Tiradentes recupera quietude mineira após receber 50 mil visitantes

Entardecer em Tiradentes, Minas Gerais – Foto: João H. Motta/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL
Tiradentes acordou desconfiada de sua quietude. O frenesi dos últimos dez dias cedeu espaço à vida besta interiorana, como alcunhou Drummond. Olhares precavidos espiam as ruas já não mais tão habitadas por transeuntes munidos de vinhos e taças.
O município tricentenário de 7.000 habitantes localizado aos pés da Serra de São José, na região mineira do Campo das Vertentes, recebeu 50 mil visitantes durante o 22º Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes, realizado entre 23 de agosto e 1º de setembro.
Toda essa gente perambulou pelo calçamento de pedras entre o histórico casario construído por negros escravizados no Brasil Colonial com avidez por experimentar sabores oriundos de todo o país, reunidos pelo projeto Fartura Brasil. Ao todo, foram 160 mil pratos vendidos de cerca de 200 renomados chefs, o que comprova farto apetite dos turistas.
Quem teve sensibilidade para ir além do degustar gastronômico e sentir a presença da cidade ao redor para além dos ruídos forasteiros pôde, por exemplo, apreciar o elegante violão de Victor de Oliveira Moreira da Costa. O músico da região da Zona da Mata mineira radicado na vizinha São João Del Rei rumou para Tiradentes em busca de novos ouvidos para sua arte.
“Os turistas tiram foto minha e falam que depois vão mandar, mas nunca cumprem a promessa”, diz ele, resignado e sereno, entre um e outro improviso de seu violão sagaz, sentado em um tamborete na esquina da rua da Cadeia com rua Ministro Gabriel Passos.
Logo, a música que emana do moço se impõe ao converseiro do povo. Estabelece-se o silêncio da apreciação, que cede espaço à epifania que só acontece naquelas cidades do interior mineiro que ainda sabem apreciar o tempo suave, guardado por uma gente quieta e desconfiada, que gosta de espiar os últimos forasteiros que se vão com a promessa de um até breve, Tiradentes.
Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos João Henrique Motta

Detalhe da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, cultuada pelos negros escravizados que construíram a tricentenária Tiradentes, em Minas Gerais – Foto: João H. Motta/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Observado por transeuntes, violonista Victor de Oliveira Moreira da Costa se apresenta em rua de Tiradentes, Minas Gerais – Foto: João H. Motta/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Detalhe do violonista Victor de Oliveira Moreira da Costa durante sua apresentação ao ar livre em Tiradentes, Minas Gerais – Foto: João H. Motta/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Homem espia movimento na rua da Câmara, em Tiradentes, Minas Gerais – Foto: João H. Motta/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Rua Direita, em Tiradentes, Minas Gerais – Foto: João H. Motta/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Detalhe da quietude de um becos em Tiradentes, Minas Gerais – Foto: João H. Motta/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL
*Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do 22º Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes – Fartura Brasil.
Agradecimentos: Doizum Comunicações e Mayra Lopes.