Dois ou Um com Flávia Coelho
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Flávia Coelho é atriz do espetáculo Só Mais Uma, baseado em contos da norte-americana Dorothy Parker, sob direção de Einat Falbel e Giseli Ramos e que encerra temporada nesta quinta (16) e sexta (17), às 21h, no Teatro Pequeno Ato (r. Teodoro Baima, 78), em São Paulo. O ingresso custa R$ 40 a inteira e R$ 20 a meia-entrada. Além de atriz, ela é também pesquisadora teatral na Unesp, onde faz mestrado em artes e também concluiu sua licenciatura em teatro. Flávia é ainda assistente de direção de Julia Varley, do Odin Teatret, no espetáculo solo da atriz Marilyn Nunes, ainda em processo de montagem. Ela, que ama trabalhar com mulheres fortes e criativas, aceitou o convite para participar da coluna Dois ou Um. Dez perguntas cheias de possibilidades. Ou não.
Dorothy Parker ou Clarice Lispector?
Estou mais Dorothy, por causa da peça que estou fazendo. Eu não a conhecia antes da peça, fiquei doida com os textos dela, com a biografia. A Clarice teve seu lugar no meu coração adolescente, eu amava! Depois fui deixando de lado, lendo outras coisas e perdi a conexão que eu tinha com ela, mas tenho vontade de voltar a ler e ver como cai hoje. São mulheres importantes, escritoras que ultrapassaram as fronteiras, escreveram sobre seu tempo com uma puta sensibilidade para as relações sociais e pessoais.
Mulher que manda ou mulher que obedece?
Mulher que tem voz! Quando uma mulher fala, muitas vezes ela tem que levantar a voz, ser agressiva para ser ouvida. Acho um absurdo quando trabalho com uma diretora, por exemplo, e a equipe fica falando (às escondidas) que ela é mandona, louca, agressiva. Isso acontece sempre! Porque a posição de dirigir não é dada à mulher sem punição, vem junto muita pressão. O homem enfrenta pressão também, mas não por ser homem. O ideal seria a gente nem falar em mandar e obedecer, lido muito mal com as duas faces dessa relação. Mas… no mundo real, às vezes temos que escolher entre uma coisa e outra, escolho ser mandona, se for preciso, para ser ouvida.
Só mais uma ou só mais todas?
Só mais quantas a gente quiser!
Frio ou calor?
Calor!!! Sou do interior e adoro um sol de rachar mamona. O calor é mais democrático, para gostar do frio é obrigatório ter uma casa gostosa, um monte de roupa quentinha. O frio mata, né? Estamos vendo essa semana como a população de rua sofre com o frio, pessoas morreram sem abrigo. Aliás, cadê os abrigos para a população de rua da cidade?
Diversidade ou intolerância?
Diversidade cultural, sexual, de ideias! E tolerância.
Reza ou luta?
Luta!
Cerveja ou vinho?
Cerveja no calor, e vinho no frio.
Poesia ou resistência?
Poesia que resiste, resistência poética. Pra mim são complementares.
Priscila Toscano ou Marina Abramović?
Marina do passado e Priscila Toscano. Esse caso da Priscila me fez pensar no quanto a performance pode ser foda. Se você pensa na ação que ela participou como um fato, não é nada demais. Uma atriz/performer que faz xixi/cocô numa foto do deputado. Não dá nem uma linha no jornal. Mas o contexto em que a ação aconteceu, levou tudo a um outro nível. Soube que ela foi e tem sido ameaçada de morte, entre outras consequências bem reais, ela quase perdeu o trabalho. E isso tudo só aconteceu porque ela fez aquilo naquele momento exato, porque era importante fazer, ela mexeu no vespeiro. Fazer performance tem que ser mexer no vespeiro sempre. Por isso fico com a Priscila e com a Marina do passado.
“Talvez o tempo possa me livrar da culpa que eu não sei se vem de mim ou da cruz de Jesus” ou “mas eu tenho ainda um grande amor pra te dar, quero saber se você aceita ele como for”?
Eu tenho grande amor para lhes dar, para quem aceitar.
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