★★★★ Crítica: Parto Pavilhão tem potência de Aysha Nascimento em solo que toca ferida social brasileira

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★
PARTO PAVILHÃO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Cofundadora do Coletivo Negro e artista potente e multivalente das nossas artes cênicas, Aysha Nascimento é referencial do teatro negro que emergiu neste século 21, colocando a importante parcela da população brasileira na cena de forma incontestável, tanto na cidade de São Paulo quanto no teatro brasileiro. No bem sucedido solo Parto Pavilhão, ela constrói um tocante retrato das mulheres encarceradas, muitas vezes como consequência de decisões impensadas em nome de um suposto amor. A montagem idealizada e escrita por Jhonny Salaberg, nome de destaque na nova geração dramatúrgica, aborda o cotidiano dessas mulheres atrás das grades com seus sonhos de fuga, bem como a delicada relação destas com seus bebês, violentamente tirados de seus braços. Tudo sob inspiração de uma história real. O trabalho encerra a Trilogia da Fuga do autor, que contou com a premiada Buraquinhos ou O vento É Inimigo do Picumã” (2018) e Mato Cheio (2019). Naruna Costa, primeira diretora negra na história a ganhar um Prêmio APCA por Buraquinhos, comanda a encenação, construindo imagens potentes e ao mesmo tempo impactantes, com a ajuda da precisa iluminação de Gabriele Souza operada por Beatriz Nauali. Não à toa, a peça encerra sua primeira temporada, no Tusp com casa esgotada e fila de espera, o que comprova que a obra produzida por Washington Gabriel terá vida longa. É preciso ressaltar a sutileza do violoncelo de Rebeca Gomes, ao vivo, sob direção musical de Giovani Di Ganzá, como uma pontuação dramática em meio ao teatro narrativo — ponto também para a sonoplastia de Tomé de Souza. Carol Gracindo criou cenografia e figurinos minimalistas, que ressaltam o trabalho da atriz. Na pele da falante detenta Rose, Aysha Nascimento surge dona de hábil movimentação, fruto do preparo corporal de Malu Avelar e também do talento para a dança da atriz, dona de joelhos de frevo. E apresenta uma construção de uma personagem exasperada, cujas falas saem como gritos represados de quem nunca teve voz. Diante da reverberação, os momentos mais intensos da personagem se dão quando a atriz modula a voz para um tom mais intimista. Afinal, menos é mais. Com sua força eloquente, Parto Pavilhão revela a subjetividade de figuras muitas vezes esquecidas por uma sociedade que pune de forma mais severa determinados corpos. Corpos que todos nós sabemos quais são. Levar tal reflexão ao palco, tocando em ferida social brasileira não cicatrizada, é um mérito e tanto.
★★★★
PARTO PAVILHÃO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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