Lugar das atrizes no teatro é tema da peça Tríptico A Morte da Estrela, que chega ao Sesc Ipiranga
Em curta temporada, a peça apresenta três atos que podem ser assistidos de forma individual
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
No teatro independente produzido na cidade de São Paulo, o papel da atriz é bem diferente daquele da grande estrela que persiste no imaginário popular. E é justamente sobre isso que fala um novo espetáculo que chega aos palcos de São Paulo.
Tríptico A Morte da Estrela é um conjunto de três peças idealizado apenas por artistas mulheres que procura explorar as mudanças na forma de interpretação das atrizes de um tipo de teatro no século 21.
A peça tem como tema central a falência dos grandes sistemas e o questionamento social da ‘estrela’. A estreia será dia 7 de outubro, no Sesc Ipiranga, em São Paulo, onde ficará em cartaz até 6 de novembro.
Composta por 3 estações, a obra foi construída em uma narrativa de tempo cronológico, mas também há a possibilidade de assistir um ato individual, perdendo a coesão, mas dando diferentes percepções às três mortes simbólicas da obra, que o Blog do Arcanjo conta a seguir.
Estação Lembre-se de mim
Dirigido por Natália Mallo, com dramaturgia inédita de Vana Medeiros, o ato apresenta a morte simbólica do sistema baseado no protagonismo estelar. Atordoadas por uma aparição fantasmagórica, três atrizes brasileiras do teatro independente têm a missão de salvar uma estrela do passado de sua morte por esquecimento. O ato traz um debate sobre as mudanças na cena e na sociedade, em diálogos afiados e canções icônicas, sempre marcados pela ironia.
Estação Devir o quê?
Tem direção de Lu Favoretto, que também assina a dramaturgia junto às atrizes. O ato busca mostrar a morte da cena representativa, diante de uma abertura marcante. As atrizes utilizam de uma linguagem em que dança, teatro e arte desconstroem as estrelas que habitam, com as imposições sociais relacionadas às mulheres.
Estação Emborar
Claudia Schapira e Cibele Forjaz são responsáveis pela dramaturgia e direção, respectivamente. Nesta estação está a morte simbólica do teatro de espetáculo. O mito narrado pela pajé indígena Mapulu Kamayurá conta a narrativa tradicional das Yamuricumã que partem em marcha, abandonando suas famílias e terras, para construir um outro mundo, em outro lugar.
Além dos limites do teatro
“O Tríptico A morte da estrela também pretende ir além dos limites do teatro, queremos discutir a relação entre entes viventes, usando o teatro como estratégia de análise do mundo e território de subversão, que permita vislumbrar uma ação poética (e política) capaz de encaminhar as energias do coletivo para rumos mais ritualizados e vitais”, comenta a atriz Lucia Romano.
Assinaturas
Natalia Malo, Lu Favoreto e Cibele Forjaz assinam a encenação. Fernanda Haucke, Lúcia Romano e Thais Dias atuam, além de colaborarem na concepção da cena e na dramaturgia. A escrita dos textos tem a participação de Vana Medeiros e Cláudia Schapira. Carla Caffé assina a direção de arte, cenografia e figurinos, ao passo que Cibele Forjaz faz o desenho da luz. A composição sonora é de Natalia Malo, e a direção de produção, de Gabi Gonçalves, coordenando a equipe da Corpo Rastreado. Ao lado delas, outras muitas mulheres estão presentes.
Sinopse
A atriz francesa Adrienne Lecouvreur (nascida em 1692 e falecida em 1730), filha de um chapeleiro falido, muito popular e considerada uma das melhores atrizes de seu tempo busca um modo mais natural e realista de atuar.
Nos palcos desde os quatorze anos, ela morreu misteriosamente aos trinta e oito, em situação que nunca chegou a ser desvendada – o motivo mais provável é que tenha sido envenenada por uma adversária.
Sua vida acabou sendo tema de poemas, óperas, peças teatrais e filmes, onde a Lecouvreur foi interpretada por outras estrelas.
A passagem de Adrienne Lecouvreur no mundo ilustra a situação social da atriz-estrela e o imaginário que circunda sua figura. Embora tenha uma inconsistência cronológica, as atrizes brasileiras contemporâneas mostram a permanência de um paradigma da profissionalização e do sucesso das mulheres no teatro.
Serviço
Trípitico A Morte da Estrela vai ser apresentado no SESC Ipiranga, de 7 de outubro a 6 de novembro de 2022, em temporada de sexta a domingo; sextas das 20h às 22h, sábados das 20h às 23h e domingos das 18h às 20h. As estações têm em média 50 min de duração e podem ser assistidas em separado. Prevê-se o sorteio da sequência de apresentação e o deslocamento do público ao longo do tríptico. Retire seu
Colaborou Carolina Fayad
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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