Crítica: Castigo desvenda abuso infantil no Mirada

Castigo: criança sem saída diante da opressão de um pai monstruoso em peça chilena – Foto: Valentino Saldivar

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Enviado especial do R7 a Santos*

O Chile encerrou o Mirada, o Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, neste sábado (13), exibindo uma potência teatral que justifica ter sido o país convidado de honra no evento promovido pelo Sesc. Foram sete peças chilenas dentre as 25 internacionais da programação com 40 espetáculos.

Castigo, do Teatro La Memória em parceria com a Fundação Teatro a Mil, levou ao palco o incômodo tema do abuso infantil praticado em família, infelizmente tão comum em sociedades covardes, machistas e patriarcais.

Espinhento e muitas vezes ignorado, o assunto é tratado em um teatro de estado, com uma estética realista e ao mesmo tempo poética, na qual o silêncio diz muito ao impor opressão que não precisa sequer ser verbalizada. E tal opressão se dá em distintas camadas dentro das paredes daquela casa, em um jogo sórdido onde só há fracasso, maldade e rancor.

Um jantar intragável: ambiente realista de Castigo reproduz cotidiano opressor – Foto: Valentino Saldivar

A obra tem direção de dramaturgia de Cristian Plana, que se baseou em O Filho da Criada, de August Strindberg. A peça conta com um elenco que une técnica e talento, formado pelos talentosos Alexandra von Hummel, Daniela Ropert, Diego Salvo, Natalia Ríos e Rodrigo Soto.

Olhar cúmplice com a maldade: Castigo mostrou potência teatral do Chile no Mirada – Foto: Valentino Saldivar

Juntos, formam uma família de um passado não tão distante assim, na qual o pai reina como opressor e abusador do menino, sob olhares cúmplices de sua mulher e da empregada da casa, e mais, traumatizando a filha menor, que cresce neste ambiente doentio repleta de traumas.

O cenário de Fernando Quiroga, Cristián Canales e Sandro Compayante dialoga com o tom realista da montagem, criando com perfeição a atmosfera de um jantar intragável na sala de uma espécie de casa grande na qual o senhor é dono de todos, sem chance de contestação.

O espetáculo é duro, como o é este tipo de abuso na vida real, no qual os próprios pais, em vez de proteger suas crias, como seria a lei natural da natureza, tornam-se seus algozes, gerando traumas e destruindo futuros.

A cena poética ao final, com os personagens lutando contra a força implacável de uma tempestade de neve que começa a encobrir tudo, mostra que, por mais que se tente enterrar algumas tristes memórias, elas são capazes de se manterem vivas e dilacerantes.

Castigo
Avaliação: Ótimo

*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Sesc São Paulo.

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1 Resultado

  1. Phillipe disse:

    Tema árido. Se a mãe tem conhecimento e nada faz, é cúmplice. Sobre o pai opressor, é interessante lembrar que o machismo existe também por conta da participação bastante ativa de certas mães, que incentivam os filhos à agressividade e à libertinagem enquanto dizem que o importante para uma mulher é “arranjar marido rico”.

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