Eduardo Martini se inspira no pai e retrata Alzheimer em Pra Você Lembrar de Mim

Eduardo Martini e Carina Sacchelli em Pra Você Lembrar de Mim - Foto: Rodrigo Chueri/Divulgação - Blog do Arcanjo
Eduardo Martini e Carina Sacchelli em Pra Você Lembrar de Mim – Foto: Rodrigo Chueri/Divulgação – Blog do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Após impressionar o público como Clodovil Hernandes em Simplesmente Clô, solo dirigido por Viviane Alfano a partir do texto de Bruno Cavalcanti, o ator Eduardo Martini, pioneiro na retomada do teatro presencial, embarca em novo projeto teatral nesta sexta (13), às 21h, no Teatro União Cultural (r. Mário Amaral, 209, Paraíso, São Paulo). Trata-se da peça Para Você Lembrar de Mim, com dramaturgia de Regiana Antonini, na qual o artista contracena com Carina Sacchelli sob direção de Elias Andreato. O enredo apresenta filha e pai após um diagnóstico precoce de Mal de Alzheimer. A obra fica em cartaz até 3 de outubro, sexta e sábado, 21h, e domingo, 19h, com ingressos à venda na Sympla. O Blog do Arcanjo conversou com o o ator com exclusividade sobre este novo projeto, inspirado no que passou com seu pai, e os rumos de Simplesmente Clô. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Você é um dos nomes da retomada do teatro presencial. Como é viver este momento e qual lição maior aprendeu neste período?
Eduardo Martini –
É maravilho ser um dos poucos nomes que levou o teatro presencial no meio desta história toda. Não existe nenhum ego aqui. Existe uma fé, uma determinação, uma crença em mim e no meu trabalho. Uma crença nas pessoas que estão a minha volta: Bruno no texto, Viviane na direção, Rafaela na bilheteria, Felipe na luz e no som. Eu acho que é uma coisa de você acreditar, acreditar em você e principalmente entender qual é este momento. A vida mudou, a pandemia mudou a vida, a trajetória das pessoas, mudou o jeito de agir… E eu acho que eu busquei este entendimento, nas minhas orações todos os dias ao vivo, o meu entendimento nas minhas ações, nas conversas, na percepção de entender que tudo mudou. A gente não pode mais agir da maneira que a gente agia antigamente. As restrições, a máscara, o álcool gel… Todas as situações eu consegui captar, entender, me adaptar e colocar em prática e eu tô muito feliz, muito agradecido a Deus, ao Universo, à essa energia maravilhosa. Por ter me cuidado, com responsabilidade, de estar com saúde, de não ter pegado este vírus e ter podido levar arte e cultura com qualidade. Não foi qualquer coisa que eu fiz, o Clodovil realmente mudou a minha história.

Eduardo Martini e Carina Sacchelli em Pra Você Lembrar de Mim – Foto: Rodrigo Chueri/Divulgação – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Por que quis contar essa nova história: Pra Você Lembrar de Mim?
Eduardo Martini –
Eu quis contar essa história que na verdade é uma homenagem a todos os cuidadores, às pessoas que realmente se dedicam a cuidar de uma doença irreversível, num é, como o Alzhaimer. Muito sofrimento porque a pessoa não reconhece mais aquele parente, aquele amigo que está com a doença. Existe um sofrimento nisso pela não aceitação de que a pessoa não está mais ali. Contar essa história é contar um pouco da minha história também, que eu vivi com meu pai, que eu vi a minha mãe e meus irmãos sofrerem por não reconhecerem mais nele aquele homem ativo, superintendente financeiro da Itaipu, um homem inteligente e completamente dependente da gente. Eu acho que é uma homenagem a todos aqueles que bravamente cuidam desses pacientes.

O diretor Elias Andreato – Foto: Divulgação – Blog do Acanjo

Miguel Arcanjo Prado – Como é reencontrar o Elias dirigindo mais uma peça sua?
Eduardo Martini –
Encontrar o Elias é sempre uma felicidade, não só pela qualidade artística mas pela qualidade humana. A gente se identificou muito, em muitas conversas, muitos papos e muitas histórias que a gente se encontrou. O Elias foi uma pessoa muito, muito generosa comigo. Quando ele me dirigiu n’O Papo com Diabo, eu aprendi muito, eu vi muita coisa, eu descobri uma pessoa que fala a mesma língua que eu. E, exatamente neste momento, ele me encaminhou de uma maneira tão diferente, tão generosa nessa nova faceta da minha carreira. É um personagem que não tem nenhuma característica, digamos, de caracterização. Muito difícil de fazer, porque o personagem não se emociona. Apesar de falar as coisas mais lindas, ele não se emociona, quem se emociona é o público, né? Fazer um personagem que não se emociona, fazer o ator não chegar a essa emoção no palco, mas emocionar, é uma matemática complicada.

Miguel Arcanjo Prado – Como a Carina chegou ao espetáculo e como tem sido este encontro?
Eduardo Martini –
Carina e eu temos uma relação antiga, de muita amizade, parceria e companheirismo, e sempre tivemos esse desejo de levar essa cumplicidade para o palco. Eu propus à Regiana Antonini um texto sobre a relação de um pai e uma filha e ela veio com essa ideia do Alzheimer. Eu convidei o Elias e juntos tivemos certeza de que a Carina seria a pessoa ideal, e eu e Carina entendemos que havia chegado nosso momento em cena… Aconteceu!

Eduardo Martini é Clodovil em Simplesmente Clô: temporada segue no Teatro das Artes, no Rio, às quintas – Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Simplesmente Clô é sucesso de público mesmo neste momento tão delicado. Pretende retomar o espetáculo no futuro aqui em São Paulo? No Rio continua?
Eduardo Martini –
Mas claro que sim! O Clodovil eu ainda não consegui chegar perto daquilo que eu quero fazer com essa personalidade tão incrível. Nós vamos retomar em setembro, no Teatro Fernando Torres… E eu não quis fazer no Teatro União Cultural, porque Para Você Lembrar de Mim é um momento muito delicado do teatro. Toda sanitização que tem que ser feita, teria que ser feita numa maneira muito rápida, com uma equipe grande e aí é dar um tiro no próprio pé. Então, a gente para duas semanas e volta em setembro em São Paulo. Mas continuo no Rio de Janeiro, que é uma surpresa, é um sucesso, o Teatro das Artes está lotado e estamos muito felizes lá.

Retire seu ingresso para a peça Pra Você Lembrar de Mim

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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