Festival de Curitiba traz peças com foco na diversidade de corpos

O Que Meu Corpo Nu Te Conta está com ingressos esgotados no Festival de Curitiba 2023 – Foto: Ronaldo Gutierrez/Divulgação © Blog do Arcanjo

Por ADRIANE PERIN
Da Agência de Notícias Festival de Curitiba

Corpos podem ser muitos. Corpos dão trabalho. Um corpo pode ser social, político, tecnológico, visível, amado, ferido, odiado, assustador… O corpo é do outro, é meu, é teu. Corpos são gordos, belos, disformes, nus, imperfeitos e se transformam.

O Festival de Curitiba 2023 vem para abrir perspectivas a partir destas diferenças. A nova curadoria quer não apenas discuti-las, mas reconhecer-se nelas para gerar um debate com possibilidades ainda mais amplas.

“Que Brasil a gente quer imaginar e engajar as pessoas a construírem conosco? Um país de maior representatividade!”, disse a produtora Daniele Sampaio, uma das curadoras da 31ª edição do Festival de Curitiba ao lado do jornalista Patrick Pessoa e da multiartista Giovana Soar.

Na Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba são 32 espetáculos com temas que tratam de diferenças e representatividade de pessoas negras, trans, com deficiência, indígenas, de todas as idades e culturas. O desafio foi criar uma programação inclusiva para repelir qualquer hipótese histórica que não admitisse diferenças.

“Ante a tentativa de eliminação do que foge aos padrões, apostamos na potência da convivência das diferenças”, disse Daniele. Ela ressalta, porém, que todos os trabalhos foram escolhidos por excelência artística. “Não se trata de uma cota ou blindagem. Não é porque são produções negras, indígenas ou PCDs mas, sobretudo, é o reconhecimento da excelência que as trazem ao Festival”, disse.

botanical garden of curitiba in brazil
Capital do Paraná abriga o Festival de Curitiba, o mais importante evento das artes cênicas no Brasil e na América Latina – Photo by Lud Araujo on Pexels.com © Blog do Arcanjo

Olho no olho

Após décadas querendo falar artisticamente sobre seu ‘corpo estranho’, a atriz Jéssica Teixeira, da peça E.L.A, viu que a urgência não era só dela. “Não escolhemos nascer no corpo que temos, mas podemos escolher como operar com ele no mundo”, disse.

Acostumada a lidar com a “coreografia”, olhares desviados, ela aprendeu a virar o jogo e chamar a plateia no olho-no-olho. “Este solo é um posicionamento político. Não é sobre mim, mas sobre o outro. Quem nunca se sentiu estranho? A estranheza é inerente à humanidade”, disse.

O Que Meu Corpo Nu Te Conta? mostra corpos de vários tipos e origens em relatos confessionais como numa radiografia social. Homofobia, assédio sexual, etarismo, gordofobia, machismo, compulsão, racismo, infertilidade são temas que se misturam e envolvem a plateia em um jogo. “Não é sobre erotismo, é sobre intimidade, sobre desnudar-se e colocar o coração na mão do outro. Há uma tensão porque a plateia fica vulnerável junto com a gente”, disse o diretor de Marcelo Várzea.

Hamlet plural

O grande exemplo talvez seja Hamlet, a peça de abertura do Festival, dirigida pela peruana Chela De Ferrari e estrelada por atores com Síndrome de Down em diferentes graus do espectro. Os atores atuam superando as limitações projetadas nas pessoas que fogem do padrão capacitista como gaguejar, decorar o texto ou encarar o público.

Para Giovana Soar, um dos trunfos da peça é nunca colocar os atores no lugar de vítimas. “A beleza desta montagem é aproximar uma obra mítica de um grupo de atores brilhantes que, por acaso, tem Down. Uma criação cênica completa e riquíssima que contribui muito para a linguagem teatral e para as perspectivas de um mundo mais plural”, disse.

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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