Crítica: Discurso contra conservadorismo tacanho é o chamariz para ver A Casa de Bernarda Alba

A Casa de Bernarda Alba: texto de Federico García Lorca é um grito de liberdade – Foto: João Caldas

Por Miguel Arcanjo Prado

É impressionante como o último texto do espanhol Federico García Lorca (1898-1936) continua vivo e instigante. A Casa de Bernarda Alba é uma peça ainda atual, com sua protagonista matriarca que conduz com mão de ferro a vida das filhas, negando-lhes qualquer possibilidade de felicidade, naquele então servindo de metáfora para a situação de opressão que vivia a Espanha na década de 1930.

Pois a maldade do homem, propenso a subjugar seus semelhantes, é característica atemporal. A opressão continua em vigor nos interiores do mundo. É nesta força da identificação que dá fôlego a mais uma encenação do texto, desta vez sob comando do diretor Elias Andreato, com Walderez de Barros no papel da protagonista – a atriz celebra na peça seus 50 anos de carreira no palco.

Walderez é atriz experiente e de forte presença já conhecida por todos nós. Apesar de comedida diante de seu brilho habitual, ela conduz em tom sisudo sua Bernarda Alba, a quem um olhar basta para fazer entender sua autoridade inquestionável naquela casa em luto perpétuo, na qual mantém encarcerada suas cinco filhas, Angústias (Mara Carvalho), Martírio (Victória Camargo), Madalena (Tatiana de Marca), Isabel Wilker (Amélia) e Adela (Bruna Thedy).

A direção investe em arroubos que causam ruído à obra: como a equivocada cena de dança flamenca ou a cantoria que mais parece uma tentativa de deixar mais palatável ao público burguês conservador justamente um texto que o critica ferozmente.

Também soa despropositado o excesso de maquiagem no rosto das atrizes – as personagens não estão nos cafundós do interior espanhol em luto fechado? Contudo, na peça, até a criada (Fernanda Cunha) parece ter saído de um suntuoso salão de beleza dos Jardins. Um pouco de comedimento teria feito bem.

A montagem mantém a visão ácida de Lorca para o universo feminino, explicitado as artimanhas das quais as mulheres são capazes em sua obra. Isso gera identificação e empatia na plateia.

Entre as filhas de Bernarda, Bruna Thedy vai bem como a jovem Adela, com sua ânsia juvenil de viver sem amarras e de se entregar ao amor. Victoria Camargo e Mara Carvalho também se destacam, pelo peso no olhar ou nos ombros. Patrícia Gasppar, em alguns momentos, sobretudo com a peça já aquecida, também cresce com sua governanta, Poncia.

A Casa de Bernarda Alba ainda consegue cumprir a principal função pensada por seu autor: de ser um grito inquestionável de liberdade e um tapa na cara do conservadorismo – que atualmente voltou a colocar suas unhas de fora. Por isso, é uma peça necessária, independentemente dos tropeços.

A Casa de Bernarda Alba
Avaliação: Bom
Quando: sexta, 21h30; sábado, às 21h; domingo, às 18h30; até 1º/12/2013
Onde: Teatro Cultura Artística (av. Presidente Juscelino Kubitschek., 1.830; tel. 0/xx/11/3078-7427)
Quanto: R$ 50 (sex. e dom.) e R$ 60 (sáb.)
Classificação: 14 anos

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