Bete Coelho e Gabriel Fernandes celebram sucesso de Molly-Bloom no Teatro Unimed: ‘Queremos viajar o Brasil e para a Irlanda’ – Entrevista do Arcanjo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Os artistas Bete Coelho e Gabriel Fernandes estão radiantes com o momento de sucesso do espetáculo que dirigem em conjunto com Daniela Thomas, Molly-Bloom, protagonizado por Bete, que divide cena com Roberto Audio. A obra faz suas últimas apresentações no Teatro Unimed, em São Paulo, onde encanta o público a cada sessão com a força de um dos textos mais potentes da literatura mundial.
A montagem é inspirada na icônica personagem do livro Ulysses, romance lançado pelo irlandês James Joyce em 1922. Apesar de ter se passado um século, Molly ainda diz muito às mulheres de hoje, em seus pensamentos libertários enquanto o marido, Leopold Bloom, dorme a seu lado.
Em interpretação arrebatadora, Bete Coelho hiponotiza o público com verdade intensa da personagem, humanizando-a até o último fio de cabelo. Ajuda nesta intensidade as escolhas dos dois diretores, que trouxeram elementos do cinema para o teatro, o que sobressai ainda mais a atuação da atriz.
Os dois diretores conversaram com exclusividade com o Blog do Arcanjo nesta Entrevista do Arcanjo sobre a criação conjunta de sucesso e avisam que pretendem levar a peça a outras cidades do Brasil, entre elas Belo Horizonte, terra natal de Bete Coelho e também deste jornalista que vos escreve. E revelam um sonho: encenar a obra em Dublin, na Irlanda, terra natal da protagonista dessa história. Que assim seja.
Retire seu ingresso para Molly-Bloom no Teatro Unimed
Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido este reencontro com o público nesta temporada no Teatro Unimed?
Bete Coelho – Esse teatro, especificamente, acolheu e engrandeceu a peça trazendo muito mais ousadia cênica. E logicamente a maturidade do espetáculo proporciona ao público uma intimidade vertiginosa.
Gabriel Fernandes – Tem sido a expressão da vitória da arte do teatro. A resposta de que valeu a pena ter esperança, de que de fato o teatro é poderoso e supera todas as catástrofes, guerras, obscurantismos e pandemias. E tem sido maravilhoso trocar sobre a peça com algumas pessoas do público e saber o que elas sentiram e pensaram, o que gostaram e não gostaram. É sempre bom termos acesso ao olhar que não é o nosso.
Miguel Arcanjo Prado – O que a Molly Bloom tem a falar para as mulheres de hoje?
Bete Coelho – Impressiona o fato de que alguns temas e assuntos abordados pela mulher e esposa Molly ainda sejam motivo de espanto e tabu, ao mesmo tempo que certos pontos são eternos como o amor, as contradições, o desejo e a maternidade. O que se mantém muito moderno é a maneira como tudo isso é pensado, escrito e agora falado. E que Molly Bloom possa servir de estímulo ao exercício da liberdade de ser e estar de todas as mulheres.
Gabriel Fernandes – Que as mulheres podem e devem fazer o que elas bem entenderem com seu desejo e sexualidade. Que elas são livres para amar, ou não, como quiserem. Ela ratifica a notória frase: lugar de mulher é onde ela quiser.
Miguel Arcanjo Prado – Como é para vocês fazerem essa dobradinha na arte e na vida?
Bete Coelho – O princípio da admiração é a tônica das experiências artísticas. O Gabriel é uma fonte inesgotável de talento e curiosidade. Muitas vezes ele me conduz apenas através do silêncio e expressões faciais devido a nossa íntima cumplicidade. Aprendemos o que levar da casa pro palco e vice-versa. O fator positivo desse convívio intenso é a certeza que o doméstico é subtraído por alguns riscos sublimes da criação e o desgaste da exposição é subtraído pelo amor de uma vida confiante e protetora.
Gabriel Fernandes – É orgânica, nunca foi pensada ou planejada, de repente nos pegamos na maioria das vezes dividindo os mesmos gostos, pensamentos e ideias. E quando divergimos, é saudável, porque para além da discordância nutrimos uma sólida confiança um no outro, então nós discutimos, cedemos e nos abrimos para um olhar diferente, que nos tira da zona de conforto, e que proporciona a criação de algo que jamais criaríamos sozinhos, surpreendendo a nós mesmos e enriquecendo o resultado final da obra.
Miguel Arcanjo Prado – Após a temporada no Teatro Unimed, vocês pretendem viajar com a peça?
Bete Coelho – Por enquanto só planos, mas claro, queremos novas temporadas tanto em São Paulo como em outras cidades. Eu, particularmente, adoraria entrar em cartaz na minha cidade natal, Belo Horizonte, e levar a Molly para a cidade onde ela mora, Dublin, ou onde nasceu, a península de Gibraltar.
Gabriel Fernandes – Sim! Pretendemos viajar o mundo. Mas como se diz: um passo de cada vez. Nós queremos muito levar a peça para outros estados brasileiros, contemplar um público maravilhoso que conquistamos através das plataformas digitais com os filmes que fizemos durante a pandemia. Temos o sonho também de levarmos a Molly e o Leopold de volta para a Irlanda.
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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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