ter sido trocada por uma mulher mais jovem; e Isabel, uma executiva que teme perder a autoridade diante da equipe – todas interpretadas por Claudia Raia.
“Para muita gente, a menopausa está associada ao fim da juventude, o que, na nossa sociedade, significa algo extremamente indesejável. Por conta deste estigma, muitas mulheres passam por este momento em silêncio, sem pedir o apoio de amigas ou dos seus parceiros. Pode ser extremamente solitário passar por tudo isso sem que ninguém saiba.”
Com Comunicação do Teatro Guaíra
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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