Pai do Cinema Novo, Nelson Pereira dos Santos refletiu nos filmes o Brasil

Pai do Cinema Novo, o cineasta Nelson Pereira dos Santos teve olhar atento para o Brasil profundo em seus filmes – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL
A morte do cineasta Nelson Pereira dos Santos, aos 89 anos, neste sábado (21), deixa órfão o cinema brasileiro.
O diretor paulistano radicado na maior parte de sua carreira no Rio foi um dos artistas que ajudou a forjar o estilo nacional de cinema que despontou já nos fins dos anos 1950 e ganhou força na década de 1960: o Cinema Novo.
Pioneiro, Pereira dos Santos foi precursor dessa escola já em 1955, quando lançou seu clássico “Rio 40 Graus”. O filme inovou ao adentrar as favelas cariocas com uma câmera nervosa que acompanhava o cotidiano de cinco jovens meninos do morro, quase 50 anos antes de “Cidade de Deus”.
O filme, um dos marcos do cinema feito no Brasil e na América Latina, é a prova concreta da genialidade do cineasta e merece ser visto com atenção pelas novas gerações deste Brasil tão desmemoriado.
Se o Rio ambientava as histórias do começo da carreira do cineasta, a partir dos anos 1970 ele dialogou fortemente com a Bahia, sobretudo aquela presente na obra do escritor Jorge Amado, em filmes como “O Amuleto de Ogum”, de 1974, “Tenda dos Milagres”, de 1977, e, mais tarde, em “Jubiabá”, de 1987.
Outro diálogo importante na carreira de Nelson Pereira dos Santos foi com a obra do escritor Graciliano Ramos (1892-1953), transformando seus livros em adaptações cinematográficas nos filmes “Vidas Secas”, de 1963, outro clássico de sua filmografia, e “Memórias do Cárcere”, em 1984, com grande atuação de Carlos Vereza na pele do escritor perseguido pela ditadura.
No século 21, o cineasta deu uma pausa na ficção para abraçar o documentário, contando grandes histórias como em “A Música Segundo Tom Jobim”, filme lançado em 2012.
Nelson Pereira dos Santos ainda contribuiu com a formação de novos cineastas brasieliros, fundando o curso de cinema da Universidade Federal Fluminense, onde lecionou. Ele era formado em direito pela Faculdade do Largo de São Francisco da USP (Universidade de São Paulo).
O diretor também entrou para a história ao ser o primeiro cineasta a entrar para a Academia Brasileira de Letras, por conta da genialidade dos roteiros que escreveu. Ocupava a disputada cadeira 7, cujo patrono é o grande poeta baiano Castro Alves (1847-1871).
O cinema brasileiro deve muito a Nelson Pereira dos Santos, o homem que perseguiu o Brasil profundo em suas obras. Sua morte, deixa nosso cinema muito mais pobre e triste.
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