Natália Sousa faz livro Tua Vida em Mim para ressignificar o luto

A jornalista e escritora Natália Sousa – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

A jornalista paulistana Natália Sousa enfrentou dois episódios que mudaram sua vida: no intervalo de um ano perdeu a mãe e o namorado, seu grande amor. Para lidar com o luto, e ressiginificá-lo, escreveu. O resultado é o livro “Tua Vida em Mim” (Autografia Editora), que ela lança nesta sexta (22), entre 19h e 22h, na Cia. do Livro (r. da Consolação, 896), em São Paulo.

A obra revela o caminho delicado e corajoso de uma mulher que aprendeu a transformar o mais profundo sofrimento em recomeço e poesia. E ela terá uma atitude poética para quem for ao lançamento: dois anos exatos após a morte de seu namorado, aos 32 anos, vítima de um câncer silencioso no começo da primavera, a autora doará sementes de girassol aos leitores.

“Para que plantem e lembrem que às vezes a gente precisa fazer esforço para ficar na direção da luz, mas vale a pena”, ela diz, em entrevista ao Blog do Arcanjo do UOL.

Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado — Qual é a ideia central do livro “Tua Vida em Mim”?
Natália Sousa — O “Tua Vida em Mim” não é um livro escrito, é um livro parido. Ele nasceu, porque eu precisava jorrar a incompreensão, o medo, a falta e a dor causadas pela morte do Gino, na época meu namorado. Ele morreu aos 32 anos de um câncer raro e silencioso, um ano depois da minha mãe também falecer. Ele era o cara que eu tinha escolhido para ser pai no meu sonho mais antigo de ser mãe, e foi quem que me curou de todos os machucados, me amou com tudo que eu era. Ele me devolveu para mim. O livro reúne os textos que escrevi naquele período, durante o mais profundo sofrimento, mas, por algum milagre, fala de amor. Essa força que faz a gente acreditar teimosamente na vida.

Miguel Arcanjo Prado — Fazer este livro foi uma espécie de catarse artística para enfrentar a grande perda do seu amado e seguir em frente? 
Natália Sousa — Foi. Porque a incoerência da morte é que o amor não acaba com ela. É como se você estivesse escolhido uma estrada para caminhar acompanhado. O outro vai embora, mas ainda tem chão. E você continua, sozinho. E é uma solidão que só acaba quando esse alguém volta. Ou você se cura. Só que tudo isso demora, dá trabalho, leva tempo – um tempo que não é o do relógio. Nem da nossa pressa. Recorri à escrita para transformar o luto em outra coisa. Para desenhar o caminho e os passos que precisava dar no dia seguinte. Como se derramando meu sofrimento no papel, sobrasse espaço para ter esperança. Continuei para que o Gino, por meio dos textos, pudesse existir de outras forma. E essa ideia de eternizá-lo, me curou.

Miguel Arcanjo Prado — As pessoas jovens geralmente não têm próxima a ideia da finitude. Estas perdas mudaram sua forma de enxergar a vida? 
Natália Sousa — Acho que a mudança mais significativa foi na forma de enxergar a dor. E Deus. Não conseguia entender onde entrava a bondade d’Ele em meio àquele sofrimento. Hoje, quando recebo e-mails de pessoas enlutadas, dizendo que a forma com que eu encarei as coisas, trouxe esperança para elas, as coisas ganham outro sentido para mim. A morte não é evitável, a dor também não. Estão na vida. E ela dói e sangra para todo mundo. Mas a forma que a gente escolha vivê-las, muda consideravelmente tudo. Acho que foi isso que as minhas mortes me ensinaram. E sou grata.

Capa do livro “Tua Vida em Mim”, de Natália Sousa – Foto: Divulgação

Miguel Arcanjo Prado — Seu livro é também uma exposição de parte de sua intimidade. Como lidou com isso no processo de feitura do livro e agora em seu lançamento? Está apreensiva? 
Natália Sousa — Tem minha alma em cada ponto, vírgula e palavra. Tem meu coração em carne viva em cada página. E expor tudo isso assusta. A sensação é de abrir o peito e mostrar o que tenho de mais sagrado – e frágil – e assumir que não tenho controle sobre como outro vai tocar. E enxergar. Mas o amor é essa força maior do que qualquer coisa. E ele me é coragem.

Miguel Arcanjo Prado — Você escreve muito bem, tem estilo. Pensa em escrever ficção no futuro? 
Natália Sousa — Penso em escrever um livro de crônicas, logo. Sempre foi meu estilo preferido de texto. Ficção fica naquela listas do “talvez, um dia”. A escrita, para mim, sempre andou de mão dada com a realidade pura – ou com parte dela – não sei se escrever ficção é para mim.

Miguel Arcanjo Prado — Por que você escreve?
Natália Sousa — Escrevo para fazer a vida caber dentro de mim. Ela é imensa. E me encanta. Escrevo para que, por alguns segundos, eu possa comportá-la dentro do peito. Escrevo também para dar contorno em tudo que em mim é solto. E só.

Miguel Arcanjo Prado — Qual ideia você gostaria que as pessoas levassem para casa com seu livro “Tua Vida em Mim”?
Natália Sousa — De que a vida é boa. E que todos os dias – inclusive os tristes – são importantes. Se não para desfrutar, para aprender. A natureza é essa lição. Tudo nela tem um ciclo. Começa e termina. O lançamento do livro acontece no primeiro dia da primavera, que é o mesmo em que o Gino morreu, 22 de setembro. E para celebrar a vida dele e o recomeço: (vou te contar um segredo) vou dar de presente para todos os que forem sementes de Girassol, para que plantem e lembrem que às vezes a gente precisa fazer esforço para ficar na direção da luz, mas vale a pena.

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