Fã vira o ídolo? Atriz celebra ser Elza Soares em “Garrincha” de Bob Wilson

Naruna Costa ganha o beijo de Elza Soares no camarim - Foto: Divulgação

Naruna Costa ganha o beijo de Elza Soares no camarim – Foto: Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

A atriz Naruna Costa tem o privilégio de poder ser no palco aquela a quem considera “a maior cantora brasileira”: Elza Soares. A fã vira o ídolo no musical “Garrincha”, com direção do norte-americano Bob Wilson, em cartaz até 29 de maio no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Na última sexta (29), Naruna viveu emoção gigante: ter Elza Soares na plateia. “Foi muito emocionante, não só pelo frio na barriga natural de representá-la, mas porque a Elza dignifica muito a trajetória da mulher negra brasileira”, afirma.

A atriz lembra que Elza ficou “em sua frente” durante a cena. “Foi divino poder sentir essa conexão. Ela se emocionou muito e isso chegou em mim. Depois, ela surgiu no camarim e falou: ‘Vem aqui, Elza’. Ela ficou muito feliz e emocionada e disse que se viu ali. Disse que ela era forte, poderosa e imponente e que minha Elza era como ela”, recorda.

Naruna Costa, do Grupo Clariô , vive Elza Soares - Foto: Zé Carlos Barretta/Divulgação

Naruna Costa, do Grupo Clariô , vive Elza Soares – Foto: Zé Carlos Barretta/Divulgação

História de um povo

“Elza Soares é a história de um povo inteiro, de tudo que vivo e acredito”, diz Naruna, lembrando que a maioria do elenco  de “Garrincha” é negra. “É uma trabalho que afirma uma dignidade da população negra. Repensa uma lógica envelhecida e combate o racismo na nossa arte. Um espaço que está sendo ocupado com muita dignidade, força e qualidade por aqueles que, há poucas décadas, nem podiam pisar num palco”, declara.

Para a atriz, nascida em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, “Garrincha e Elza Soares representam nosso povo”. “Eles são a marca legítima do resultado de um processo esmagador da população negra e indígena, desde a colonização. São o futebol, o samba, a dor, a música, a cachaça, a morte e a sobrevivência. A resistência. O Brasil”, discursa.

Jhe Oliveira e Naruna Costa: Garrincha e Elza - Foto: Divulgação

Jhe Oliveira e Naruna Costa: Garrincha e Elza – Foto: Divulgação

Bob Wilson

“É um aprendizado muito grande”, diz Naruna sobre trabalhar com o norte-americano Bob Wilson em uma “linguagem específica pouco utilizada no Brasil”. Conta que leva a experiência para sua companhia, o Grupo Clariô de Teatro, onde atua há dez anos.

Participar de uma superprodução também é novidade na vida da atriz formada na Escola de Arte Dramática da USP (Universidade de São Paulo). “Minha pesquisa está enraizada no teatro periférico, que tem uma linguagem calcada numa produção coletiva, de poucos recursos, que utiliza inclusive a precariedade como forma e pesquisa estética”, lembra.

Assim, tem oportunidade de vivenciar um outro tipo de engrenagem teatral. “Acompanhar isso de dentro é muito importante. Quebra paradigmas ao mesmo tempo que reforça uma postura com o ‘nosso’ teatro”, analisa.

Ela define a experiência em “Garrincha” como “esmagadora, no bom sentido”. E explica o motivo: “Entar no palco de Bob Wilson é estar sempre à beira de um abismo. É um trabalho minucioso e avassalador que requer muita concentração, disponibilidade e confiança. Tudo que está ali tem suas mãos, seu olhar, nada fica a esmo. Cada detalhe é muito simbólico e faz diferença. Sem contar que a equipe é maravilhosa!”.

“Garrincha”
Quando: Quinta, sexta e sábado, 21h; domingo e feriado, 18h. Até 29/5/2016
Onde: Teatro Paulo Autran – Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, tel. 11 3095-9400
Quanto: R$ 60 (inteira); R$ 30 (meia-entrada)
Classificação etária: 16 anos

“Saiu da pobreza e virou herói”, diz Bob Wilson sobre Garrincha

Please follow and like us: