O Grande Dia no Festival de Curitiba dá voz a homens negros que fizeram história no século 20

Reinaldo Junior está na peça O Grande Dia, que remora grandes homens negros no Festival de Curitiba – Foto: Jeff Tenorio/Divulgação © Blog do Arcanjo 2023

Peça integra a Mostra de Solos do Festival de Curitiba

Por SANDOVAL MATHEUS
Da Agência de Notícias Festival de Curitiba

Contar a história de importantes homens negros do século 20, no momento em que eles estiveram na encruzilhada que alterou para sempre o rumo de suas vidas. Essa é a proposta do espetáculo O Grande Dia, em cartaz na Mostra de Solos do Festival de Curitiba, com sessões na Casa Hoffmann, dia 1º de abril. Para isso, a peça é dividida em sete partes, encaradas mais ou menos como se fossem os assaltos de uma luta de boxe. O soar de um gongo indica o começo e o término de cada cena.

Nesse ringue metafórico (que por vezes se transforma em diferentes espaços de luta, como uma prisão, um campo de futebol ou um palanque político), se desenrolam as trajetórias de personagens como Mumia Abu-Jamal (ex-integrante dos Panteras Negras), Malcom X, Nelson Mandela, Thomas Sankara (revolucionário africano) e dos brasileiros Mestre Casquinha (da Velha Guarda da Portela) e Rubens Barbot (bailarino gaúcho que fundou a primeira companhia nacional de dança contemporânea com integrantes negros).

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Nelson Mandela é lembrado na peça O Grande Dia no Festival de Curitiba – Photo by Magda Ehlers on Pexels.com © Blog do Arcanjo

Essas narrativas ainda se misturam com as de figuras anônimas que passaram pela vida do idealizador do projeto, o ator Reinaldo Junior, que no palco segura a barra de interpretar sozinho todas essas personalidades.

“É quase uma antropofagia. Dentro da história do Abu-Jamal, por exemplo, eu também faço outros personagens. Porque a história de todos esses homens é a história de um homem só. Eles têm uma história em comum”, conta Reinaldo. “E a gente mistura isso com as vidas do meu pai, dos meus tios, do meu avô, dos meus amigos de infância. Eu gosto de dizer que essa pesquisa durou 31 anos, que é exatamente a minha idade”, explica.

Passado de luta

É da própria experiência de vida de Reinaldo que saiu também a ideia de transformar cada cena em uma espécie de round. O ator da Baixada Fluminense, hoje indicado ao Prêmio Shell pelo desempenho em O Grande Dia, já foi lutador amador.

Em cena, Reinaldo Junior interage apenas com projeções audiovisuais, em que atores e atrizes representam figuras como os griôs, mestres que na tradição africana têm a capacidade de profetizar o futuro. Por isso, há quem prefira chamar o espetáculo de peça-filme. “Sem a parte audiovisual, não tem peça. Só no palco a gente não conseguiria contar a história toda que a gente quer contar”, observa André Lemos, diretor que também assina a dramaturgia da obra.

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Photo by lalesh aldarwish on Pexels.com

‘Excelência black’

Em 2019, André venceu o Prêmio Shell de direção com o espetáculo Esperança na Revolta, que, como O Grande Dia, era obra da Companhia Confraria do Impossível. Em 31 anos, foi a primeira vez que o prêmio foi parar nas mãos um diretor negro. “Na Confraria do Impossível, a gente preza muito pela excelência”, diz Reinaldo. “A excelência black.”

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Curitiba vira a capital do teatro brasileiro de 27 de março a 10 de abril de 2023 com o 31º Festival de Curitiba – Photo by Cassiano Psomas on Pexels.com  © Blog do Arcanjo 2023

Mostra de Solos do Festival de Curitiba

O Festival de Curitiba pela primeira vez terá a Mostra de Solos. A programação tem cinco espetáculos, que serão apresentados entre os dias 29 de março e 2 de abril, na Casa Hoffmann.

Os solos em sua maioria foram concebidos e realizados online durante a pandemia e adaptados para serem apresentados presencialmente no evento. “São artistas que tomam para si a tarefa de recontar nossas ‘pendências’ sociais em relação a corpos que denunciam, mas também afirmam seu lugar hoje”, afirma Giovana Soar, uma das curadoras do Festival de Curitiba.

 Espetáculos

A palestra-performance “Reencarnação ao vivo” (29 de março) discute as possibilidades de reencarnação em vida. “Arqueologias do Futuro” (30 de março) reflete sobre quais corpos são vistos e considerados na atualidade. “Vienen Por Mí” (31 de março) fala sobre pessoas trans em um texto-manifesto de poesia. “O Grande Dia” (1° de abril) é sobre homens negros como protagonistas de suas próprias histórias, narrativas e vivências. “Experimento Concreto” (2 de abril) ensaia sobre a complexidade das questões raciais no Brasil.

Cada uma das peças terá duas sessões diárias, entre às 17h e 22h – a primeira, seguida de conversa com críticos convidados.

Monólogos

A programação com solos e monólogos vai além das apresentações na Casa Hoffmann. A mostra Lúcia Camargo terá dois monólogos. Em “Ficções” (30 e 31 de março), a atriz Vera Holtz brinca e instiga a plateia a pensar sobre capacidade humana de construir ficções coletivas, como deuses e dinheiro.

No Sesc da Esquina, a atriz Jéssica Teixeira dá vida a “E.L.A” (6 e 7 de abril), instigando a autoanálise a partir da relação de cada um consigo mesmo, questionando os corpos e suas interações com o mundo para o empoderamento do sujeito.

 Além dos solos, o festival terá outras peças nas quais a linguagem corporal se destaca. “A própria cena, a criação e as temáticas colocadas pelos artistas em suas obras foram ditando nossas escolhas. Muitas delas falam sobre a representatividade do corpo, na sua mais complexa e linda diversidade”, finaliza a curadora.

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Festival de Curitiba acontece na capital do Paraná entre 27 de março e 10 de abril de 2023 com o melhor do teatro mundial – Photo by Paulo Freitas on Pexels.com © Blog do Arcanjo 2023

A Mostra de Solos do Festival de Curitiba faz parte da programação da Mostra Lucia Camargo, que é apresentada por Banco CNH Industrial e New Holland, Novozymes, Copel e Sanepar – Governo do Estado do Paraná, com patrocínio de EBANX, DaMagrinha 100% Integral, GRASP e ClearCorrect. Acompanhe todas as novidades e informações pelo site do Festival de Curitiba, pelas redes sociais disponíveis no Facebook @fest.curitiba, pelo Instagram @festivaldecuritiba e pelo Twitter @Fest_curitiba. Ingressos disponíveis pelo site oficial e na bilheteria física no Shopping Mueller (Piso L3).

O Grande Dia

Mostra Lucia Camargo – Festival de Curitiba
Data e Horário: 1º de abril, às 17h e às 22h
Local: Casa Hoffmann – Rua Doutor Claudino dos Santos, 58 – São Francisco
Classificação: Livre
Duração: 90′
Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e no Shopping Mueller (Piso L3).Valores: R$ 50 e R$ 25 (meia)

Companhia Confraria do Impossível. Idealização e Atuação: Reinaldo Junior. Direção e dramaturgia: André Lemos. Direção de Produção: Jeff Fagundes. Criação Audiovisual: Giulia Santos. Participações especiais: Mariana Nunes, Catia Costa, Vilma Melo, Tatiana Tiburcio, Wilson Rabelo, Nando Cunha, WJ, Reinaldo Santos, Teo Costa, Catia Costa, Zaion Salomão. Ass. de Direção: Wayne Marinho. Direção Musical: André Lemos. Supervisão de Movimento: Cátia Costa. Direção de Movimento/Preparação Corporal: Reinaldo Junior. Cenários e Adereços: Tarso Gentil. Figurinos: Raphael Elias. Projeto de Luz: Rommel Equer. Assessoria de Imprensa: Monteiro Assessoria. Operação de Áudio/vídeo: Alex Nanin. Operação de Luz: Thiago Viana. Produção Executiva: Jonathan Fontella e Wayne Marinho. Designer: Giulia Santos. Parceria: Terreiro Contemporâneo. Sede: Teatro Negro Chica Xavier.

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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