Crítica: Alessandra Maestrini pulsa com coragem e poesia em Yentl em Concerto

Alessandra Maestrini em Yentl em Concerto: teatro épico-musical - Foto: Divulgação

Alessandra Maestrini em Yentl em Concerto: teatro épico-musical – Foto: Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

De repente Alessandra Maestrini surge no palco. Pede desculpas por estar atrasada. Diz que isso não acontece todo dia. O público compra a verdade da atriz-persona, de cara praticamente lavada, tal qual o branco de seu figurino.

Alessandra é bonita. E tem presença cênica inquestionável. Tem bom humor também. Bem melhor do que a maioria dos arrogantes “gênios” do stand-up contemporâneo. E sua mensagem também é muito mais potente.

Alessandra não ri do outro, mas mostra sua potência. Consegue o riso de forma ética, digna e, sobretudo, inteligente. E coloca seu discurso no palco: de respeito ao outro, de aceitação do diferente, rompendo armário repressivos.

Mas o espetáculo é um stand-up ou um musical? Yentl em Concerto pode ser tudo isso e um pouco mais, com a atriz como alguém diante de um amigo em um café, contando um causo, fazendo apontamentos.

É neste clima, entremeado por canções, que ela vai explicando por que resolveu cantar as músicas do longa estrelado por Barbra Streinsand. E vai contando aquela história de uma jovem judia com sede de conhecimento no começo do século 20. Jovem esta que lhe foi proibido o estudo, simplesmente por ser mulher, mas que se disfarçou de homem para chegar onde sonhava, mesmo que envolvida num emaranhado de acontecimentos repletos da ironia do destino.

Alessandra Maestrini conta história do filme protagonizado por Barbra Streisand, entremeada por canções - Foto: Divulgação

Alessandra Maestrini conta história do filme protagonizado por Barbra Streisand, entremeada por canções – Foto: Divulgação

Como um narrador épico brechtiano, Alessandra conduz a fábula, fazendo suas intervenções, dando sua opinião sobre a história. Tira o público do musical, acostumado à fantasia do palco mágico, para o enfrentamento questionador do teatro épico.

E quando a narradora conquista o diálogo com o público, eis que esta sede lugar à cantora, presentes ambas na mesma persona. Dona de voz potente, capaz de demonstrar extensão vocal que deixa o espectador sem fôlego, Alessandra investe na interpretação de cada sílaba, dando sentido poético e pulsante ao que ecoa em sua boca. As músicas poetizam sua narrativa.

A curta temporada em São Paulo merece retorno com mais calma. Yentl em Concerto tem fôlego para muito mais e esperamos ver a obra novamente no cartaz em 2016. Público não faltará.

O recado artístico e político de Alessandra Maestrini com este espetáculo é potente: não precisamos deixar de ser o que somos para sermos felizes e conquistarmos o que sonhamos. Pode até parecer clichê tudo isso, mas tal mensagem é estritamente fundamental em dias tão tenebrosos de repressão ao outro, ao diferente. Os aplausos vigorosos ao fim para Alessandra não são à toa.

Yentl em Concerto * * * *
Avaliação: Muito bom

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