Peças que duram mais que o informado cansam o público no Festival de Curitiba e no teatro como um todo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
ENVIADO ESPECIAL AO FESTIVAL DE CURITIBA*
Um fenômeno, infelizmente, está cada vez mais comum no teatro brasileiro: peças que informam a duração de tempo errada ao público.
Assim, o pobre coitado do espectador que se programou para ver uma peça de uma hora, de respente vê uma hora e meia; o que se programou para 90 minutos se vê aprisionado no teatro por duas horas, duas horas e meia…
Isso é falta de respeito com o público. Afinal de contas, para que mentir? É medo de contar a duração exata e o público não ir? Se for isso, por que então durar tanto?
Quem começa uma relação de forma desonesta já no primeiro encontro tende a perder o interlocutor. E isso é prejudical ao teatro como um todo.
O diálogo no teatro, antes de tudo, precisa de honestidade.

No 31º Festival de Curitiba, não tem sido diferente. Este jornalista e crítico averigou presencialmente que diversas peças duraram bem mais do que foi informado ao público nos materiais de divulgação do evento, duração esta que foi fornecida pelos artistas.
Passar cinco, dez minutos do informado é algo tolerável. Mas, meia hora, quarenta e cinco minutos, uma hora? É demais.
Os espectadores têm todo o direito de planejar sua vida pós-peça, mesmo uma carona ou horário do último ônibus para voltar para casa (nem todo espectador tem transporte próprio).
Para isso, saber de antemão a duração é fundamental. Uma peça que dura mais que o anunciado prejudica toda uma programação que o espectador possa ter feito em um festival com 350 atrações em 14 dias.
Prolongar mais que o necessário é prejudicar os colegas das outras peças.

Por fim: o teatro precisa perceber que o mundo está mais dinâmico. Não vivemos mais nos tempos de Shakespeare ou do teatro grego.
As artes cênicas precisam de uma maior capacidade da síntese.
Porque, quando o público começa a olhar impacientemente para o relógio ou dorme profundamente durante um espetáculo, é porque a comunicação deste já foi perdida.
E teatro, assim como o jornalismo, também é comunicação.

Diretores e produtores teatrais precisam ter sensibilidade para observar em qual tempo vivem, se realmente desejam comunicar.
Porque o teatro não pode ser só um exercício de ego, não é mesmo?
*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.
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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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