Mirada leva 65 mil pessoas ao teatro na Baixada Santista

Cena do espanhol "4", que causou polêmica por ter animais no palco em Santos - Foto: Divulgação

Cena do espanhol “4”: polêmica e multa por ter animais no palco em Santos – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Santos (SP)*

A quarta edição do Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos levou 65 mil pessoas ao teatro. O evento começou no último dia 8 e terminou neste domingo (18), com 43 espetáculos na programação, dos quais 28 foram produções internacionais, somando participação de 12 países.

O número de público foi informado ao Blog do Arcanjo do UOL pelo gerente do Sesc Santos, que sediou o evento, Luiz Ernesto Figueiredo, o Neto, em entrevista exclusiva. O dado é menor que os 70 mil de 2014 e os 100 mil de 2012, superando apenas a edição de 2010, que teve público de 50 mil espectadores.

Mesmo assim, Neto comemora o número de 2016, praticamente três vezes a capacidade do Estádio Urbano Caldeira, conhecido como Vila Belmiro, que abriga o Santos. “O lançamento do festival um mês antes ajudou na grande procura por ingressos”, revela. “Tivemos ingressos esgotados em 56 sessões em um universo de 94 apresentações”, conta. Foram 417 artistas participantes e 68 nomes ligados ao teatro convidados.

Veja fotos do Mirada

Esta edição foi marcada por uma grande polêmica por conta de quatro galos vivos na peça espanhola “4”, dirigida pelo argentino Rodrigo García e que abriu o evento, dia em que ainda houve gritos de “Fora, Temer” na plateia. Na segunda sessão, no dia 9, defensores dos animais fizeram protesto na porta do Sesc Santos e chegaram a interromper a peça com gritos em prol dos bichos.

Os defensores chegaram a levantar a hipótese de que os galos estariam dopados. Como observou a reportagem durante a peça, os animais tinham um comportamento estranho para sua espécie, sobretudo diante de tantos estímulos sonoros e visuais.

O Sesc Santos foi multado em R$ 2.000 pela Prefeitura de Santos, parceira do evento, por conta do uso de animais em cena, o que é proibido na legislação santista.

“Já estamos recorrendo desta multa”, informa Neto, que afirma ter enfrentado a situação “com muita tranquilidade”. “Tínhamos todas as licenças e parecer da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Buscar um encenador como o Rodrigo García é também correr riscos, mas também é trazer o novo e o reflexivo”, afirma.

Luiz Ernesto Figueiredo: "Mirada teve público de 65 mil pessoas" - Foto: Bob Sousa

Luiz Ernesto Figueiredo: “Mirada teve público de 65 mil pessoas” – Foto: Bob Sousa

“A gente estranhou que se manifestaram muito por conta dos animais e não se manifestaram por conta das crianças”, diz o executivo. Na peça “4”, além dos quatro galos, havia também em cena duas meninas, que eram vestidas e maquiadas como adultas, em uma crítica ao mundo do consumo, como divulgou o programa do espetáculo. Segundo Neto, a presença das garotas foi liberada pela Justiça e também contou com o aval dos responsáveis legais das meninas.

De todo modo, após a polêmica com os galos, o Mirada preferiu não utilizar animais em mais outras duas peças da programação que aconteceriam na sequência. A carioca “Caranguejo Overdrive”, da Aquela Companhia, fez a apresentação sem o caranguejo previsto e “Que Haré Yo con Esta Espada?”, da espanhola Angélica Liddell, não utilizou a cobra no palco de Santos.

Legado para a Baixada Santista

O gerente do Sesc Santos disse que por conta da crise o evento não conseguiu crescer como gostaria. “Mas pelo menos a gente não diminuiu”, pondera, reforçando ter mantido a presença de peças na Baixada Santista.

O festival também contou com o programa “Lixo: Menos É Mais”, do Sesc, para reaproveitamento dos materiais usados no evento, como cenários e peças de divulgação, como os cubos publicitários espalhados por Santos.

Equipe que trabalhou no Mirada no Sesc Santos - Foto: Bob Sousa

Equipe que trabalhou no Mirada posa no Sesc Santos – Foto: Bob Sousa

“Queremos investir nas pessoas, na educação, isso não vamos abandonar nunca, ainda que haja polêmicas. Vamos continuar falando com as pessoas que existem outras possibilidades, abrindo discussões reflexivas, tomando, é claro, todos os cuidados legais que sempre tomamos”, fala Neto.

“O legado do Mirada é esta proposta do contraditório, do diferente, do reflexivo. Santos e a Baixada Santista ganham maturidade com o Mirada, que ajuda na formação de público”, afirma Neto. “A população tem acesso a espetáculos seja de um estilo mais agressivo ou de um estilo mais poético. Tem uma diversidade enorme”, conclui.

*O colunista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Sesc.

Siga Miguel Arcanjo Prado no Facebook, no Twitter e no Instagram.

Please follow and like us: