Crítica: “São Paulo em Hi-Fi” imortaliza uma São Paulo de puro glamour

"São Paulo em Hi-Fi": glamour dava o tom da noite paulistana - Foto: Divulgação

“São Paulo em Hi-Fi”: glamour dava o tom da noite paulistana – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Onde foi parar aquele glamour presente na noite paulistana nas décadas de 1960, 1970 e 1980? Será que ele foi dizimado juntamente com a epidemia da Aids para todo o sempre, substituído por bate-cabelos tecnológicos e descerebrados?

As perguntas ecoam entre as entrevistas precisas e repletas de afeto do filme “São Paulo em Hi-Fi”, de Lufe Steffen, sobre o período de auge da noite gay na maior metrópole do Brasil. O longa foi lançado em DVD nesta semana e ainda segue em cartaz em cinemas de algumas capitais.

Simples e preciso, com suas entrevistas pontuadas por imagens de arquivo, “São Paulo em Hi-Fi” é o documentário brasileiro do ano.

Elisa Mascaro, dona da boate Medieval, e o cineasta Lufe Steffen - Foto: Divulgação

Elisa Mascaro, dona da boate Medieval, e o cineasta Lufe Steffen – Foto: Divulgação

O filme é conduzido com mão determinada de Lufe Steffen, jovem cineasta inquieto e cujo cérebro é uma verdadeira enciclopédia da cultura pop brasileira das últimas décadas. E ele ainda tem um faro de bom repórter que fez com que conseguisse personagens fundamentais deste tempo que se perdeu.

E, em tempos novamente tenebrosos para os homossexuais, como são os dias atuais, com políticos e líderes religiosos fazendo discurso de caça às bruxas contra a comunidade LGBT, este longa surge como uma testemunha ocular da força da criatividade e inteligência que tal parcela da população presenteia a sociedade — mundo artístico sem gays não existe, nem abertura de Olimpíada, que isso fique bem claro aos homofóbicos de plantão.

É como se o filme dissesse: quando os gays são silenciados, o mundo fica mais triste e pesado.

E tristeza não cabe em “São Paulo em Hi-Fi”, mesmo quando o filme entra pelo dolorido caminho de contar a história da epidemia da Aids, que matou muitos daqueles personagens centrais que fizeram a beleza da noite paulistana. Mesmo neste momento de dor, há uma palavra leve, uma visão bem humorada para a vida, como é típico na cultura gay.

O grande mérito do filme de Lufe Steffen é documentar este período e estes artistas para o futuro. Graças a ele e sua empenhada equipe (Taís Nardi na produção executiva, Edu Lima na direção de produção, Thaisa Oliveira na direção de fotografia, Tomás Franco e Guilherme Assis no som direto, e José Motta junto com Steffen na montagem) tais históricas não se perderam. Como aquela mais pitoresca: na qual Wilza Carla resolveu chegar à boate montada em um elefante.

Quem quiser saber o motivo de tal extravagância precisa correr para ver o documentário, imperdível e repleto de histórias inesquecíveis e, agora, imortais.

Filme: “São Paulo em Hi-Fi” * * * * *
Avaliação:
Ótimo
Direção: Lufe Steffen
Preço do DVD: R$ 40
Informações sobre salas em cartaz: perfil do filme no Facebook

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