Opinião: Ao descartar antigos talentos, TV cospe em sua própria história

A atriz Norma Blum: apelo por trabalho na internet comove Brasil e mostra como TV trata antigos talentos – Foto: Julia Chequer/Arquivo – Blog do Arcanjo/UOL

No país sem memória e onde o novo ignora quem veio antes abrir caminho, muita gente se entristeceu ao ver a atriz Norma Blum, de 78 anos e 65 anos de carreira, pedindo trabalho na internet.

Afinal, trata-se de artista gabaritada e reconhecida, com cerca de 70 trabalhos marcantes em novelas emblemáticas da televisão, veículo do qual ela faz parte do time de pioneiros.

Como pode ser deixada no escanteio uma profissional que tanto contribuiu com seu talento para a história da TV, que fez personagens em novelas que durante mais de seis décadas marcaram diferentes gerações?

Infelizmente, a situação que Norma Blum deixou explícita é corriqueira no Brasil. Somos um país que ainda não aprendeu a valorizar seus talentos maduros.

Atriz histórica, Norma Blum pede emprego na internet

E isso não é restrito ao campo artístico. Ocorre em todas as áreas, com profissionais excelentes sendo descartados pelo mercado só porque cometeram o crime de envelhecer no país que cultua eternamente a juventude.

No caso de Norma Blum, e de tantos outros atores e atrizes da velha escola que precisam implorar por trabalho, o que causa ainda mais indignação é vermos diariamente na TV tantas carinhas bonitas desprovidas de talento dramático. E tais figuras vão ganhando cada vez mais espaço, enquanto que grandes nomes vão em igual medida sendo descartados.

Assim, cria-se um panteão de estrelas fúteis e automáticas, sem trajetória ou talento e que ainda têm o péssimo hábito de serem arrogantes.

Qualquer jornalista ou fotógrafo do meio do Entretenimento sabe o tormento que é lidar com novinhos e novinhas soberbos da TV. Ao contrário dos antigos nomes, que costumam ser generosos e refinados com a imprensa, a nova geração parece cultivar a antipatia.

No Brasil, gente que atua que nem robô é louvado como se fosse uma Meryl Streep, uma Viola Davis, uma Fernanda Montenegro, uma Ruth de Souza. Aqui, vale a fama pela fama.

Ao descartar grandes atores que amam de fato seu ofício e possuem real talento, a TV cospe em sua própria história. E o teatro e o cinema parecem querer repetir tal desenho. E, pelo jeito, parece que apelos como o feito por Norma Blum, infelizmente, ficarão cada vez mais comuns. Que tristeza.

Por Miguel Arcanjo Prado

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