Crítica: Regina Duarte domina O Leão no Inverno com força e ironia

Com força e ironia: Regina Duarte é o centro nevrálgico da peça O Leão no Inverno – Foto: Marcos Moraes/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“O Leão no Inverno” ✪✪✪
Avaliação: Bom

Regina Duarte é do tipo de atriz que se for à padaria comprar um pão deixará o padeiro e a caixa hipnotizados com o seu carisma inato. Não à toa, assim que colocou seu rosto na televisão, após ser descoberta no teatro por Antunes Filho, foi catapultada ao posto de grande estrela, logo ganhando a alcunha de Namoradinha do Brasil.

Retornando ao palco com uma personagem consistente e à altura de sua trajetória profissional, Regina Duarte é o centro nevrálgico do drama “O Leão no Inverno”. Na pele de uma ardilosa rainha ressentida pela humilhação de um rei que não só a largou por uma jovem amante, mas que ainda a mandou trancafiar na masmorra, a atriz demonstra domínio do tempo teatral a cada diálogo, dando seu texto em tom de refinada ironia.

Triângulo cheio de ressentimentos: Camila dos Anjos, Leopoldo Pacheco e Regina Duarte em cena de O Leão no Inverno – Foto: Marcos Moraes/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Obviamente, os olhos do público não desgrudam de Regina. Afinal, aos inacreditáveis 71 anos, ela está serelepe e jovial no palco. Mesmo contracenando com um elenco majoritariamente décadas mais novo, é dela o maior frescor cênico. Regina joga o teatro sem culpa, tal qual a menina que ainda é.

No embate com sua personagem, Leopoldo Pacheco também mostra serviço compondo um rei imerso na sisudez do poder, fazendo o contraponto necessário à sedução, mesmo que amarga, provocada pela personagem de Regina.

Após a novela, o palco: Caio Paduan em cena de O Leão no Inverno – Foto: Marcos Moraes/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

A direção de Ulysses Cruz busca impor sua assinatura para o texto do estadunidense James Goldman, que se tornou filme em 1968 nas mãos do diretor Anthony Harvey com os ícones Peter O’Toole, Katharine Hepburn e Anthony Hopkins no elenco.

Além de investir em uma cenografia composta de papéis amontoados e em um figurino pós-dramático, o mesmo opta por começar a peça de forma épica, utilizando-se do recurso do metateatro, na tentativa de implodir o drama, o que não surte muito efeito nas cenas subsequentes. Mais do que a encenação, o grande trunfo da peça é Regina Duarte e parte do elenco.

Elenco jovem: Michel Waisman, Sidney Santiago Kuanza e Filipe Bragança em cena de O Leão no Inverno – Foto: Marcos Moraes/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

A história se passa no século 12 e mostra a decadência do rei Henry II (Leopoldo Pacheco) da Inglaterra. Ele está em embate constante com sua mulher, a rainha Eleanor (Regina Duarte), que, liberta da prisão para as festas de fim de ano, conspira pela sucessão com os três filhos, interpretados por Caio Paduan, Michel Waisman e Filipe Bragança.

Contudo, o destaque do elenco jovem fica por conta de Camila dos Anjos e Sidney Santiago Kuanza, os forasteiros naquela família real. Mesmo tendo uma personagem que é o trunfo de virilidade do rei decadente, a púbere amante defendida por Camila ganha força diante da composição da atriz.

Embate potente: Leopoldo Pacheco e Sidney Santiago Kuanza observados por Camila dos Anjos em cena de O Leão no Inverno – Foto: Marcos Moraes/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Sidney, por sua vez, compõe com nuances de bravura e sutil elegância seu jovem Rei da França, por quem o príncipe herdeiro do trono britânico morre de amores. É importante ressaltar o aspecto positivo em termos de representatividade a escalação de um ator negro como um monarca europeu, o que foge dos estereótipos étnicos preconceituosos que infelizmente ainda são recorrentes nas artes brasileiras. Ponto positivo para o espetáculo.

“O Leão no Inverno” marca a volta de Regina Duarte em grande estilo como atriz de teatro, após recentes incursões como diretora teatral. Quem ganha é o público, ao ver de perto uma atriz que faz parte do imaginário afetivo coletivo nacional na defesa competente de uma azeitada personagem. Na pele da envolvente rainha Eleanor, ela demonstra força e ironia, como talentosa atriz que é.

Atriz domina a peça: Regina Duarte em cena de O Leão no Inverno – Foto: Marcos Moraes/Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“O Leão no Inverno” ✪✪✪
Avaliação: Bom
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 19h. 100 min. Até 29/7/2018.
Onde: Teatro Porto Seguro (al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo, tel. 11 3226-7300)
Quanto: R$ 25 a R$ 70
Classificação etária: 12 anos

Siga Miguel Arcanjo Prado

Please follow and like us: