Silvana Garzaro, a fotógrafa que era atriz

Silvana Garzaro é do tipo que não se deslumbra e que sabe o que faz - Fotos: Vitor Pavão e André Ligeiro

Por Miguel Arcanjo Prado

Silvana Garzaro é a fotógrafa de maior personalidade do mercado paulistano. Talvez, isso venha de seu passado de atriz. Diz o que pensa. Não faz tipo. Não se intimida pela celebridade do momento. Fã do filme A Malvada, com Betty Davis, sabe que toda fama passa. Por isso, fotografa com o mesmo profissionalismo e respeito Chico Buarque ou o mais novo ator de Malhação. E exige o mesmo do outro lado da lente. Faz muito bem.

Nascida em Santo André, no ABC paulista, em pleno flower power de 19 de fevereiro de 1971, Silvana pensava que seria bailarina. Dançava sem parar. O bambolê e as pulseiras multicores ajudavam a compor o estilo.

Mas o passo ficou sem graça quando fez dez anos, e sua mãe, Isaura, morreu de um derrame cerebral. Caçula de três irmãos, aprendeu que esta vida não é coisa fácil. Mas nunca teve medo de enfrentá-la.

De bilheteira a atriz; de atriz a fotógrafa

Já em São Paulo, aos 18 anos, começou a estudar teatro. Decidiu que seria atriz. No meio do caminho, casou-se com César Raspini, filho da atriz Aldine Müller, com quem partiu rumo a  Criciúma, em Santa Catarina. Não gostou do frio e voltou a São Paulo.

Foi morar na Bela Vista e arrumou emprego com o amigo Sérgio Mamberti na bilheteira no Teatro Crowne Plaza. Logo, o diretor Sergio Tastaldi resolveu dar a chance de ela fazer um teste. Competiu com atrizes recém-formadas pela USP e passou. Fez a personagem mais engraçada, é claro.

Porém, com as sessões, percebeu que estar no palco não era muito sua onda. Diz que “não tinha pegada de atriz”. Até que Sergio Mamberti a chamou para uma conversa definitiva.

— Ele me disse, daquele jeitão dele, “Silvana, não é que você não tenha talento, isso você tem. Você não tem é vocação para atriz”. E ele estava certo. Ator é que nem bicha. Ninguém vira, já nasce [risos].

Algumas das capas de Silvana Garzaro

Ficou sem carreira. Angustiava-se pensando para que serviria nesta vida. O casamento acabou e, perdida no mundo, recebeu um recado de uma amiga, Meire, que trabalhava na fotografia da revista Veja. A grande editora de fotografia da revista Caras, Nellie Solitrenick, estava precisando de uma assistente. Foi com a cara, a coragem, e seu atrevimento peculiar, e conseguiu o emprego.

— Cheguei lá com meu currículo pobrezinho de atriz. A Nellie amassou meu currículo e disse: “Bem-vinda ao outro lado. Eu sei que você não entende nada do assunto, mas eu gostei de você”.

Em oito meses de aula prática diária, Silvana aprendeu tudo com a mestre.

— A Nellie criticava com propriedade e técnica todas as fotos que recebia. E eu ficava escutando e assimilando tudo. Aprendi o que era abertura de diafragma, velocidade do obturador, uso correto do flash…

Até que veio a morte repentina de Lady Di. Sob comando de Nellie, Silvana ajudou a fechar três revistas Caras em um fim de semana: a normal, a especial Lady Di brasileira e a especial Lady Di argentina. Por ser “ponta firme”, conquistou respeito definitivo de sua mestre.

A primeira foto publicada foi do desfile de João Armentano no Morumbi Fashion, embrião do que viria ser a São Paulo Fashion Week. Quando pegou a câmera na mão, sentiu algo inexplicável: encontrou a resposta para o que queria ser.

Não parou mais. No começo, a atriz que virou fotógrafa sofreu resistência dos colegas. Mas não desistiu e encontrou o seu respeitado lugar no mercado. Trabalhou na Caras, na Contigo, na Junior e nas revistas mais celebradas do país. Fez parte do time de fotografia que criou as revistas IstoÉ Gente, Época e Flash, de Amaury Jr., da qual guarda doces lembranças.

Paparazzi de Gisele Bündchen

Na IstoÉ Gente foi apelidada de paparazzo oficial de Gisele Bündchen, na época no auge da carreira e namorando ninguém menos que Leonardo DiCaprio. Por conta da gaúcha, protagonizou uma discussão brava com Mônica Monteiro, na época empresária da top e que queria impedi-la de fazer fotos da modelo. Tempos depois, a própria Mônica procurou Silvana para dar seu veredicto sobre a tal discussão.

— Estava em um camarote do Anhembi, no Carnaval, e a Mônica Monteiro chegou para mim e me disse: “Você é aquela fotógrafa que brigou comigo?”. Eu, morrendo de medo, respondi que sim e pedi desculpas, e ela: “Menina, eu viajo o mundo inteiro com a Gisele e você é a fotógrafa mais esperta que já vi. Está de parabéns. Eu defendi o meu, e você o seu”. De vilã, eu virei herói [risos].

Encontro histórico de Maria Rita e Ângela Maria

Viveu história hilárias, como ser atropelada por um touro na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, e importantes, como ter promovido o primeiro encontro das cantoras Ângela Maria e Maria Rita.

—Dei a ideia dessa matéria, porque estávamos em Portugal com a Ângela Maria, e a Maria Rita fazia sua primeira turnê por lá. Na hora, lembrei do tanto que a Elis Regina foi fã da Ângela, e dei a sugestão da pauta. Deu trabalho, mas conseguimos promover esse encontro tão significativo para a música brasileira. Acho que a Elis iria gostar disso que eu fiz. Todo mundo chorou muito naquele camarim. Inclusive eu, enquanto fotografava tudo, é claro.

Certa vez, ao fotografar Padre Marcelo no auge do sucesso, percebeu que ele estava cheio de medalhinhas de Santo Antônio. Espirituosa, contou ao sacerdote que seu “Santo Antônio estava em casa, de castigo, de cabeça para baixo, enfiado em um balde com gelo”. O padre achou graça.

— Ele começou a rir e a foto ficou incrível. Aí, depois que terminei, ele me disse: “Filha, venha cá que eu vou rezar para você se casar”. Ele rezou, mas até hoje não deu certo [risos].

Mas e os palcos, Silvana? Será que há a possibilidade de um dia a fotógrafa virar atriz outra vez?

— Sei lá… Às vezes eu penso em voltar a fazer teatro. Não para ser atriz famosa, porque eu sei mais do que ninguém que isso é muito perigoso. Mas porque seria uma boa válvula de escape. Mas tem também essa coisa de entrega total que um ator tem de ter, de virar outra pessoa. Isso me bloqueia um pouco. Eu não consigo ir trabalhar e deixar a Silvana em casa. E esse é meu maior defeito, porque sou o que sou sempre. E, por isso, ou me amam ou me odeiam [risos].

Momentos da carreira de Silvana Garzaro: o encontro de Maria Rita e Ângela Maria; Barretos, quando foi atroplada por um touro; e Gisele Bündchen com a então sogra, mãe de DiCaprio - paparazzo oficial da top model

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1 Resultado

  1. Vania disse:

    Eu a conheci na festa do green sunset….MIS, e ela reclamou do publico disse q eram mal educados. Eu pedi uma foto qdo a vi no palco e ela disse depois…e ao encontrarmos novamente ela falou um pouco dela e disse bom vamos fazer a foto…mas essa foto n foi publicada no site da festa. Depois ao encontrar outros amigos…soube um dos amigos pediu foto para ela e ela disse vc quer foto vc vai me pagar…rrsrsrsrs ri muito….achamos q ela estava stressada! Mas q ela seja feliz e tenha muito sucesso!

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