Derruba logo o Minhocão, gente!

São Paulo merece ser assim outra vez: praça Marechal Deodoro arborizada e sem o Minhocão; elevado precisa ser derrubado para o centro voltar a respirar com dignidade – Foto: Reprodução – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Este colunista só tem um sonho ultimamente: assistir de camarote a derrubada do Minhocão, o horroroso viaduto que o então prefeito Paulo Maluf inaugurou no centro de São Paulo em 1971 e que degrada e atormenta até hoje todo seu entorno.

Os moradores dos bairros paulistanos República, Santa Cecília, Campos Elíseos e Barra Funda só falam atualmente da possibilidade de mudança no tal elevado João Goulart, seu nome oficial.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou que deseja criar um parque suspenso em cima do horrendo viaduto ao custo de R$ 38 milhões aos cofres públicos municipais, fora a manutenção diária cotidiana em verde e segurança.

No desenho, tudo parece lindo. Sobretudo, na parte de cima, o que passa a falaciosa ideia de que o tal parque suspenso vai recuperar a paisagem da área central, destruída pela construção feita em nome da mobilidade de carros em detrimento das pessoas, que se afogam no barulho e na poluição provocada pelo Minhocão, acima e abaixo.

Imagem da construção do Minhocão em 1970: elevado degradou a paisagem e a vida no centro paulistano – Foto: Reprodução – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

Mas, como dizem os mais velhos, “de boas intenções o inferno está cheio”. O tal parque não vai resolver o grande problema do viaduto: sua parte de baixo, onde a fumaça atormenta quem ali trabalha, vive ou passa, além do barulho infernal do trânsito, que não tem como se dissipar. Ou seja, o tal parque “só taparia o sol com a peneira”, para usar outra sabedoria popular.

A isso, acrescente-se outro problema gravíssimo e que só piora dia a dia: o número de usuários de crack e de pessoas em situação de rua que vivem debaixo do viaduto em toda sua extensão, formando uma espécie de cracolândia retilínea do Minhocão. E ela só cresce após a desastrada operação do então prefeito João Doria (PSDB) em 2017 que jurava ter acabado com a cracolândia. Doce ilusão, o que fez foi espalhá-la em todos os bairros do centro.

Este colunista sabe o que diz. Desde que se mudou de Belo Horizonte para a capital paulista em 2007, sempre viveu nas cercanias do famigerado viaduto. E vê com os próprios olhos o horror cotidiano que ele é e que se agrava dia após dia.

Além de não resolver esse problema, o tal parque suspenso tem tudo para virar, ao longo dos anos e com o costumeiro descaso do poder público para com os espaços públicos, uma espécie de cracolândia suspensa, com viciados e criminosos escondidos entre os arbustos prontos para atacar o primeiro morador que se aventurar lá em cima.

Portanto, é melhor encarar a única solução possível: derrubar de vez algo que nunca deveria ter sido construído. Abaixo o Minhocão.

Que se imploda cada concreto do elevado sem dó nem piedade. Que a rua Amaral Gurgel e avenidas São João e General Olímpio da Silveira possam outra vez respirar, ver o céu, o sol, a lua e as estrelas. Que os moradores dos prédios em sua extensão recuperem a tão sonhada privacidade.

E que se plantem nos canteiros centrais árvores frondosas, trazendo de novo o verde para o coração do centro, recriando um boulevard com raízes fincadas na terra, como deve ser.

Derruba logo o Minhocão, gente!

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Devolvam o céu para o centro paulistano: rua Amaral Gurgel antes da criação do Minhocão: canteiros centrais podem ganhar plantio de árvores frondosas, transformando a via em um boulevard – Foto: Reprodução – Blog do @miguel.arcanjo – UOL

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