Lucia Camargo é homenageada por Cléo De Páris na live Desamparos

Por Miguel Arcanjo Prado

A atriz Cléo De Páris fará homenagem a Lucia Camargo, gestora cultural e jornalista que morreu nesta segunda (20), aos 76 anos, devido a complicações de um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Cléo vai dedicar um texto escrito especialmente para a amiga durante a live Desamparos nesta terça (21), às 22h, no seu Instagram @cleodeparis, sob direção de Fábio Penna.

“Vou ler hoje como se fosse pra ela na plateia. Ela partiu no dia do amigo”, diz Cléo, emocionada.

O Blog do Arcanjo adianta em primeira mão o texto da homenagem.

Leia: Morre Lucia Camargo, ícone da cultura no Brasil

Lucia Camargo. A amiga.

Dois dias de tristeza incandescente no meu coração. Em centenas, talvez milhares de corações. Ela estava feliz, há duas semanas, quando aprendeu a dominar a tecnologia e pudemos, alguns amigos e colegas (como ela gostava de chamar) ver seus olhos serelepes e seu sorriso saltitante nas telas de nossos computadores. Mas há dois dias ela estava malzinha. Teve um mal súbito, não voltou mais.

Hoje despediu-se desse mundo triste. Foi. Mas ficou. Ficou pra sempre aquele olhar, aquela alegria e o amor imenso pelo teatro. A devoção ao teatro. Trabalhar com a Lucia foi sempre mais festa que trabalho. Ela não carregava segredos e problemas, mas generosidade e soluções. De uma integridade que vi poucas vezes nessa vida, sempre cheia de ideias lindas e sempre disposta a dividir tudo, as conquistas, os louros, as delicadezas. E Lucia era tão dada a delicadezas… um luxo ser colega dela! Um luxo! Levava docinhos para todos, levava bolo, até milho verde cozido ela já levou! Inventava umas festinhas no meio da tarde com pipoca, suco, paçoca.

Nas reuniões era sempre certeira nos comentários e nas ideias, sempre disposta a somar e sempre ajudando quem precisasse. Uma mulher forte e poderosa, uma menina festeira.

Eu a conheci há muito tempo, quando apresentamos Vestido de Noiva em Belo Horizonte, os Satyros, no Palácio das Artes, que ela comandava. Um dos teatros mais lindos e bem cuidados que tive a honra de me apresentar.

Quis a sorte que ela viesse trabalhar ao nosso lado na SP Escola de Teatro… e quis mais, a sorte, quis que fôssemos vizinhas de porta de salas.

A Lucia era dessas pessoas que sabem dar afeto sem invadir, que cuidam sem vitimizar. Era amiga de verdade e sempre. Ela levava flores pra mim, às vezes. Um dia eu estava triste e no dia seguinte, em minha mesa, tinha uma goiabada cascão embrulhada pra presente e com laço de cetim. “Pra adoçar sua vida”, ela me disse.

Foi uma das pessoas que mais me incentivaram a voltar para o teatro. Dizia que eu era linda, talentosa, que o teatro não merecia a minha ausência. Ela queria que eu fizesse Ofélia em um monólogo. Vibrou muito quando começamos a apresentar Desamparos. Queria muito ver, mas acho que não teve tempo. Não importa. Importa que ela faz parte dessa minha conquista e das conquistas de tanta gente…

Eu estava chorando bastante esses dias. Rezando, acendendo velas. Hoje, aqui na minha Macondo, tocou o sino da morte. Fui caminhar um pouco ao anoitecer. Quando voltei, acendi a luz do quarto e a lâmpada queimou. Peguei correndo o celular e a mensagem chegou na hora. ela partiu hoje, mas ficou pra sempre.


Cléo De Páris, atriz

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1 Resultado

  1. 21/07/2020

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