Crítica: Festival de Curitiba consagra musical O Frenético Dancin’Days

Musical “O Frenético Dancin’Days” sai consagrado do 28º Festival de Curitiba com a pulsante história da lendária boate carioca ícone dos anos 1970 – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Musical com a história da lendária discoteca carioca hipnotiza público do maior evento das artes cênicas na América Latina e volta consagrado do Festival de Curitiba para a temporada paulistana no Teatro Opus.

Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“O Frenético Dancin’Days”
Avaliação: Ótimo ✪✪✪✪✪

O escritor, jornalista e produtor musical Nelson Motta tem na própria vida o resumo da história da cultura brasileira da segunda metade do século 20. E, nessa trajetória tão pulsante, um capítulo especial é contado no musical “O Frenético Dancin’Days”.

A montagem hipnotizou o Teatro Guairão, com seus mais de 2.000 lugares lotados, na noite desta terça (2), no 28º Festival de Curitiba, maior evento das artes cênicas do Brasil e da América Latina, no qual foi aplaudido de pé por um público em êxtase e com vontade de invadir o palco-pista.

Sem dever a superproduções da Broadway, “O Frenético Dancin’Days” mostra que os musicais nacionais estão potentes e criativos – – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

O musical faz nesta quarta (3) sua última apresentação curitibana às 21h com ingressos esgotados no Guairão, antes de retornar a São Paulo, onde está em temporada no Teatro Opus, no shopping Villa-Lobos, na marginal Pinheiros, zona oeste da capital paulista.

A superprodução nacional não deve nada a espetáculos da Broadway e traz a lendária discoteca carioca criada por Nelsinho e um grupo de amigos íntimos, que durou velozes e efervescentes quatro meses no ano de 1976, com liberdade de corpos na pista em plena ditadura militar.

A balada democrática Dacin’Days abalou não só o Rio de Janeiro, então capital cultural do país, como reverberou e revolucionou costumes, influenciando toda uma geração que se acabava em sua iluminada pista ou sonhava em fazê-lo.

Invadimos o camarim: veja as fotos

Érico Brás e Bruno Fraga em cena de “O Frenético Dancin’Days”: coreografias ousadas impactam e envolvem o público – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

O lugar foi precursor de muitas novidades a nível internacional. Como o posterior Studio 54, lendária casa noturna de Nova York fundada um ano depois, ou mesmo a girl band britânica Spice Girls, surgida mais de 20 anos após as nossas tais Frenéticas. O grupo de garçonetes-cantoras-atrizes marcou a história do Frenetic Dancing Days Discotheque com sua diversidade vanguardista.

E o espetáculo não fica parado no tempo nostálgico. Deborah Colker acerta na direção da montagem na qual imprime juventude de sobra e rebuscado acabamento estético pop. Isso em parceria com a direção de arte e cenografia de Gringo Cardia e assistência de direção de Gustavo Wabner, além da luz propositiva de Maneco Quinderé.

Abaixo a caretice: Débora Reis em seu solo no musical “O Frenético Dancin’Days” – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

O numeroso elenco de quase três dezenas de artistas em cena são vestidos por impecáveis, coloridos e exuberantes figurinos de Fernando Cozendey, dignos de desfile de moda e de prêmio, que se aliam em cumplicidade com o visagismo do sacudido Max Weber.

Alexandre Elias faz sensorial direção musical, valorizando beats, vozes e interpretações de seus artistas em cena. Outro destaque são as vibrantes coreografias criadas por Deborah Colker e Jacqueline Motta, que passeiam por diferentes estilos, criando um conjunto de dança coeso e ritmado.

Figurinos exuberantes de Fernando Cozendey dialogam com a luz propositiva de Maneco Quinderé no musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Sendo um produto cultural destinado ao entretenimento, o espetáculo com texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade não se furta de lançar para o público recados importantes neste Brasil contemporâneo. Lembrando que muitos dos temas que estavam em ebulição no Dancin’Days seguem na pauta do dia, ainda tão complicadas de encontrarem abrigo na sociedade como um todo, mergulhada na guerra do ódio e do atraso.

Érico Brás mostra seu talento e carisma na pele de Dom Pepe, o lendário DJ em “O Frenético Dancin’Days” – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Ao criar uma espécie de antagonista da festa, papel interpretado no Rio por Stella Miranda e agora assumido com talento e veia cômica por Débora Reis, o espetáculo faz importante contraponto que representa boa parcela da sociedade contemporânea, ainda insistente em repetir surrados discursos conservadores.

Ao desconstruir tais falas, propondo olhar livre de preconceitos para a vida ao redor do umbigo de cada espectador, o musical cumpre a missão libertária daquela pista que conclamou liberdades individuais.

E o melhor: lembra que não é preciso ser chato para ser conscientizado, como boa parte do teatro nacional ainda teima em insistir com peças modorrentas e intelectualmente pretensiosas presas ao ego de seus criadores, espantando cada vez mais o público médio das salas teatrais. “O Frenético Dancin’Days” vai no caminho contrário: abraça e envolve o público para tentar, realmente, mudar algo.

Diversidade surge pelo musical “O Frenético Dancin’Days” de forma envolvente tal qual como na vanguardista discoteca – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Elenco diverso e talentoso

O elenco forma no palco uma unidade diversa e exuberante de gestos, cores, falas, vozes e sons. Como o Dancin’Days da vida real, o musical é uma grande miscelânea de talentos.

Érico Brás, Larissa Venturini, Bruno Fraga, Franco Kuster e Cadu Fávero: sintonia no time de protagonistas do musical “O Frenético Dancin’Days” – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

O time que interpreta os criadores da discoteca é potente: o altamente presente a cada entrada Érico Brás, como o icônico DJ Dom Pepe; Franco Kuster, carismático como o produtor gay power Leonardo Netto; Bruno Fraga, na medida perfeita da malemolência zona sul carioca de Nelson Motta; Cadu Fávero, como o sisudo comunista Djalma; a misteriosa e dona de voz aveludada Larissa Venturini, como a classuda Scarlet Moon; além de Ariane Souza, que rouba a cena com sua empoderada Madalena, sócia do pedaço, demonstrando domínio do tempo humorístico.

Ariane Souza mostra talento cômico e diverte a plateia como sua empoderada Madalena em “O Frenético Dancin’Days” – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Outro escândalo desmedido do elenco, no melhor sentido da palavra, é Natasha Jascalevich, que interpreta a sedutora mulher-furacão por quem Nelson Motta se apaixona perdidamente em Nova York, para onde vai buscar tendências para criar sua discoteca.

Seu bailado técnico, intenso e impecável no alto de um Empire State iluminado e, depois, sobre um globo reluzente são grandes momentos do espetáculo.

Natasha Jascalevich tem bailado técnico e sensual que prende a atenção e a respiração do público diante de tamanha beleza – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Claro que não poderiam faltar as Frenéticas, interpretadas com reverência e frescor por Carol Rangel (Edyr de Castro), Ester Freitas (Dhu Moraes), Ingrid Gaigher (Lidoca), Stephanie Serrat (Regina Chaves), Larissa Carneiro (Leiloca) e Giselle Lima (Sandra Pêra).

Completam o time talentoso os atores Ivan Mendes, Renan Mattos, Karine Barros e os bailarinos Edy Soares, Andrey Fellipy, Romulo Vlad, Julia Strauss, Elio Barbe e Thais Lírio, todos de intensidade ímpar, hipnotizando cada olhar do público.

“O Frenético Dancin’Days” mostra que temos histórias exuberantes para contar de forma que capte o público para a magia que só o encontro teatral é capaz de provocar. E lembra a todos nós que o teatro vale a pena apenas quando em sua festa vale tudo e todos.

Colaborou Braian Bogu

Enviado especial a Curitiba, no Paraná, o colunista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do 28º Festival de Curitiba.

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As Frenéticas ressuscitam em “O Frenético Dancin’Days” na pele de Ester Freitas, Larissa Carneiro, Ingrid Gaigher, Carol Rangel, Stephanie Serrat e Giselle Lima com a diversidade musical pop que foi vanguarda – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

A atriz Larissa Venturini, em cena do musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Érico Brás e Ester Freitas, dona de voz impressioante, em cena do musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Cena do musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Cena do musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Érico Brás em cena do musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Natasha Jascalevich em cena do musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

Cena do musical “O Frenético Dancin’Days”, sucesso no 28º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto – Divulgação Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo – UOL

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