Ônibus da Zózima Trupe é despejado de garagem da SPTrans: ‘Trágico processo’

Ônibus-teatro da Zózima Trupe estacionado no Terminal Parque Dom Pedro II em São Paulo: veículo foi despejado pela SPTrans – Foto: Guilherme Kramer/Divulgação – Blog do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O ônibus no qual a Zózima Trupe realiza suas peças repletas de poesia em diálogo com os trabalhadores e a urbanidade em São Paulo foi despejado pela SPTrans da garagem onde o veículo ficava estacionado, segundo informou o grupo ao Blog do Arcanjo.

A decisão do órgão público municipal inviabiliza as obras do grupo. A Zózima Trupe é um coletivo formado por artistas periféricos que pesquisam o ônibus como espaço cênico há quase 15 anos. Durante oito anos, a trupe fez residência artística no Terminal Parque Dom Pedro II, no centro da capital paulista.

Segundo Tatiane Lustoza, fundadora e produtora da Zózima Trupe, a ação é “mais um retrocesso para os artistas, os cidadãos e a cultura desse país”. A Zózima Trupe reafirma a importância do trabalho que desenvolve e lamenta o que chama de “notícia devastadora” em um “trágico processo de despejo” com o impedimento de seu ônibus ficar estacionado na garagem da SPTrans.

De acord com a Zózima Trupe, a SPTrans nunca deu nenhum apoio além da cessão do espaço. Sem a parceria, o grupo precisa urgentemente de um local para guardar o ônibus.

Cordel do Amor sem Fim, sucesso da Zózima Trupe encenado dentro de um ônibus – Foto: Christiane Forcinito/Divulgação – Blog do Arcanjo

“Sempre oferecemos nossa programação cultural gratuitamente aos trabalhadores e passageiros de ônibus e terminais urbanos, mesmo quando as ações eram feitas sem recursos públicos, mesmo quando nós e nossos parceiros estávamos sem receber um centavo pelo nosso trabalho”, recorda.

“A SPTrans deveria nos agradecer, não nos expulsar. Deveriam desenvolver uma política cultural a partir da nossa bem sucedida experiência para implementar essas ações nos 32 terminais espalhados pela cidade de São Paulo e que atendem diariamente 8,8 milhões de passageiros que em sua maioria quase ou nunca foram ao teatro”, pontua Lustoza.

“O transporte público é símbolo de muitas crueldades da cidade. Seja pelos valores das passagens que rouba nosso direito de transitar e circular. Seja pela violência contra as mulheres, seja pelo tempo de vida que é desperdiçado nas longas viagens entre periferia e centro”, afirma.

Desterro, peça da Zózima Trupe encenada em seu ônibus no Terminal Parque Dom Pedro II - Foto: Guilherme Kramer/Divulgação - Blog do Arcanjo
Desterro, peça da Zózima Trupe encenada em seu ônibus no Terminal Parque Dom Pedro II – Foto: Guilherme Kramer/Divulgação – Blog do Arcanjo

A produtora cultural diz que “o transporte foi o grande símbolo de disseminação da covid-19 para aqueles que não puderam parar e consequentemente perderam suas vidas. Há pesquisas que dizem que os profissionais que mais foram desligados por morte de covid-19 foram motoristas e cobradores de ônibus”.

A Zózima Trupe, foi indicada ao 32º Prêmio Shell no quesito Inovação por sua pesquisa contínua e suas ações de ampliação de público, que proporcionou acesso a atividades artísticas, culturais e formativas para quase 50 mil pessoas, em sua maioria passageiros e trabalhadores do transporte público da cidade de São Paulo.

A SPTrans tornou-se parceira logística do grupo em 2009, oferecendo a cessão de espaços para as ações culturais da Zózima Trupe. Três anos depois, em 2012, a Trupe adquiriu seu veículo próprio, um ônibus vendido por uma empresa sediada na região do Brás. Desde então, a parceria é mantida para que o grupo tenha onde deixar o ônibus estacionado. O que agora deixa de existir.

A SPTrans não se pronunciou até o momento sobre o caso.

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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