Bárbara Colen: ‘Ser atriz é solitário”, diz homenageada na Mostra de Cinema de Tiradentes

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Enviado especial a Tiradentes – MG*

“É o fim do primeiro ato”, define a atriz Bárbara Colen, 37 anos, ao receber homenagem na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, ao lado do cineasta André Novais Oliveira. Afinal, são quase 15 anos de carreira desde sua estreia no filme Contagem, de 2010, da produtora Filmes de Plástico.

Desde então, coleciona ter participado de alguns dos filmes brasileiros de maior relevância neste século, como Aquarius, de 2016, e Bacurau, de 2019, ambos do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho.

Em Aquarius, viveu a protagonista Clara na juventude, defendida na maior parte do filme por Sonia Braga. Em Bacurau, no qual teve Sonia mais uma vez como colega de elenco, foi a protagonista Teresa.

Teve o privilégio de estrear ambas produções no prestigiado Festival de Cannes, na França, no qual Bacurau levou o Prêmio do Júri, inédito até então para um filme brasileiro.

“Bacurau foi um boom, um ponto de virada na minha carreira, e o set foi algo incrível, ficamos três meses no sertão”, conta ao Blog do Arcanjo. A experiência dupla, a faz querer reviver ser dirigida por Mendonça Filho. “Queria demais um novo projeto com ele. Se o vir, pode dizer isso a ele”, avisa.

Ao receber o Troféu  Barroco por sua trajetória no audiovisual, Colen reflete sobre o que viveu até agora. “É preciso conhecer e reconhecer sua trajetória, fazer um reflexão sobre o conjunto, para poder prosseguir”, filosofa.

Receber a homenagem em sua terra, Minas Gerais, é especial. “Em Minas, há resistência a esse tipo de demanda mais mercadológica. E não existe set como o de Minas Gerais. O mineiro é respeitoso e afetuoso. Em Minas, tem um cuidado no set com os atores que é raro. Minas tem um set que te abraça”, avalia.

“A profissão de atriz não é algo fácil. Para ser sincera, é muito difícil, com altos e baixos. Ser atriz é um trabalho solitário. Você se expõe muito no set e diante do público. Dá a cara a tapa a críticas. Ser atriz é doloroso. Tem uma parcela de amor e paixão, mas também de dor. Você sempre se pergunta: será que eu desisto ou continuo?”.

Bárbara Colen
atriz homenageada na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Participando de obras relevantes, conta que precisou pensar sobre sua imagem, incluindo a relação com o que veste. “Penso em uma moda que esteja alinhada com o que quero mostrar, com a persona que eu construo. Quando a roupa que uso me faz bem, eu fico mais segura”, revela.

Um desejo recente é dirigir. “Tenho jogado isso para o universo: quero dirigir. Quero falar sobre a mulher. O que mais me instiga são histórias não contadas. Mulheres pretas precisam contar suas histórias”.

Quase advogada

Por pouco, a atriz não foi advogada. Nascida em Belo Horizonte em 17 de fevereiro de 1986 e com parte da infância vivida no Recife, Bárbara formou-se em Direito na UFMG, na capital mineira, onde também estudou teatro no Cefar da Fundação Clóvis Salgado.

Mas, a arte falou mais forte e ela deixou o mundo jurídico, no qual chegou a estagiar no Ministério Público de Minas Gerais.

Roda viva da TV

Com o sucesso de Bacurau, foi chamada pela televisão. Começou como a protagonista Dora do especial de fim de ano da Globo Dia de Reis, dirigido por Marcos Pimentel, em 2018. Depois, foi a Marta da série do Globoplay Onde Está Meu Coração, de 2021.

Neste mesmo ano, fez sua estreia em novelas, na trama das 19h Quanto Mais Vida Melhor, gravada inteiramente pela Globo antes de ser exibida por conta da pandemia. Deu vida a Rose, a ex-modelo casada com Guilherme, papel de Mateus Solano.

A personagem foi alvo de diferentes reações na imprensa especializada em televisão, e ela chegou a ser criticada pela colega de elenco A Maia, que depois apagou a postagem deselegante.

Girar na roda viva da TV não foi fácil para a atriz vinda de um cinema mais intimista e autoral.

TV é um volume de trabalho imenso, é cansativo e desgastante. Você trabalha de segunda a sábado, das 10h às 22h, gravando 30 cenas por dia. É um volume de trabalho que não tem como fazer sem técnica. Você precisa ser produtivo”.

Bárbara Colen
atriz

Vinda de um cinema repleto de possibilidades de experimentação, a atriz precisou se encaixar no tempo da televisão.

“O melodrama já tem seus códigos estabelecidos que precisam ser respeitados”, diz. Ela conta que teve “muitos colegas legais”, que fizeram com que se sentisse à vontade nos Estúdios Globo.

Com a novela, veio um novo componente à carreira da atriz. A fama.

Para mim foi difícil o reconhecimento massivo do público, isso de estar em um restaurante e as pessoas se aproximarem. Deixar de ser anônima é difícil. Eu não gosto da fama. Eu gosto do trabalho no set. Levo isso para a análise”.

Bárbara Colen
atriz

Colen conta que só foi ressignificar as dimensões da fama recentemente, quando esteve em Matipó, pequena cidade mineira, gravando o novo filme de Marcos Pimentel.

Quando terminamos de gravar em Matipó, as crianças do povoado estavam todas arrumadas, de banho tomado e tinham colocado a roupa de domingo para tirar foto comigo, e todas me chamavam de Rose, minha personagem na novela Quanto Mais Vida Melhor. Em Matipó, eu entendi a beleza de fazer uma novela”.

Bárbara Colen
atriz

Maternidade

Bárbara Colen aproveitou a fase de descanso pós-novela para realizar o sonho de ser mãe. Ela teve seu primeiro filho no ano passado, fruto de seu relacionamento com o produtor audiovisual Victor Graize.

“Queria ter escrito um discurso de agradecimento para a homenagem aqui em Tiradentes, mas não consegui e falei de improviso. Sou mãe, e a maternidade põe a gente no chão. A Meryl Streep que fala: ‘quando uma mãe está com um filho no hospital, ela não é uma estrela de cinema, ela é só uma mãe com um filho no hospital’. E ser mãe é isso. O filho é prioridade. No dia da abertura, eu tinha de alimentá-lo e não consegui parar para escrever o discurso. E está tudo bem. É um pouco isso. Os valores se deslocam para lugares bonitos quando se tem um filho”, conclui.

Os valores se deslocam para lugares bonitos quando se tem um filho”.

Bárbara Colen
atriz

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viaja a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes e da Universo Produção.

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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