★★★★ Crítica: Amazônia, Coração da Mãe Terra é defesa apaixonada e corajosa dos povos indígenas e da floresta
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★
Amazônia, Coração da Mãe Terra
Muito Bom
Amazônia, Coração da Mãe Terra é um filme repleto de paixão e coragem, que busca sensibilizar não só brasileiros, como a comunidade internacional para a preservação urgente da Amazônia e dos povos indígenas, guardiões da floresta tão duramente destruída nos últimos tempos.
O documentário é uma realização que merece aplausos para seus dois diretores: o jornalista e ativista francês Gert-Peter Bruch, fundador da ONG francesa Planète Amazone, e a Princesa Esmeralda da Bélgica, além de todos os indígenas e aliados da Amazônia que surgem no filme e em seus bastidores, em especial o icônico Cacique Raoni Metuktire, que subiu a rampa do Palácio do Planalto ao lado do presidente Lula em sua posse, em janeiro deste ano, criando uma imagem que comoveu o mundo.
Mas a Amazônia e os povos indígenas precisam não só de imagens, mas de ações concretas e urgentes em sua defesa, é o que postula Amazônia, Coração da Mãe Terra.
Gert-Peter Bruch e a Princesa Esmeralda da Bélgica estiveram no Brasil, em Brasília e em São Paulo, nesta última semana, para exibir pela primeira vez o filme, ainda em fase de finalização e com previsão de lançamento oficial em novembro deste ano, com apoio da Documenta Pantanal, instituição que reúne profissionais de diversas áreas com o desafio de tornar os protetores e as riquezas do Pantanal mais conhecidos do grande público, e aliada da luta em prol da Amazônia.
Os povos indígenas são os protagonistas do filme Amazônia, Coração da Mãe Terra”.
Princesa Esmeralda da Bélgica
diretora da Amazônia, Coração da Mãe Terra
A primeira e aplaudida exibição de Amazônia, Coração da Mãe Terra foi na quarta, 26 de abril, na Embaixada da Bélgica em Brasília, que contou com a presença do Cacique Raoni Metuktire, uma das mais respeitadas lideranças indígenas da história do Brasil e um dos protagonistas do filme, com sua voz histórica e potente em defesa da Amazônia.
Já a segunda exibição, também fortemente aplaudida, ocorreu em São Paulo, no dia 29 de abril, em noite que contou com a presença de Gert-Peter Bruch e princesa Esmeralda, além de Orlando Villas-Boas Filho, professor da Faculdade de Direito da USP e defensor da causa indígena, filho de Orlando Villas-Bôas (1914-2002), um dos maiores nomes da defesa da Amazônia e de seus povos no Brasil ao lado de seus irmãos Claudio e Leonardo, os lendários Irmãos Villas-Bôas.
Didático e comovente, o documentário Amazônia, Coração da Mãe Terra reúne em cerca de 50 minutos, depoimentos de lideranças dos povos originários e também de especialistas na causa indígena e na Amazônia, com o intuito de sensibilizar o grande público para a defesa da floresta como única forma de sobrevivência da vida na Terra. O filme merece ser amplamente difundido, sobretudo em escolas e na televisão, para que alcance cada vez mais pessoas com sua luta apaixonada.
Com fortes cenas de assassinatos de indígenas por grileiros e garimpeiros, o filme defende a demarcação urgente das terras indígenas, conforme determina a Constituição de 1988, após forte pressão dos próprios indígenas junto ao Congresso Constituinte.
O ex-presidente Jair Bolsonaro é colocado em uma linha histórica de presidentes em relação à demarcação das terras indígenas, que vem diminuindo desde a Constituição de 1988, até chegar ao vergonhoso zero na gestão bolsonarista.
O documentário Amazônia, Coração da Mãe Terra também defende a ideia do crime de ecocídio para destruições massivas da natureza, como vemos ocorrer de forma impune na Amazônia nos últimos anos.
O documentário também ouve o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reforça a importância da demarcação das terras indígenas e da preservação de sua floresta, o que tem gerado forte expectativa naqueles aguardam real melhoria no cenário de destruição e horror que vive o bioma mais importante do Planeta Terra. Porque é preciso fazer algo a respeito com a máxima urgência.
“O objetivo número um do filme é a demarcação das terras indígenas, mas isso é uma decisão do Brasil. Também, existe a necessidade de ajuda e uma aliança com o resto do mundo, e estamos tentando fortalecer essa aliança para agirmos nessa situação”, declarou a princesa Esmeralda da Bélgica durante a exibição de seu filme. Ela lembrou que os povos indígenas são protagonistas da luta contra a crise climática da Terra, e que sua cultura está ligada à preservação da biodiversidade essencial à vida.
Gert-Peter Bruch contou que tem grande proximidade com o cacique Raoni e o povo Kayapó. Durante uma viagem pelo Xingu com o grande líder, decidiu que era preciso realizar o filme em conjunto com a Princesa Esmeralda da Bélgica, que se destaca no cenário mundial por seu ativismo em prol da natureza diante das mudanças climáticas promovidas pelo homem e que vão provocar a extinção de boa parte da vida no Planeta.
Se você demarcar as terra indígenas, estará protegendo a Terra; se não fizer isso, perderemos a floresta”
Gert-Peter Bruch
diretor de Amazônia, Coração da Mãe Terra
A princesa Esmeralda herdou do pai, o Rei Leopoldo 3º da Bélgica, o amor pelo Brasil e pela Amazônia, já que o Rei utilizou sua voz global para defender a floresta, após viver com indígenas na Amazônia na década de 1960, quando tornou-se amigo do cacique Raoni. A viagem foi tão marcante que ele fundou em 1972 a The Aldo Leopold Foundation, que a Princesa Esmeralda preside desde a morte de seu pai, em 1983.
Meu pai, o Rei Leopoldo 3º da Bélgica, foi um pioneiro na defesa da Amazônia, da importância da natureza, da biodiversidade e das populações indígenas. Chegar na tribo e rever o cacique Raoni e todos eles foi muito emocionante para mim. Conhecer todas essas pessoas com as quais meu pai conviveu quando eu ainda era jovem e que significaram tanto para ele foi uma grande honra”.
Princesa Esmeralda da Bélgica
Diretora de Amazônia, Coração da Mãe Terra
Além do lendário cacique Raoni Metuktire do povo Kayapó, o filme conta com depoimentos de cacique Valdelice Veron do povo Guarani-Kaiowa, cacique Ninawa do povo Huni Kui, cacique Kretã do povo Kaingang e Val Munduruku. Entre as vozes aliadas, foram ouvidos nomes como Sydney Possuelo, ex-presidente da Funai, e Jojo Mehta, cofundador e diretor-executivo da Stop Ecocide International, além de Orlando Villas-Bôas Filho, que lembrou a história de seu pai e dos Irmãos Villas-Bôas na Amazônia.
Nós não fazemos a menor ideia da riqueza cultural que é contida em nosso país. Um dos méritos do filme é mostrar que se trata de uma luta e de uma questão de resistência dos povos indígenas, que sobrevivem até hoje não por concessão nossa, mas por resistência deles”
Orlando Villas-Bôas Filho
Professor da Faculdade de Direito da USP
Peter Claes, embaixador da Bélgica no Brasil, reforçou o histórico do país com a luta pela preservação da Amazônia por meio do Rei Leopoldo 3º da Bélgica. E ressaltou a importância de se exibir o filme no marco do 19º Acampamento Terra Livre – ATL, que reuniu mais de 6 mil indígenas em Brasília e seus aliados.
“Aproveitamos a presença do Acampamento Terra Livre para mostrar pela primeira vez o filme na Embaixada da Bélgica, permitindo a participação de lideranças indígenas”, pontuou.
Foi uma honra para a Embaixada da Bélgica receber os representantes das comunidades indígenas, incluindo Raoni Metuktire e Tuyre Kayapo, que fizeram um discurso emocionante após a intervenção da Jojo Mehta. Esse encontro extraordinário na residência oficial da Bélgica durante a exibição de Amazônia, Coração da Mãe Terra só foi possível graças à dedicação de Sua Alteza Real Esmeralda da Bélgica e Gert-Peter Bruch”
Peter Claes
Embaixador da Bélgica no Brasil
Agora é torcer que o filme Amazônia, Coração da Mãe Terra, um documentário sensível, comovente e com múltiplas vozes, cumpra seu caminho por telas e mentes, deixando como legado a sensibilização de corações em relação à luta indígena e pela preservação da floresta. Para que exista futuro, como deixa evidente a última e emocionante imagem do documentário. Porque não dá mais para deixar para depois.
★★★★
Amazônia, Coração da Mãe Terra
Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Amazônia, Coração da Mãe Terra: Blog do Arcanjo mostra quem prestigiou a sessão do filme em São Paulo, no Espaço Itaú de Cinema
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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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