Da janela ao palco, Soraya Ravenle espanta o mal no show Ubirajara

Soraya Ravenle no show Ubirajara - Foto: Cristina Granato/Divulgação - Blog do Arcanjo
Soraya Ravenle no show Ubirajara – Foto: Cristina Granato/Divulgação – Blog do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Atriz e cantora com farta trajetória nos palcos brasileiros, Soraya Ravenle estreia neste sábado (28) seu show Ubirajara, cuja ideia inicial nasceu de cantorias no prédio onde vive e que dá nome ao espetáculo, que ajudaram a espantar um pouco do clima pesado na quarentena.

Ubirajara tem sessões neste sábado (28) e domingo (29), às 19h, no Espaço Cultural Muncipal Sergio Porto (r. Humaitá, 163, Humaitá), com ingressos a R$ 20 e R$ 40. Nos dias 9 e 16 de setembro, duas quintas seguidas, às 19h, ela sobe ao palco do Teatro PetraGold (r. Conde de Bernadote. 26, Leblon), com ingressos a R$ 25 e R$ 50 no presencial e R$ 20 no online.

Nesta entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo, a atriz fala da parceria com Inez Viana na direção e outros artistas que fazem participações especiais no projeto, fala sobre o preconceito que ainda existe com mulheres que assumem o cabelo branco e revela o que deseja para 2022.

Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – O que este show tem a ver com o prédio onde você mora?
Soraya Ravenle –
Essa cantoria nasceu exatamente no dia 4 de maio, dia do encantamento do Aldir Blanc, quando um grupo de moradores pediu para que eu puxasse pela janela O Bêbado e a Equilibrista. Foi emocionante, pois ali compartilhamos a dor da perda de um mito da cultura brasileira e também as perdas que cada um já tinha passado, assim como a do fim da vida vivida como conhecíamos até aquele momento. Ritualizamos. A partir deste dia, outras janelanças aconteceram, quando cantamos, conversamos, e gritamos fora, você sabe quem. Uma moradora sugeriu que eu cantasse na quadra para que outros moradores que não visualizam a minha janela pudessem ver. Isso me atiçou, eu podia criar uma ação ao vivo!  Chamei Inez Viana para criarmos juntas e desde então nos encontrávamos por zoom para ensaiar, tipo de 15 em 15 dias. Eis que a minha segunda dose chegou dia 2 de agosto, nós já passávamos corridos, chamei Laura Samy e G’leu Cambria, mulheres do corpo para darem seus olhares, pois já queríamos mostrar, então decidimos colocar esse bloco na rua!

Detalhe do Edifício Ubirajara, em Botafogo, no Rio de Janeiro: cantoria na quarentena rendeu novo show de Soraya Ravenle - Foto: Divulgação - Blog do Arcanjo
Detalhe do Edifício Ubirajara, em Botafogo, no Rio de Janeiro: cantoria na quarentena rendeu novo show de Soraya Ravenle – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Como se deu a escolha do repertório? 
Soraya Ravenle –
Trata-se dos rastros de vida vivida, e lanças para o futuro. Vejo hoje que fui em busca de afetos, para isso busquei trazer os amigos pra perto através da música: Libertango (grupo), com quem gravei o CD Quatro Ventos, comparece com Rosa dos Ventos do Chico Buarque; do Edu Krieger canto Lama, que estava no show A Era dos Festivais, onde conheci PC Castilho, que gravou com sua flauta mágica na emblemática Bella Ciao. Wallie Ruy, atriz paulista, cedeu uma base – com sua voz – do seu solo sobre a Cláudia Wonder (cantora ícone underground de São Paulo), então canto junto com Wallie! Minha filha Julia Bernat e sua companheira Stella Rabello fizeram uma gravação caseira da Quem É do Amor, de Sérgio Sampaio, e eu canto com elas. João Callado gravou uma base para Todo Cambia; Diego Zangado para Nó Molhado, do Monsueto. Nos últimos anos, dei pra compor, minhas melodias receberam letras de Ana Kiffer e Tatiana Roque – que é vizinha -, letra da Georgette Fadel, bases da Maria Clara Valle no violoncelo, e Joana Queiróz, clarone, e por aí vai!  

Miguel Arcanjo Prado – Tem alguma canção que é xodó?
Soraya Ravenle –
Sinceramente, não, porque cada uma simboliza uma parte de um discurso maior que convoca a Liberdade.

Miguel Arcanjo Prado – Como foi o jogo com a Inez Viana como diretora?  
Soraya Ravenle –
Ah, Inez se tornou uma diretora maravilhosa, sensível ao universo do outro, isso poucos têm. Perceber as potências ali indicadas e promovê-las, trazê-las à tona. Foi um diálogo rico de pensamentos sobre o que estamos vivendo no nosso país, como não podia deixar de ser. Me parece que é uma resposta artística para o que nós vivemos nesses tempos – assim como na dimensão da produção, feita sem nenhum apoio financeiro, só apoios afetivos. Inez é buscadora, inquieta, assim como eu, então o jogo foi lindo, jogo aberto, falante, afetivo, engraçado, sincero, intenso e, diria, transformador. Agradeço mil vezes sua parceria!

Soraya Ravenle no show Ubirajara - Foto: Cristina Granato/Divulgação - Blog do Arcanjo
Soraya Ravenle no show Ubirajara – Foto: Cristina Granato/Divulgação – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Qual a principal mensagem deste seu show? 
Soraya Ravenle –
Sinto que lançamos pensamentos sobre: Por que cantar? Como seguir fazendo o que fazemos, arte? O que é liberdade para cada um de nós? Que outras formas de estar no mundo?
  
Miguel Arcanjo Prado – E esse look? Quando resolveu adotar o cabelo branco? 
Soraya Ravenle –
Pintei muito tempo, cansei. Tomei essa decisão há 3 anos. Não é fácil, pois as pessoas no Brasil te veem uns 20 anos mais velha por conta dos cabelos brancos. Isso está enraizado na cultura brasileira, pois ainda estamos presas e presos à necessidade de parecer jovem, ou mais jovem do que se é. Penso que isso reflete o quanto os mais velhos são deixados de lado, para não dizer rejeitados, na nossa sociedade. Ser mais velho é sinônimo de perda de valor. Sinto que encontro outras belezas, outras trocas com o mundo, muito mais profundas e livres agora, com 58 anos. De fato, parar de pintar é assumir a passagem do tempo, e isso não quer dizer não me cuidar fisicamente, muito pelo contrário!  

Parar de pintar é assumir a passagem do tempo, e isso não quer dizer não me cuidar fisicamente, muito pelo contrário!

Soraya Ravenle, atriz

Miguel Arcanjo Prado – O que você sonha para 2022?
Soraya Ravenle –
Resumo do resumo do resumo: Fora Bolsonaro e sua corja! Que nos livremos dele antes até de 2022, o que está parecendo ser difícil… a vida vai melhorar em todas as suas dimensões quando esse fascista sair do poder.

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Um dos jornalistas culturais mais respeitados do Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação pela UFMG e crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo PodFoi eleito um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se por três vezes. Recebeu a Medalha Mário de Andrade, maior honraria nas letras do Governo do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. É presidente do júri do Prêmio Arcanjo e integra o júri do Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Guia da Folha, e Canal Brasil de Curtas. Recebeu ainda o Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil e Prêmio Leda Maria Martins.
Foto: Edson Lopes Jr.
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